POR BOSTON


CRÔNICARIOCA

Back Bay, BostonImagem: www.wallsfeed.com
Choro por mortes, feridas e vidas que seguem para sempre levando mortes e cicatrizes, feridas n’alma. E medo. Choro por Boston. Antes que perguntem sobre África e o Mundo Árabe-Israelense, onde a matança entre Estados, Países e tribos é contínua há séculos, ou sobre estatísticas da violência no Brasil, respondo: escrevo por Boston. Contra o terror que, ao contrário daquelas guerras consentidas e nem por isto aceitáveis, escolhe seus alvos sorrateiramente. Covardemente.


Conheci a cidade em 1991 e apaixonei-me. Que linda!


Um túnel de paredes brancas, construído por baixo d’água, ligava o aeroporto ao Centro. Cheguei cedo demais para o check-in no hotel Os americanos, frios e eficientes, disseram que não havia nada que pudessem “Do for you, Madam”, só guardar minhas malas no locker, que logo aprendi o que era. Abençoado locker que me pôs na rua! Era hora do almoço.


Alguns passos e encontrei um bonito prédio de escritórios ao lado de… Um cemitério! Arborizado, lápides escuras, que eu só via em filmes de época, bem no meio do Centro Financeiro! Ponto turístico, recebia muitos visitantes! Só depois saberia que lá estavam personagens célebres da História Americana.


Mais uns passos à esquerda e encontrei um lindo parque, pessoas sentadas nos bancos e na grama comiam sanduíches, procuravam, talvez, o sol. De um lado, uma igreja colada ao Old Granary Burying Ground, o campo santo. Ao fundo uma linda cúpula dourada, o que seria?



State House
bostonadventures.com
Seguindo ao longo do parque achei o que o gentil gerente sugerira: uma espécie de quiosque com mapinhas e todas as informações sobre atividades culturais da semana. Grátis.


Outono, friozinho, céu azul claro – igual ao azul primaveril no dia da Maratona de 2013 –, munida com o mapa segui caminho. Calçadas com piso de tijolinho vermelho, talvez placas de granito, limpas, limpas! Pessoas bem vestidas, jeito de executivos de sucesso, outras mais simples, a pujança estava no ar. Senti segurança. Contornei um quarteirão e havia lojas comuns, sapatarias, lanchonetes, mais gente, burburinho, um jeito, até quem sabe, de Rio de Janeiro? Vi um palito de fósforo no chão.


Boston Common




Explore Boston



Depois de instalada, voltei à rua e ao que é o primeiro parque público dos USA, o Boston Common. O jardim público – aqui este é o significado de commom – já vazio porque todos haviam voltado ao trabalho, estava impecável. Nenhum papel de sanduíche na grama.






À noite fui conhecer Cambridge. A rua fervilhava com a alegria da juventude, como são lindos os jovens! Abraços em Harvard Square que pareciam cariocas, diziam estar com saudades assim: Long time no see!


Centro de excelência na formação profissional, Harvard é considerada a melhor universidade do mundo. Por isso tantos jovens na rua. De lá saem futuros presidentes, cientistas, juízes, prêmios Nobel…





Back Bay, Boston
orbitz.com

No outro dia contornei o Boston Common e fiz um longo passeio, também a pé, pelas ruas de Back Bay, bairro do século XIX construído sobre um aterro (lembrei-me da Urca) com ruas charmosas, cheias de luz e ladeadas por prédios baixos, arquitetura dita vitoriana, que convivem ali com poucas torres modernas. 





Vi que os tijolinhos vermelhos eram marca da cidade, seja nos prédios residenciais chiques, nas construções de Harvard, ou no chão, influência da colonização inglesa. 


Foi um prazer caminhar por Newbury Street, Boylston Street, ambiente agradável, prédios bonitos, lojas lindas, mas nada para o meu bolso. Mesmo assim tentei comprar um chapéu que protegesse as orelhas de um ventinho cortante. “Não temos, senhora, ainda não faz frio para vendermos chapéus”, respondeu o vendedor bostonian acostumado à neve, intrigado com o meu pedido.


