ARTIGOS: PERIMETRAL – FORA DA CURVA, Jornal O Globo / SEM PLANEJAMENTO, Eliomar Coelho

No Dia do Urbanismo: Réquiem para um viaduto que nasceu como solução e, meio século depois, será eliminado. Modernidade, revitalização ou precipitação. O tempo dirá.


A HISTÓRIA DO VIADUTO – JORNAL O GLOBO




Após cerca de 60 anos do início das obras e 50 desde inaugurado o primeiro trecho, o ELEVADO DA PERIMETRAL –  construído sobre a Avenida Rodrigues Alves, Região Portuária e até o Aeroporto Santos Dumont, Centro – foi fechado definitivamente no Dia de Finados, 02/11/2013. A demolição começou um dia depois, no último domingo, com a retirada de dois pequenos trechos do “tabuleiro”, embora a Prefeitura houvesse anunciado que seria no próximo dia 17. Certamente um aviso de que a decisão era irrevogável: usar as pistas novamente seria impossível.

Hoje o noticiário informa que a implosão foi adiada para o dia 24/11. De 2013.




Foto: Ricardo Cassiano/Prefeitura do Rio de Janeiro / Divulgação
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Como afirmamos em 12/12/2102 ao divulgar ARTIGOS: A CAMINHO DO FUTURO, Jornal O Globo / A QUEM INTERESSA, Renato Cinco, do dia 26/11/2012, este Blog não opinou sobre a demolição do Elevado da Perimetral em si.

Do mesmo modo um pouco antes, em 26/6/2012, apenas reproduzimos o editorial de 18/6/2012 do mesmo jornal no post SOBRE A DEMOLIÇÃO DO ELEVADO DA PERIMETRAL, em com outras duas opiniões: CAMINHO CERTO – a opinião do O Globo – e AMPLIAR O DEBATE, de Jorge Borges.

Dissemos que “…não caberia opinar por se tratar preliminarmente de matéria afeta ao sistema de transportes – envolve questões técnicas, para especialistas, em especial sobre fluxos de veículos, capacidade, etc.”.

Quanto a outros aspectos urbanísticos e à estética, que “retirar o viaduto trará melhorias para a área, da qual ele – o viaduto – é uma das razões para a degradação; reafirma a incompreensão diante de tantas obras em execução – até túneis! -, sem que se toque no assunto ‘METRÔ’, ao mesmo tempo em que se planejam linhas de VLT (!); e repudia o paredão de prédios que poderá cobrir a visão de morros históricos e áreas preservadas, reduzindo uma das vantagens trazidas com a eliminação do elevado: a amplitude do espaço urbano”.

Quanto à relação custo-benefício diante de tantas outras obras e ações que a cidade requer afirmamos que era “… tarefa também para especialistas”; sobre a decisão política, mencionamos que o tema “não conta com a participação da sociedade nos últimos tempos”.

Há quase um ano talvez ainda coubesse o debate sugerido. Não mais.

Para completar os registros reproduzimos agora mais dois artigos a respeito do finado Elevado publicados em 05/11/2013 no mesmo jornal, que repetiu o TEMA EM DISCUSSÃO: DEMOLIÇÃO DO ELEVADO DA PERIMETRAL quando nada mais havia a ser discutido. O importante veículo de comunicação, diga-se, sempre defendeu a retirada do viaduto em nome da ‘revitalização’ da Zona Portuária, do mesmo modo que defendeu com afinco o deslocamento do píer projetado próximo à Praça Mauá, junto do Museu MAR e do futuro Museu do Amanhã.

O primeiro artigo em “Nossa Opinião” nada acrescenta: apenas pede paciência à população. A “Outra opinião” é a do vereador Eliomar Coelho.


