PEDRAS PORTUGUESAS E “SEU LÉCIO”: UM CALCETEIRO CARIOCA

CrôniCaRioca

Falar sobre pedras portuguesas no Rio de Janeiro é atrair polêmica, na certa. Há quem as odeie e quem as defenda. O Urbe CaRioca está no segundo grupo: é apaixonado pelas calçadas do Rio revestidas de pedras portuguesas, sejam lisas ou formando lindos desenhos. São herança da terrinha, de lá onde estão as nossas raízes lusitanas. Vieram depois do calçamento pé-de-moleque e do calçamento português constituído de pedras gigantescas de granito rejuntadas com pedras menores, que ainda existem em alguns bairros.
Trecho de PEDRAS PORTUGUESAS E CARIOCAS
O Globo
No artigo PEDRAS PORTUGUESAS E CARIOCAS (20/07/2012) tratamos das calçadas características do Rio de Janeiro revestidas com mosaicos, padrão que herdamos dos nossos irmãos de além-mar e antigos colonizadores, os portugueses.

Em Portugal as pedrinhas também têm causado polêmica e discussões, como contamos em É UMA PEDRA PORTUGUESA, COM CERTEZA! (15/04/2014), assunto que atravessou o Atlântico e voltou ao Rio conforme entrevista do arquiteto Pedro Homem de Gouveia ao jornal O Globo em junho passado.
Entre a admiração de uns pelos tapetes preto e branco – às vezes rosados – e o desagrado de quem tropeça em pedras soltas, buracos, e irregularidades, as pedras resistem na urbe carioca.

Encontramos um legítimo calceteiro ‘carioca’, o Sr. Lécio Fernandes, ou “Seu Lécio” como é conhecido. Abaixo, o agradável bate-papo que o blog teve com esse profissional apaixonado pelo trabalho e pelos os desenhos que produz.

Depois da entrevista, não perca o vídeo PROMO 8 MIN MAIARA divulgado no canal Youtube por Maiara Líbano (junho/2015), produção de Urbano Filmes, e no blog Arquitetura, Cidade e Projeto.

Vale conhecer também o artigo A Calçada Portuguesa, publicado do site archdaily (março/2015).

Urbe CaRioca
Sr. Lécio, calceteiro ‘carioca’
Foto: Urbe CaRioca, setembro/2015

Rio de Janeiro, 04/09/2015

Urbe CaRioca – “Seu Lécio”, há quantos anos o sr. é calceteiro?

Sr. Lécio – Há 53 anos. Comecei com 20, então, tenho 73 anos.

Urbe CaRioca – O sr. é do Rio de Janeiro?

Sr. Lécio – Nasci em Minas, em São José de Além Paraíba (Minas Gerais), vim para o Rio com 16 anos, trabalhei no depósito de uma carvoaria, com 19 anos servi ao Exército.

Urbe CaRioca – Quando e com quem o sr. aprendeu a trabalhar com pedras portuguesas?

Sr. Lécio – Depois do Exército fui trabalhar em uma empresa de construção que só fazia mosaicos de pedra. Os donos eram portugueses Aprendi em uma semana com o mestre de colocação de desenhos. Trabalhei em duas empresas.

Urbe CaRioca – Então agora o sr. trabalha por conta própria? Ensinou seu ofício para alguém?

Sr. Lécio – Trabalho por conta própria há 10 anos, junto com meus quatro filhos. Adoro fazer desenhos com as pedras.

Sr. Lécio e Adriano
Foto: Urbe CaRioca, setembro/2015
Urbe CaRioca – Quais as obras principais onde o sr. trabalhou?

Sr. Lécio – Ah! Foram muitas obras, para construtoras, condomínios, restaurantes, shoppings… Gomes de Almeida, Servenco, Agenco… O Shopping 2000, em Ipanema, eu fiz; o Norte Shopping; calçada da Sernambetiba; de Copacabana na Avenida Atlântica… No último prédio da praia tem uma calçada com uma bola e muitas ondas. Deu muito trabalho para fazer! Eu gosto de fazer desenhos.

 _ “Ficou lindo!”, diz um dos filhos, Adriano, que participa desta entrevista (Sr. Lécio refere-se à calçada em frente ao antigo Hotel Cassino Atlântico, hoje Sofitel).

Urbe CaRioca – Qual é o seu segredo para as calçadas ficarem sempre bonitas e bem-feitas?

Sr. Lécio – É rejuntar as pedras “no rodo” e passar camurça. Tem que lavar com areia. Antigamente as pedras vinham melhores, mais certinhas, hoje em dia é mais difícil. Mas, o principal é ter amor ao trabalho. Se o profissional não tiver amor não vai fazer bem-feito.

Urbe CaRioca – Muito obrigada e parabéns pelo seu trabalho!

De Maiara Líbano. Produção: Urbano Filmes
Youtube

    1. Prezada Andréa,
      Obrigada pela mensagem. O telefone do Sr. Lécio e de seu filho é 21-99068 1576. Não tenho tido contato com eles recentemente, por isso não posso assegurar que o número seja o mesmo. Ab.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *