PÉS-DE-MOLEQUE: VISÃO DE PAULO CLARINDO E OLÍNIO COELHO, E UM ABAIXO-ASSINADO PELO RIO DE JANEIRO

Rua da Constituição, Centro, Rio de Janeiro
Foto: Marconi Andrade, 04/10/2015


As obras para instalação do VLT e as escavações na Praça XV, no Centro do Rio, revelaram calçamento antigo de pedras irregulares conhecidos por “pés-de-moleque”. A descoberta tem sido objeto e debates nas redes sociais e foi tema de várias postagens neste blog, inclusive ontem com PÉS-DE-MOLEQUE DO RIO ANTIGO – PASSADO REVIVIDO, RIO A PRESERVAR ilustrado com imagens de Marconi Andrade.

Também ontem começou a circular pela internet umabaixo-assinado que lembra às autoridades que “Temos uma chance de preservar um pouco dessa História” e que “Para isso soluções urgentes devem ser pensadas e propostas, para que futuro e passado possam conviver em harmonia”.

Abaixo transcrevemos a mensagem que consta no abaixo-assinado, o LINK para participar, e considerações dos professores Paulo Clarindo e Olínio Coelho sobre o assunto.

Convidamos todos os cariocas e amigos do patrimônio cultural a participar!

Urbe CaRioca

 

Rua da Constituição, Centro, Rio de Janeiro, e o VLT
Fotomontagem: Joãodoapex Rio

CALÇAMENTO DA RUA DA CONSTITUIÇÃO – UM MUSEU A CÉU ABERTO

Para: Sr. Prefeito do Rio de Janeiro, Sr. Presidente da Câmara Mun. da Cidade do Rio de Janeiro, Sr. Secretário Mun. de Urbanismo, Sr. Presidente do IRPH e do Conselho Mun. de Proteção do Patrimônio Cultural e Sr. Presidente do Instituto Mun. de Urbanismo Pereira Passos
As intensas obras que a Cidade do Rio de Janeiro vem passando, especialmente no Centro, têm revolvido sua História de maneira nunca antes vivenciada. As transformações na Zona Portuária revelaram o Cais do Valongo, onde teriam desembarcado os escravos trazidos da África, e também a Imperatriz Tereza Cristina. O cais descoberto foi preservado e é hoje um espaço incorporado definitivamente aos roteiros turísticos e culturais da cidade.

A nova descoberta que se apresenta são os caminhos descortinados pela passagem do Veículo Leve sobre Trilhos – VLT: calçamentos “pé-de-moleque”, marcas de residências, canhões soterrados, e até um poço, foram encontrados no coração do Rio, em plena Avenida Rio Branco. Na Rua da Constituição a recente descoberta de um extenso calçamento permite vislumbrar o que foi o Rio Imperial. Por essas pedras trafegavam cavalos, charretes, mascates…um verdadeiro museu a céu aberto que se descortina para as gerações atuais e futuras.

Temos uma chance de preservar um pouco dessa História.

Para isso soluções urgentes devem ser pensadas e propostas, para que futuro e passado possam conviver em harmonia.

Convocamos a todos os interessados na história do Rio de Janeiro a assinar pela preservação do calçamento descoberto na Rua da Constituição. Acreditamos ser possível uma solução que permita reunir os investimentos em mobilidade com preservação do patrimônio. E consigamos assim chegar um pouco mais perto da cidade que sonhamos viver.



Slide-show com fotos de Marconi Andrade


CONSIDERAÇÕES DO PROF. PAULO CLARINDO E DO PROF. OLÍNIO COELHO

Prof. Paulo Clarindo

Prezados amigos do S.O.S. PATRIMÔNIO,

As obras do VLT no Centro do Rio de Janeiro, ao longo da Avenida Rio Branco e das ruas da Constituição e Sete de Setembro, nos revelaram vestígios arqueológicos que retratam um pouco do passado histórico da cidade, que este ano está completando 450 anos, quase meio século. O que está chamando a atenção dos mais curiosos ou estudiosos do assunto, após a descoberta dos trilhos de bondes, é o calçamento de pedra em pé de moleque, que na Rua da Constituição prolonga-se por quase toda a via. Porém, pelas últimas imagens registradas pelo amigo Marconi observa-se que a empreiteira contratada pela prefeitura já está na fase de concretagem do trecho dessa rua, soterrando-o de vez. Esse calçamento só será lembrado pelos transeuntes e curiosos pelos registros fotográficos.

A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro já deveria ter sabido que importantes vestígios arqueológicos seriam encontrados ao longo das obras do VLT na área central da cidade. Aonde quer que se escave o passado tanto colonial quanto dos séculos XIX e XX virão à tona. Não há como negá-lo, não há como ignorá-lo. Marconi observou arqueólogos trabalhando no trecho da Rua da Constituição. Também os vi nessa rua e no trecho da Sete de Setembro. Mas, sinceramente falando, eles estão ali e acolá por força da legislação de patrimônio e de preservação dos sítios arqueológicos. 

Não acredito que vão comprometer o andamento das obras com relatórios ressaltando a importância de um estudo mais acurado e de preservação dos achados. Aliás, aqueles calçamentos de pé de moleque são considerados sítios arqueológicos. Portanto, pelo que conheço, deveriam ser melhor estudados e documentados antes de qualquer tomada de decisões. Ficam, porém, as manifestações de indignação quanto ao destino dado ao calçamento de pé de moleque, ou seja, a concretagem para dar passagem, brevemente, ao VLT.

Faz-se necessário deixar bem claro que todos nós não somos contrários ao progresso, à vinda do VLT – este, por sinal, vem atender à demanda por transporte público no Centro do Rio – , todavia, que esse progresso viesse acompanhado de mais transparência, além de uma audiência pública acerca do que fazer com as descobertas arqueológicas aqui mencionadas. Nunca é demais lembrar que não estamos mais no tempo da Belle Époque Carioca ou do Bota-Abaixo, se preferirem. A atual Carta Magna é bem esclarecida quanto à questão envolvendo o Patrimônio Cultural e o direito ao exercício de cidadania. 

Obras de grande impacto não deveriam ser realizadas sem o acompanhamento de uma ampla discussão. Sem falar das constantes interferências no trânsito da cidade. Enfim, tudo isso mexe com os nossos brios. Não conseguimos ficar calados diante de interferências que comprometam a integridade física de prédios históricos ou que destruam sítios arqueológicos, tudo em nome do progresso e da Modernidade. Já vimos esse filme antes. Abraços,

Professor Clarindo – AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL

… 
Prof. Olínio Coelho

Com toda razão. Os entes responsáveis pela preservação do patrimônio cultural da Cidade deveriam fazer um registro acurado de toda essa pavimentação, com indicação de materiais, formas, técnicas construtivas e desenhos específicos em cada logradouro, com o levantamento gráfico e fotográfico, para digitalização e acesso a toda a sociedade carioca.
Acredito que tais serviços estejam sendo realizados pelos órgãos competentes da Cidade.

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