Foto: Ricardo Cassiano/Prefeitura do Rio de Janeiro / Divulgação
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O assunto, polêmico por natureza e desejo de prefeitos anteriores, foi objeto de análises interessantes publicadas na web e em redes sociais durante o período em que alguns profissionais e interessados nas questões urbanísticas do Rio defenderam a permanência do viaduto. São exemplos mais recentes: PICOTANDO A PERIMETRAL (E IMOBILIZANDO O RIO), e PERIMETRAL, RÁPIDO COMO QUEM ROUBA… ambos de Guina Ramos; PERIMETRAL: O FIM NO DIA DE FINADOS? e PERIMETRAL: O CAOS ANUNCIADO E NÃO DEBATIDO, de Sonia Rabello.

O viés técnico-político está presente na análise divulgada na Newsletter Ex-Blog de 05/11/2013.
Também não faltaram ideias para o reaproveitamento da estrutura, seja como parque suspenso, base para instalar um VLT ou manter a função original ‘repaginando’ a enorme estrutura com iluminação e proteção acústica. Propostas podem ser conhecidas em buscas na internet.

De qualquer modo, uma decisão que envolve as redes de transporte do Rio de Janeiro – sabidamente insuficientes; um projeto de revitalização que tem o viés do mercado imobiliário; indagações sobre as prioridades da administração – afetas ao poder discricionário dos gestores públicos e sempre carregadas com alguma subjetividade – jamais deveria ser sido tomada sem todos os debates e os devidos esclarecimentos à sociedade civil.

Quanto à má estética e vantagens da retirada para a paisagem urbana não se discute: as opiniões são unânimes.

Afastados os aspectos antes abordados – de caráter técnico e subjetivo -, o fechamento e demolição do Elevado da Perimetral deveriam ser evitados até que todos os esquemas substitutos para deslocamentos estivessem prontos e em perfeitas condições de atender às demandas, ou, pelo menos, após alguns meses de testes apenas com o uso das vias feitas até hoje.

É o mínimo que se poderia esperar de gestões responsáveis.


Porto Maravilha

Seguem os artigos publicados no Editorial TEMA EM DISCUSSÃO: DEMOLIÇÃO DO ELEVADO DA PERIMETRAL do último dia 05.

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Jornal O GLOBO


O Viaduto da Perimetral foi construído (entre meados dos anos de 1950, em seu primeiro trecho, e início da década de 1970) como solução para problemas viários que começavam a se avolumar, num portão de entrada do Rio, em razão do crescimento exponencial da frota de veículos. Mas, se foi importante na engenharia de tráfego da região, ergueu-se também como um marco que consolidou fisicamente o seccionamento de uma extensa área de costeamento da Zona Portuária (e seu entorno), separando-a da vida dinâmica da cidade.
Como resultado, deu-se ou, pelo menos, agravou-se a degradação de bairros situados naquele perímetro, com especial destaque negativo para a deterioração do Porto. Adicionalmente, a estrutura de ferro e aço, serpenteando entre o início da Avenida Brasil e as imediações do Aeroporto Santos Dumont, privou os cariocas de largo trecho de paisagem banhada pela Baía de Guanabara.
Uma demanda de, no mínimo, duas décadas, a revitalização da Zona Portuária enfim saiu da intenção para a prática em 2010, quando a Câmara dos Vereadores avalizou o projeto Porto Maravilha. Trata-se de um vital programa de realinhamento da ocupação do solo do Rio, responsável por incrementar nessa região investimentos substanciais que ajudarão a reincorporar à cidade cinco milhões de metros quadrados de uma área subaproveitada ou, em não pouca extensão, abandonada. Nesse programa de revitalização e modernização não cabe o elevado, não só por seu simbolismo de solução viária ultrapassada, que se tornou deletéria, mas também pelo que essa via representa como fronteira física de degradação ambiental. Virou um ponto fora da curva.
A demolição de parte do Elevado da Perimetral, marcada para 17 de novembro, cuja primeira etapa passa pela interdição definitiva da via ao tráfego, não é a única grande intervenção prevista no Porto Maravilha. Mas é movimento crucial de um projeto que assegura benefícios urbanísticos do Caju ao Centro da cidade, passando por Santo Cristo, Gamboa e Saúde e com reflexos positivos, espera-se, na Zona Norte e subúrbios.
Por óbvio, suprimir o viaduto implicaria encontrar soluções viárias em condições de absorver o movimento de veículos da via. A prefeitura teve esse cuidado, ao construir, numa primeira etapa, a Avenida Binário, recuperar ruas do entorno, criar novos padrões de construção e outras providências. Também projetou, mais para a frente, ações adicionais que complementarão o programa de modernização da Zona Portuária.
Mudanças tão radicais no trânsito e, em sentido amplo, nos hábitos de uma região não são feitas sem sacrifícios na mobilidade da população. Por isso, é de se esperar que, num primeiro momento, a interdição e posterior demolição do elevado tragam transtornos aos motoristas. Será preciso paciência. Mas é fundamental, claro, que a prefeitura procure reduzir ao máximo os contratempos.

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Eliomar Coelho

E a realidade começa a bater à porta da prefeitura. Anos após o início do projeto Porto Maravilha, as tão bem-sucedidas operações imobiliárias não passam de promessas. E vem aí a demolição do Elevado da Perimetral. Pouco a pouco, a falta de planejamento, o resultado de tantas medidas de exceção e as reais intenções da prefeitura — e de seus mecenas do mercado imobiliário — vão aflorando e ficando cada vez mais claras.
É nítido o descompromisso com o bem-estar da população. O fechamento da via é a síntese mais perfeita do que essa gestão vem fazendo. Primeiro, aprovam leis, muitas vezes ao arrepio das normas federais e da boa técnica do planejamento urbano. Depois, ignoram todas as promessas feitas e vai tudo mudando conforme o gosto do patrão.
Agora, na hora de entregar o “produto”, a realidade mostra que não é bem assim. Os locais para onde estão deslocando as linhas de ônibus não sofreram qualquer adaptação significativa para suportar um fluxo tão grande. Os modais ferroviários nem de longe serão capazes de comportar os enormes contingentes que se deslocam todos os dias das periferias para as áreas mais centrais da capital. As barcas? Bom, a Barcas S/A colocou apenas mais uma embarcação para circular no horário de pico. Na Binário, até os consultores da CDURP reconhecem que a via não tem capacidade de suportar o enorme tráfego da região.
Obras inacabadas, sinalização ineficiente — enfim, o caos está próximo de se espalhar por toda a região metropolitana. A cidade que já tem o maior tempo médio de viagem no Brasil ruma para um recorde olímpico. Mas engana-se quem acha que isso é apenas um problema de mobilidade e que só vai afetar quem passa por ali. Os impactos dessa obra vão se alongar por vários anos. A dificuldade de deslocamento até o Centro, para os trabalhadores que moram na Baixada, no leste metropolitano e na Zona Oeste, se transformará em maiores embaraços para sustentar seus empregos.
O desemprego estrutural, gerado por esse fenômeno, levará mais empobrecimento para as áreas periféricas de nossa metrópole. É uma cadeia de impactos sistêmicos que jamais foi “simulada” pelos técnicos a serviço da prefeitura. Nem os Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental, que são exigidos por lei em projetos desse porte, e teriam como averiguar parte desses processos, foram feitos.
É no mínimo estranha a postura do Ministério Público de apenas solicitar “novos estudos e avaliações”, quando seus próprios assistentes técnicos flagram tantos crimes de responsabilidade. Esses estudos deveriam ter sido feitos há quatro anos! Agora que não tem mais volta, é preciso arguir as responsabilidades técnicas e políticas pelo caos que será imposto à nossa população.
Pelo que temos visto, não se trata de mera demolição de equipamento público. É a demolição da própria Res Publica que está em jogo.

Eliomar Coelho é vereador no Rio pelo PSOL


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