Outra coisa me encantou: livrarias e mais livrarias, com café. As pessoas procuravam publicações, faziam um lanche, tomavam um cafezinho… E liam, liam. Bem, eu estava em terra de estudantes. Livros e café! Era o que faltava no Rio de Janeiro! Comprei um livro sobre os edifícios modernos da cidade.


Trinity Church
www.dyxum.com
Conheci o Copley Square, a Biblioteca, e igrejas de pedra, muitas… A Trinity Church se refletia na torre de espelhos, a Hancock Tower de I. M. Pei.
Quincy Market e North Market, antigos mercados com os novos usos atraem gente e garantem animação. São exemplos para a revitalização da nossa Zona Portuária.

Os tijolinhos também cobrem a fachada do Faneuil Hall que, com os outros markets, são lugares para passeios, visitas e encontros felizes.


Quincy Market
tripvow.tripadvisor.com


Faneuil Hall Marketplave
www.foodtoursboston.com



Voltei a Boston 5 anos depois para conhecer o projeto do Big Dig.


Vi duas construções que feriam a beleza urbana de Boston. Viadutos que cercavam e cortavam a cidade; um prédio feioso, pesadão, no Centro, destoava do conjunto. 


O Big Dig foi um projeto ambicioso para ser executado em 10 anos: ‘enterrar’ todos os viadutos e garantir a integração de áreas da cidade antes seccionadas, criando áreas livres e verdes na superfície, e pistas subterrâneas para carros, ônibus e metrô. As obras duraram de 1991 a 2006. Já o prédio feioso certamente continua por lá.

Era justamente a Prefeitura!


Boston. Prédio da Prefeitura.
Internet



Ao me levarem de volta no tempo as últimas e terríveis notícias fizeram lembrar como a beleza da paisagem urbana, a organização, limpeza e segurança de Boston me marcaram. Mas, não moraria na cidade, terra tão procurada por brasileiros. Não suportaria o frio, prefiro o calor carioca!


Nada sei sobre as leis urbanísticas de lá, mas imagino que haja construções preservadas. Se há algo que os americanos fazem bem é dar valor ao seu passado, à sua História. Cultivam o que é deles, incentivam o patriotismo, embora certamente haja outros objetivos além de estimular o amor-próprio, como a defesa do seu território.


Official Web Site of the City of Boston


Os heróis e as referências históricas de Massachusetts estão por toda parte, em nomes de ruas, estátuas, pontos turísticos.

A cidade têm um caminho marcado no chão, a Freedom Trail, para ser percorrido a pé pelos visitantes que quiserem conhecer os lugares dos acontecimentos históricos.






A Maratona de Boston existe desde 1897 e ocorre justamente no Dia do Patriota feriado que comemora o início da revolução contra o domínio da Inglaterra. Se em 2001 os alvos foram os símbolos dos poderes financeiro e político, agora as bombas atingiram o lugar onde se deu a formação do país.


O cemitério histórico Old Granary guarda heróis da revolução pela independência e a primeira vítima do Boston Massacre, em 1770, um menino de 12 anos, pouco mais velho do que Martin, de 8, que perdeu a vida no Massacre da Maratona, em 2013. Quanta insanidade!



Old Granary Burying Ground
Victims of the Boston Massacre
Wikipedia

A mocinha chinesa não concluirá os estudos na terra da excelência do ensino. Nem a moça de 29 anos retornará ao trabalho e à família. Outros voltarão feridos e mutilados como vindos da guerra e não de um dia festivo.


À urbe carioca, na América do Sul, só resta prestar condolências às famílias dos que se foram, solidarizar-se com a linda urbe da América do Norte, e lamentar que a insensatez e a maldade humanas pareçam não ter fim.

Até quando?


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *