Artigo: O TRANSPORTE DO RIO PELO MÉTODO PATÉTICO, de Guina Ramos

Este artigo, de autoria do cientista social e repórter-fotográfico Guina Ramos, foi publicado no blog O Rio Guina …para o Futuro! no último dia 13, portanto, três dias após a reunião ocorrida no Instituto de Arquitetos do Brasil sobre os projetos para o Centro, e quatro dias antes das primeiras manifestações populares contrárias ao aumento do preço das passagens, que derivou para protestos contra a má qualidade dos serviços de transportes públicos. Adiante, esses protestos foram ampliados para reinvindicações gerais da sociedade civil insatisfeita com atitudes, decisões, e omissões dos governantes e da classe política no exercício das funções que lhes competem.

Vale continuar no tema Transporte Público na Cidade do Rio de Janeiro. Boa leitura.

Urbe CaRioca

 

Blog Viçosa Cidade Aberta



Guina Ramos
Não dá para comentar todos os absurdos propostos ou decididos pelos governantes da cidade e do estado do Rio de Janeiro, mas alguns deles são inescapáveis…
        Que raios de projetos são estes, para os transportes do Rio, em que é possível ao prefeito, sem mais nem menos, por conta de uma reclamação pública de arquitetos, decidir pela troca dos trajetos do BRT e  do VLT, da 1º. de Março para a Rio Branco e vice-versa? Que raios de projetos são esses que aceitam uma decisão extemporânea, repentina, de um prefeito cada vez mais confuso e complicado?…

         É patético ver o prefeito dizer que a troca de trajeto entre BRT e VLT “em termos de contrato e na área de obras não faria diferença”. Isto quer dizer que o importante é que a obra seja feita, para que agrade a tantos interessados nela, só pode ser. O que não importa, então, é que a organização da cidade seja realmente a melhor possível. Até porque são obras bancadas pelo governo federal, por farta distribuição de verbas do PAC ou coisa que o valha.

Cai a máscara da argumentação de que os projetos de transportes para o Rio são frutos de decisões técnicas. Tanto há, de um lado, a imposição de propostas das empresas construtoras, que são assumidas como projetos de governo por prefeitos e governadores vendilhões, como também acontece simplesmente de, a partir de uma decisão repentina, um “ataque de autoridade” de um desses governantes, fazerem um projeto técnico para atender à sua vontade. O fato é que há bons desenhistas a serviço de uns e de outros… Basta o prefeito falar que agora vai ser assim ou a empresa tal chegar e dizer que propõe tal coisa e maravilhosos desenhos de como ficará a cidade no futuro aparecem nas mídias, nos sites oficiais, nas propagandas.

        De qual das duas maneiras foi decidida a destruição do elevado da Perimetral, a custos estratosféricos, em troca de túneis e pistas que terão praticamente o mesmo efeito?… Esse prejuízo bilionário se deve a quê?… Às exigências de empresas que querem construir prédios sem obstáculos à sua vista?… Ou a um capricho do prefeito, que quer mostrar que transformou a cidade numa coisa “limpa”?… Aliás, a tentação de botar bondinhos ao estilo das capitais europeias é, tipicamente, uma subserviência colonialista absurda para os tempos de hoje, se não fosse principalmente fruto de uma grande pressão empresarial…

         A pergunta é, de novo: que quisto urbano é este que estão criando na área do Porto “Maravilha”?…

        É só para executivos, para o alto empresariado?… Descerão em heliportos?.. Além da questionável venda de espaço “construível” (as Cepacs), para além do gabarito, que provocará um privilegiado (para os donos) “entupimento” do espaço urbano (afinal, se é tão bom assim, por que não fazem o mesmo, por exemplo, no Leblon?…) e da orientação “separatista” dos projetos arquitetônicos (grandes prédios de negócios mais “próximos” do exterior do que do restante da cidade), há a questão indecifrável dos transportes.


Quem chega na Central, como acessa, de VLT, a Praça Mauá?…
(Fonte: www.veiculoeletrico.blog.br)
            Por que não há transporte público de qualidade e porte previsto para passar por esta região?… O bondinho do VLT é uma coisa praticamente inútil nestas circunstâncias, para atendimento de massa, é um bondinho de passeio dentro de uma região que vai ter “dezenas de prédios de mais de 50 andares”, como diz a propaganda. Qual é a lógica disso?
        

Mas, assim como o prefeito tem seus “rompantes urbanísticos”, todos nós podemos opinar: vamos a uma proposta prática!


        Por que o BRT Transbrasil (no mais recente dos muitos formatos que já lhe deram) vem pela Av. Brasil e, para chegar ao Centro, “quebra” na Av. Francisco Bicalho (embolando com o trânsito da ponte Rio-Niterói), entra pela Av. Pres. Vargas (embolando com o trânsito da Tijuca e Zona Norte) e invade a rua 1º. de Março ou, agora, a Av. Rio Branco?… Por que o BRT Transbrasil não entra direto pela Zona Portuária?… Por que ele não atende ao movimento, à quantidade de pessoas que trabalharão nesta região?… Até agora, aparentemente, só os carros particulares e os bondinhos podem entrar?… 

        O ideal, certamente, será o metrô atravessando o Porto, como já proposto, mas, pelo menos, que, aproveitem bem, a favor da população, o BRT Transbrasil. E já há uma via preparada (bastam pequenas modificações) para receber este “ônibus expresso”: é simplesmente o elevado da Perimetral!… Bastará fazer algumas estações para que os passageiros desçam ao nível do solo e, inclusive, possam fazer conexão com o VLT, acessando outros trechos da área central do Rio. Só este aproveitamento do elevado da Perimetral, para uso como rota de passagem do BRT Transbrasil, já justificaria mil vezes a sua conservação.


Proposta para o BRT Transbrasil na área do Centro: via elevado da Perimetral, com retorno na Glória


Compreendendo (e aceitando) o BRT como um passo intermediário e (em alguns casos) necessário, antes da implantação do metrô como meio de transporte eficiente no Rio de Janeiro e em outras cidades (até Curitiba está trocando um pelo outro), por que não, então, estender o BRT Transbrasil, através da área do Porto, por sobre o elevado que já existe (passando pela Praça Mauá, pela Praça XV e pelo aeroporto Santos Dumont), até um retorno na área da Glória, onde se conectaria com o metrô.

É o mínimo de lógica em termos de transporte integrado. Mas, as coisas como estão atualmente se enquadram na lógica (também patética) da fragmentação dos espaços urbanos, cristalizada pelas concessões, em que cada área tem seu dono, cada dono tem seu ganho (garantido pelo Estado) e cada modal de transporte tem a sua exclusividade de demanda. E aí quem sofre é o usuário, que, muito além das vias, tem a própria vida fragmentada
           
Créditos:
Altamente louvável a participação crítica do IAB, 
como também de outras entidades profissionais, 
dentro deste quadro de “facilitação das soluções”.
          Há que se dar ainda o necessário e justo crédito, 
em relação ao título desta postagem, a Mendes Fradique, 
Na verdade o atual método de planejamento urbano no Rio de Janeiro, além de patético, é também altamente confuso…


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