Artigo – MARINA DA GLÓRIA: LICENÇA PARA MATAR ÁRVORES, de Canagé Vilhena

MARINA DA GLÓRIA, JANEIRO/2015.
Crédito: Sérgio de Garcia


No último fim-de-semana teve início mais um movimento da sociedade civil diante dos novos desmandos do poder público em nome dos Jogos Olímpicos, nesta Cidade do Rio de Janeiro em que “Tudo é pra Olimpíada“.

Em sequência ao Ocupa Golfe, que tem dado visibilidade nacional e internacional ao escandaloso caso da obra de um Campo de Golfe dito Olímpico, em construção na Área de Proteção Ambiental de Marapendi – eliminando parte significativa do Parque Municipal Ecológico Marapendi, uma reserva ambientalque vem sendo implantada há meio século – agora é a vez do Ocupa Marina da Glória, um protesto contra o corte de árvores executado no Parque do Flamengopara a construção de um estacionamento, previsto em um novo projeto para o local. O arquiteto Canagé Vilhena apresenta suas considerações sobre o assunto no artigo abaixo.

Não é a primeira vez que o uso e a ocupação esse espaço público, tão cobiçado pela iniciativa privada, estão à beira de serem desvirtuados.

NOTA: Correm dois abaixo-assinados nas redes sociais pela proteção do Parque do Flamengo.

O primeiro que será encaminhado ao MPF-RJ, pede o embargo da obrasSegundo os organizadores “O tombamento do Parque está sendo desrespeitado por uma obra que não tem as licenças regulares, foi feita sem consulta em audiência pública e é tocada por uma empresa que recebeu a concessão da Prefeitura sem a devida licitação. A obra derruba centenas de árvores tombadas e desvirtua a destinação do parque estabelecida pela lei”. Iniciado em 01/02/2015, já tem mais de 1500 assinaturas.

O segundo, com o título Não Destruam o Nosso Parque será encaminhado ao IPHAN. A ementa diz “Nos últimos dias, por trás de tapumes, foram cortadas 300 árvores do mais importante parque do Rio de Janeiro, o Aterro do Flamengo. Esta área que é um presente para cidade, foi ignorada pelas autoridades federais, estaduais e municipais, que permitiram este crime ambiental. O Parque do Flamengo é uma joia verde na cidade do Rio e um bem sabiamente tombado, para que assim se preserve. O dano ora causado ao patrimônio protegido, não poderia ter sido permitido pela autoridade federal que tutela este patrimônio, o IPHAN. Na sua descuidada aprovação do projeto para a área da Marina da Glória, não há permissão para o corte de árvores. Elas são parte do tombamento. Exigimos a total e imediata recomposição do projeto paisagístico e de todos os espaços que foram degradados, tendo como referência o projeto de 1965, quando o Parque foi tombado. O PARQUE DO FLAMENGO É DO POVO! NÃO PERMITAM QUE ELE SEJA DESTRUÍDO”.


Boa leitura.

Urbe CaRioca

MARINA DA GLÓRIA, JANEIRO/2015.
Crédito: Sérgio de Garcia


MARINA DA GLÓRIA: LICENÇA PARA MATAR ÁRVORES

Canagé Vilhena*

Alguém está mentindo.

Não acredito que, neste caso, seja o povo.

O arquiteto responsável pelo órgão que tem o dever de proteger o patrimônio histórico do município, afirmou ao jornal que “se surpreendeu com a grande quantidade de árvores a serem cortadas, mas garantiu que as intervenções não afetam espécies do projeto paisagístico original”.

Também lembra que “a remodelação da Marina foi amplamente debatida com a sociedade civil e passou por diversos conselhos.”.

E o que pensa a “sociedade civil”? Seria uma sociedade anônima?

O que significa passar por “diversos conselhos”?

Absolutamente nada, haja vista que o Conselho de Política Urbana (COMPUR) e o Conselho de Meio Ambiente (CONSEMAC) fazem apenas figuração, vendo a banda da Prefeitura passar arrasando pareceres técnicos: sem poder deliberativo nada podem fazer, além de tomar conhecimento das decisões superiores em matéria de política urbana e ambiental.

E quem garante que serão replantadas novas árvores, se não há controle efetivo desta “contrapartida”? A COMLURB? Piada!

Se já havia “30 árvores mortas” no local é porque não há manutenção da arborização, assim como não se garante a eficácia do replantio.

Ao que tudo indica a “revitalização” (?) da Marina da Gloria é mais um olímpico projeto contra o interesse público, contra a proteção do meio ambiente e contra a proteção do patrimônio paisagístico e cultural, assim como é o Campo de Golfe.

02/02/2015


*Canagé Vilhena é Arquiteto e Urbanista

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1 – Abaixo-assinado que pede ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro o embargo das obras que estão em andamento na Marina da Glória, com a seguinte ementa. Para assinar, o link está AQUI.
2 – Outro abaixo assinado será encaminhado ao IPHAN Tem o título Não Destruam o Nosso Parque. Para assinar, o link está AQUI.

2 – Artigo de 2011 recupera historia do projeto da Marina da Glória: Marina da Glória, sobre a constituição do lugar e sua transformaçãoem gueto, de Luiz Felipe M. C. DE SOUZA e Maria Cristina CABRAL – 9º Seminário Docomomo Brasil – Interdisciplinaridade E Experiências Em Documentação e Preservação do Patrimônio Recente. Brasília. Junho de 2011(arquivo PDF).
3 – Novo artigo de Sonia Rabello: No Rio, a escandalosa mutilação do Parque do Flamengo, publicado originalmente e, 02/02/2015 no site www.soniarabello.com.br

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