A CURIOSA PROMESSA E O VEÍCULO LEVE SOBRE TRILHOS – VLT


SÓ FALTOU DIZEREM QUE O VLT VAI
REDUZIR AS BALAS PERDIDAS.

Blog Resuminho Básico
ERAM duas mulheres conversando, meio gordinhas. Uma disse à outra: “Se eu conseguir… (não importa o quê), prometo que vou ficar um ano sem comer doces”.

Ainda adolescente, de imediato pensei que algo não se encaixava naquela história. A senhora queria emagrecer, era evidente. Obtendo a outra coisa que também desejava faria o sacrifício de abolir os doces e… Emagreceria! Cumpriria a promessa depois de alcançada a graça – sem obrigações anteriores, portanto – e o “sacrifício” reverteria em seu próprio favor.


Fiesta Hotel

A jovem ‘encucada’ – gíria da época -, se perguntava ‘Por que não fazer doações a um orfanato, visitar asilos, ler para cegos?’. Não conhecia tal tipo de promessa. Achei que seria o mesmo que prometer ficar sem comprar roupas e pôr o dinheiro na poupança. Na própria, não na de outrem.



A história me voltou à cabeça em ocasiões recentes junto com a lembrança de um ditado popular: Farinha Pouca, Meu Pirão Primeiro! A saber.


1.    A Petrobrás foi multada em muitos milhões de reais por ter sido protagonista de um determinado desastre ambiental. Ao invés de pagar, construiu a Ponte do Saber, que liga a Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, à Linha Vermelha, Cidade do Rio de Janeiro. Nada contra a ponte: linda (projeto do arquiteto Alexandre Chan), útil, necessária. Por coincidência, no Fundão fica o Centro de Pesquisas da Petrobrás. Nada contra a ponte, repito, mas, ninguém se lembrou de construir pontes pelo Estado do Rio no lugar das muitas destruídas nas enchentes que ceifam vidas e devastam municípios. A Estatal ficou “sem comer doces”.


2.    O destino cruel que derrubou um helicóptero e levou outras vidas tangenciou o Governador do Estado. Imediatamente surgiu um Código de Ética. O Executivo estadual anunciou que “ficaria sem comer doces”. Não se sabe se a promessa foi cumprida, mas guardanapos para limpar os beiços, esses havia.


3.   Um conhecido construtor dono de extenso território na Baixada de Jacarepaguá teceu rasgados elogios à Barra da Tijuca – ‘é o futuro centro da cidade’. Quer o mesmo que Lúcio Costa quis: trocar o coração da urbe carioca de lugar. Diz que o Rio precisa rodar e que a Barra é “o futuro centro dessa ‘roda’… o Centro do Rio; (…) que não podemos continuar a discutir para onde deve crescer o Rio, mas, (…) não ter dúvida sobre isso”. Surpresa seria se fosse diferente. O empresário nunca poderia reconhecer que Barra e Jacarepaguá são bairros que nada mais suportam. Quem está preso diariamente nos engarrafamentos ‘não roda’, o crescimento urbano exacerbado da Barra e do próprio Rio afetam a cidade toda… Mas, não precisará abrir mão dos doces. O Executivo e o Legislativo municipais, que se encarregam de providenciá-los, chegaram ao apogeu nos últimos quatro anos com o PEU Vargens e com os Pacotes Olímpicos 1 e 2. O valor da terra na região deve estar na estratosfera.

4. A construção do complexo Hyatt na Barra da Tijuca – hotel e conjunto de edifícios de luxo – gerou  grande polêmica. O caso foi explicado aqui em PACOTE OLÍMPICO 2 – O HOTEL HYATT E A APA MARAPENDI. Os empreendedores vão ajudar a resolver a rede de esgotos… do hotel, e de alguns prédios vizinhos. O esgoto da área será levado ao emissário submarinoO grupo ‘deixa de comer doces’, ajuda à dieta de uns poucos prédios limítrofes, e come a Reserva Ambiental graças às bondades do prefeito e dos vereadores.



Internet


E eis que surge a manchete intrigante: “VLT pode gerar economia de até R$ 410 milhões ao ano no Rio”, referindo-se ao bolso dos cariocas e aos cofres públicos. O dado baseia-se em estudo de viabilidade técnico-econômica encomendado pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Porto – CDURP, para elaborar o edital de licitação.


Para saber sobre a redução de gastos começou-se gastando, embora a notícia não informe quanto o tal estudo custou. Mas, o Blog Urbe CaRioca quer entender como concluíram que o VLT fará os gastos com hospitais diminuírem.

Disseram que com a diminuição do número de ônibus a poluição será reduzida e haverá menos acidentes, portanto, menos cariocas sofrerão de doenças respiratórias e menos cariocas serão internados devido a acidentes! Tomara! A CEDURP não explica se o resto da cidade, ar e águas poluídos, deixarão de causar mal. Ou se os acidentados nos outros bairros serão melhor atendidos.



Jornal Extra – 2011


Note-se que, antes exclusivo nos trajetos definidos, o edital modificado já permite a coexistência de outros meios de transporte com o bonde futurista. Então, a poluição voltou antes de ir-se.


O custo é de R$1,15 bilhão. Desses, R$532 milhões virão do Governo Federal. O resto – R$618 mihões – será adiantado pelo Consórcio e a Prefeitura o reembolsará durante 15 anos. Tudo será feito dinheiro público, então. Menos a manutenção, parece. A concessão durará 30 anos.



Porto Maravilha



Que venha o VLT! Que aconteça de fato a revitalização – embora já estejam na corda bamba as Vilas de Mídia e dos Árbitros*, o alardeado projeto habitacional com 1300 apartamentos que daria impulso à recuperação da região degradada: Que fique o Rio com jeito de primeiro mundo neste pedaço; Que simplesmente, façam; Mas, que não venham com “promessas de parar de comer doces”!



Vila de Árbitros e Vila da Mídia
Ex-futuro conjunto residencial
com 1330 apartamentos

www.skyscrapercity.com
O VLT – bacana, moderno – destina-se primordialmente a qualificar a própria região, como se fosse um ‘ônibus circular’ de luxo: trará valorização imobiliária significativa tanto para os terrenos vazios da Zona Portuária, quanto para as áreas consolidadas e que podem ser renovadas.
Quanto aos R$410 milhões anuais que, afirma-se, serão economizados, resta saber que instituição realizou o estudo, quais foram as premissas, e se o mesmo está disponível no site do Porto Maravilha, de modo a que outros estudiosos possam confirmar os milagres anunciados: a futura redução de custos e a melhora na Saúde dos cariocas, esta sem investimentos nos hospitais e sem atendimento preventivo!



E que se lembrem dos que antes de chegaram ao VLT continuarão espremidos nos ônibus e no Metrô incompleto, enquanto os rios correm para o mar com o puxadinho da Linha 1 seguindo pela Ilha da Fantasia que são os bairros de Ipanema e do Leblon.


Estação São Cristóvão, Rio de Janeiro
Jornal Extra – abril 2012

*
Negócios & Cia – Flávia Oliveira – O Globo, 05/01/2013 – Mudança. A Prefeitura do Rio estuda transferir do Porto Maravilha para Jacarepaguá a Vila de Mídia e dos Árbitros dos Jogos 2016. Agora o empreendimento pode migrar para o terreno de velha fábrica da Antártica.

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