DEMOLIÇÕES 4 – CASA DE PEDRA, PACOTE OLÍMPICO 1, HOTÉIS E BENESSES

“Se Janot analisou muito bem A Esquizofrenia do Poder, pedimos licença para lançar o sub-tema que nos preocupa – A Compulsão Hoteleira -, desejando, sinceramente, que haja demanda pelos milhares de quartos oferecidos na Cidade Maravilhosa e para que os hotéis novos fiquem repletos para muito além dos 60%  de ocupação atingidos durante a Copa das Confederações* e da Jornada Mundial da Juventude. Que o aumento extraordinário do valor das diárias dos hotéis para a época Copa do Mundo, como tem sido anunciado, não assuste os futuros hóspedes”.



HOTEL NACIONAL, São Conrado, Rio de Janeiro
Internet





Há algumas semanas um famoso colunista informou que coqueiros de um terreno que fica na Praia de Botafogo – vazio há anos e usado como estacionamento – seriam cortados, preparação do campo ( não o de GOLFE, O FAMIGERADO) para a construção de mais um hotel. A nota não nos surpreendeu. Quanto aos coqueiros, coitados, nada a fazer. Por certo foram plantados em tempos recentes apenas para proteger os carros do sol. Obviamente não seria caso de proteção de nenhuma espécie.


Outros imóveis que resistiam à renovação urbana finalmente sucumbiram. Se não havia interesse em vendê-los, ou questões jurídicas e familiares impediam a realização de negócios imobiliários, ou até constituíssem reserva de mercado intencional, fato é que, de repente, tudo foi contornado. As benesses do Pacote Olímpico 1 resolveram  todo e qualquer impedimento ou desejo de manter imóveis a salvo das retroescavadeiras.

As duas últimas casas da Avenida Atlântica foram abaixo. Terrenos vazios há décadas serão finalmente ocupados. Prédios pequenos serão substituídos por outros maiores. O retorno financeiro passou a ser interessante.

Se um dia esse quadro mudar – tomara que não – será fácil resolver: a compulsão hoteleira já terá construído mais de 50 hotéis novos no Rio. Bastará pedir a transformação de uso para prédio residencial ou de escritórios. Uma ‘leizinha’ nova providenciará a permissão que o pacote Olímpico 1 hoje veda: condição-disfarce estabelecida pela lei perniciosa, porque não há controle sobre tal futuro. 

De todos os benefícios, o destinado ao antigo Hotel Nacional foi o mais espantoso. Para dar viabilidade ao negócio autorizou-se a construção de uma torre de escritórios onde o zoneamento não permitia. Mas, tudo indica que o imbróglio jurídico que cerca a torre cilíndrica seja mais forte do que o presente contido no Pacote.

A casa rosa e a casa de pedra não existem mais. Nem outros prédios menores nas ruas internas de Copacabana. Nem o simpático art-decò que ficava na orla do Leme.  Na Barra da Tijuca deveriam trocar a placa “Sorria, você está na Barra” por “Sorria, a vista da Barra vem logo depois do hotel novo”. Só o Nacional continua como estava: fechado. Até hoje nada aconteceu, nem com a benesse urbanística extrema a ele concedida.

As explicações sobre os benefícios especiais estão nos textos anteriormente divulgados neste blog.

Quanto ao futuro das construções gravadas com o uso eterno de hotel, só o futuro dirá. Dizem que eterno só Deus. No Rio de Janeiro, Deus tem concorrentes: os hotéis erguidos com as benesses olímpicas.

19/07/2013 DEMOLIÇÕES – O NOVO NO LUGAR DO EXISTENTE E O PATRIMÔNIO CULTURAL CARIOCA 

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NOTA: Ontem o Jornal O Globo noticiou que o prefeito enviou à Câmara de Vereadores projeto de lei para a concessão de benefícios fiscais com vistas à construção de habitações na Zona Portuária. Mais uma vez, para tentar corrigir erros “urbano-cariocas” mais do que anunciados – neste caso, a ausência de áreas residenciais no projeto megalômano daquela região abandonada durante décadas devido a rixas políticas – anuncia-se a fórmula do incentivo fiscal. Mais uma vez, como no caso dos hotéis, abre-se mão de verba pública. O governo renuncia a receitas que deveriam ser usadas em benefício do cidadão, para consertar – na sua visão – as próprias decisões tomadas com base nos interesses do mercado imobiliário.

Como já foi dito neste blog, falta de aviso não foi. V. ZONA PORTUÁRIA SEM HABITAÇÃO + HOTÉIS = PACOTE OLÍMPICO 1

“Quanto à falta de habitação na região do Porto, o alcaide agora pretende ‘consertar’ a opção feita deliberadamente como declarado. Falta de aviso não foi (v. a opinião do presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB em ARTIGOS: ZONA PORTUÁRIA – OUTROS PONTOS DE VISTA e o post O PACOTE OLÍMPICO 2 E A ZONA PORTUÁRIA).”

  1. Prezado Átila Costa,
    Obrigada pelo comentário. Vejo que tem profundo interesse pelos assuntos abordados. Confesso que não compreendi algumas frases. Por exemplo, a que menciona os jornais. Talvez concorde com um ou outro aspecto apontado. Certamente quanto aos adjetivos usados para os textos acho que haveria outros mais adequados. Vou reler suas considerações e preparar uma resposta para o que achar necessário. Ainda não sei se a publicarei aqui mesmo ou se vou transformá-la em um post. Duas coisas: (1) Concordando ou não com as opiniões e formatos adotados, você já instigou o debate, objetivo do blog; (2) Nada há para ser perdoado, por favor!
    Uma pergunta: a que texto se referiu quando mencionou "buscar em todo texto a profundidade da ideia" ?
    Ab.
    Andréa

  2. Querida Andréa,

    Seu blog é muito organizado, apresenta temas interessantes, mas uma coisa me impediu de explorar as matérias e participar na construção de idéias para um Rio de Janeiro melhor – objetivo de (quase) todos os carioca, a acidez dos textos! Em grande parte, sarcástico, obtuso e sisudo. Quando se está longe do Rio vemos que todo carioca "tem absoluta certeza de como resolver os problemas da cidade", sem nunca ter analisado as situações pela ótica da imparcialidade, de fora. Tem uma opinião fundamentada em paradigmas que a muito tempo não deram certo em outras cidades e países. Hoje as cidades modernas e competitivas buscam atrair investimentos da iniciativa privada, os quais têm recursos para gerar emprego, renda, impostos, circulação de mercadorias, prestação de serviços e principalmente organizar o espaço urbano, melhorando a qualidade de vida dos cidadãos. O carioca oscila sua aderência ora ao viés ideológico hipócrita-socialista (apoiando todo e qualquer movimento contra a organização pelo Estado), ora ao que melhor lhe convém como cidadão classe média! Quer qualidade de transporte público para todos, desde que seu carro continue a passar pela Perimetral! A despeito de o elevado ter sepultado a história do Rio de Janeiro, juntamente com o seu Mercado Municipal, o marco zero como centro urbano… O carioca dos dias atuais, não sabe de onde veio, não conhece a sua história, não tem identidade e consequentemente, não sabe o quer porque não sabe para aonde ir. É uma massa ao sabor (vontade) das manchetes dos jornais. Por isso, ao ler o seu blog não percebi nada novo do conteúdo de O DIA, EXTRA, O GLOBO. Mas também ser que eu esteja errado por não ter tido a paciência necessária para buscar em todo o texto a profundidade da ideia. Se isto ocorreu, por favor, me perdoe!

    Respeitosamente

    Átila Costa

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