BRT TRANSCARIOCA, UM LEGADO PARA QUEM? de Hugo Costa

Transcarioca, Lote 2. Imagem: Google Earth
 

A via expressa para BRTs Transcarioca já frequentou as páginas deste blog em SEMPRE O GABARITO, 2014, ÁREA DE ESPECIAL INTERESSE URBANÍSTICO A.E.I.U. TRANSCARIOCA – GABARITOS, ETC. e TRANSCARIOCA, BRT, METRÔ E GABARITOS, entre outras postagens com foco na mudança nas leis urbanísticas da região abrangida pela via, com vistas a aumentar o potencial construtivo dos terrenos lindeiros.

Neste artigo o geógrafo Hugo Costa, entre outros aspectos, reúne notícias da grande mídia que questionaram o custo da obra e relata as más condições e abandono das áreas atingidas pela avenida (v. imagens), cujo traçado também “utilizou-se de áreas Verdespraçasquadras de esporte e jardins”. No final do post está o vídeo de reportagem em canal de televisão.

Boa leitura.
Urbe CaRioca
Nota: A Transcarioca abrange os bairros Acari, Barros Filho, Bento Ribeiro, Bonsucesso, Brás de Pina, Campinho, Cascadura, Cavalcanti, Cidade Universitária, Coelho Neto, Colégio, Complexo do Alemão, Costa Barros, Engenheiro Leal, Galeão, Guadalupe, Higienópolis, Honório Gurgel, Irajá, Madureira, Maré, Marechal Hermes, Olaria, Osvaldo Cruz, Penha, Penha Circular, Praça Seca, Quintino Bocaiúva, Ramos, Rocha Miranda, Tanque, Turiaçú, Vaz Lobo, Vicente de Carvalho, Vila da Penha, Vila Kosmos e Vila Valqueire.
 
Imagens na Barra da Tijuca – Internet
Imagens no bairro de Ramos – autor: Hugo Costa
  
BRT Transcarioca, um legado para quem?
 Hugo Costa*
O projeto de Bus Rapid Transit (BRT) Transcarioca consistiu em construir um corredor exclusivo de ônibus articulados entre a Barra da Tijuca e o Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Transversal a malha de transportes da cidade, o corredor atravessa bairros litorâneos, considerados mais nobres, e os antigos e tradicionais – porém esquecidos pelo poder público – subúrbios da zona norte da cidade. A obra dividiu-se entre Lote 1, correspondente ao antigo projeto da década de 60 – Corredor T5- ligando a Penha e a Barra da Tijuca, e o Lote 2, com projeto e execução feitos entre 2010 e 2014, seguindo da Penha até o Aeroporto.
Uma ex-integrante do conselho do consórcio formado pela OAS, Carioca Engenharia e Contern, responsável pelas obras da Transcarioca, relatou recentemente  que o contrato de 500 milhões de reais para fazer o lote 2 da obra teve propinas: 1% do valor da obra ao Tribunal de Contas Municipal (TCM), outro 1% ao então Secretário Municipal de Obras, e 3% aos fiscais do Ministério das Cidades. Em sua defesa, o TCM disse desconhecer a autora do relato, e informou que graças ao seu trabalho o projeto do lote 2 do BRT Transcarioca poupou 6 milhões aos cofres públicos. O ex-Secretário de Obras Públicas da Prefeitura do Rio, não se manifestou a respeito.
Não é a primeira vez que o TCM fala sobre custos do BRT Transcarioca: Como a obra começou pelo Lote 1 e em área nobre da cidade, depois avançando pelos subúrbios cariocas, o primeiro trecho na Barra da Tijuca gastou 66 milhões reais a mais do que previsto e assim o TCM em 2014 definiu que este valor deveria ser devolvido aos cofres públicos.
Mas como se devolve este dinheiro já gasto? Economiza-se no Lote 2 que ainda não estava pronto?
O projeto original do lote 2 era seguir pela Estrada Engenho da Pedra nos bairros de Olaria e Ramos, devido ao trajeto da via em linha reta da Penha em direção ao Aeroporto, e previa também a desapropriação de 400 imóveis neste logradouro, o que geraria custo em desapropriação. No período o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) pediu à Prefeitura que sugerisse outro trajeto que fosse menos impactante ao cenário socioambiental da região. A Prefeitura do Rio prontamente indicou outro traçado que reduziria também custo em desapropriações. O novo projeto foi aprovado pelo INEA antes de sua gestora ser convidada a presidir IBAMA.
Neste novo projeto, utilizou-se de áreas Verdespraçasquadras de esporte e jardins no trajeto reduzindo custo e ao mesmo tempo atendendo ao pedido do INEA. Objetivos estes atendidos, a qualidade da obra ficou duvidosa, permitindo situações constrangedoras à populaçãoque poderia expor os cariocas ao risco de morte ou de doenças. Isto aconteceu apesar da avaliação no Relatório Ambiental Simplificado da própria Prefeitura, que constava: 
As praças, segundo os dados do IPP, são o tipo de espaço público mais comum nos bairros estudados, nas quais a população pode encontrar brinquedos infantis, quadras de esporte, bem como realizar atividades de comunhão social. A ausência de parques em todos os bairros e a ausência de jardins em Ramos, Olaria e Penha – bairros densamente habitados – nos revela que as praças são os espaços fornecidos pelo Estado para a socialização. No entanto, essas ainda se mostram em quantidade insuficiente, considerando as necessidades locais. ” 
Secretaria Municipal de Obras Coordenadoria Geral de Obras 5ª Gerência de Obras
Utilizaram-se essas áreas livres, também, em conflito com a Lei Orgânica do Município:
Art. 235 As áreas verdes, praças, parques, jardins e unidades de conservação são patrimônio público inalienável, sendo proibida sua concessão ou cessão, bem como qualquer atividade ou empreendimento público ou privado que danifique ou altere suas características originais.
A delação cita diretamente ao TCM e à Secretaria de Obras do então prefeito (que já fora citado na Lava-Jato) para este trecho da obra. A mídia considerou este trecho da obra “uma gambiarra”. 
Cabe à população agora lidar também com este “Legado Olímpico”, que parece simbolizar exatamente a cultura política carioca: acusações de desvios financeiros, obras com qualidade duvidosa e péssimos indicadores ambientais. Criou-se assim um novo campo de Clientelismo Eleitoral para os políticos nas correções necessárias das obras distribuídas pela cidade: mais um item da lista que até hoje tem uma ciclovia a beira mar não preparada para a ação do mesmo ao custo de 40 milhões de reais, dois parques olímpicos na Zona Oeste fechados ou inúteis e uma grande dívida de mais de 60 milhões de reais com um novo modelo de transporte, o VLT.
Isto tudo numa Olimpíadas prometida como sem deixar Elefantes Brancos.
*Hugo Costa é Geógrafo
 
Reportagem no canal de televisão SBT disponível no Youtube

 

  1. Como trata no texto, em alguns bairros houve a desvalorização. Ramos que sofreu com o improviso utilizando-se de áreas verdes e praças, perdeu ainda mais os poucos atrativos. Ainda concilia-se isto agora ao fácil acesso ao bairro de pessoas de má índole da Maré e do Alemão, devido a "gratuidade" do transporte que o BRT fornece.

  2. Os bairros citados foram apenas mais uma mentira de nosso ilustríssimo ex prefeito. O Transcarioca nunca passou em Bonsucesso, mas usa-se este argumento no AEIU d Transcarioca.
    O Projeto do AEIU Transcarioca nunca foi votado pelos vereadores do Rio, então nada mudou oficialmente nos gabaritos.

  3. A via teve pouco impacto na melhora de alguns bairros, infelizmente. Só os bairros que já eram valorizados antes da via, teve uma leve melhora na economia local. Quanto ao gabarito, percebi que alguns bairros como Irajá, Vicente de Carvalho (no lado do Atacadão), Vista Alegre e adjacências, teve um aumento na construção que fez levantar dezenas de edifícios acima de 10 andares. Mas em Vaz Lobo, tem um conjuntos de prédios que acabaram de ficar prontos, não teve sucesso de vendas e não abriu nenhuma loja no térreo, ou seja, a Transcarioca não valorizou o bairro. O garoto propaganda do prédio era o compositor Arlindo Cruz, chamando o local de Madureira. "Venha morar no melhor ponto de Madureira", sendo que era em Vaz Lobo Kkkkk.. Creio q a falta de segurança, atrapalhou o desenvolvimento do local.

  4. Isso! Refere aos bairros onde a Transcarioca passa! Não sei se a proposta pra aumentar a altura dos prédios estão se cumprindo. Mas vejo alguns prédios q foram erguidos em alguns bairros mais valorizados do subúrbio, e outros continuam a mesma coisa.

  5. Caro Cleydson, claro que sei que é vossa mercê! Seu artigo teve grande repercussão aqui no blog. Aguardo os próximos! Quanto ao seu comentário, salvo engano copiei os nomes dos bairros do projeto de lei que está na Cama de Vereadores, proposta para aumentar a altura dos prédios. Estão no mapa que acompanha o PLC. Referem-se apenas a um trecho da Transcarioca, é isso?
    Um grande abraço.

  6. Caríssima Andréa Albuquerque! Acompanho a sua página, e vossa mercê até postou um artigo meu, sobre a Fazenda Botafogo! Conheço muito bem a Transcarioca, passa próximo do bairro onde moro. A proposta dessa via animou alguns moradores no início, e irritou outros pelo fato de estreitar as vias de trânsito principais nesta região. Hoje, o dito legado está saturado! Como já sabemos, as estações estão sendo depredadas e os ônibus idem. Pego ele para ir para a minha faculdade e vejo ao longo da semana o tamanho descaso (falta de segurança, de conservação, excesso de passageiro – igual os trens e etc). Infelizmente a corrupção, é a causa dessa bagunça toda!!

    Com todo o respeito, permita-me em corrigir-la sobre os bairros onde o BRT – Transcarioca passa?

    >> Trecho do Fundão a Praça Seca, passa por seguintes bairros: Cidade Universitária, Ramos, Olaria, Penha, Penha Circular, Vila Kosmos, Vicente de Carvalho, Vaz Lobo, Madureira, Campinho e Praça Seca. O resto das estações passam nas bandas de Jacarepaguá, a partir de Tanque.

    Os outros bairros citados, estão um pouco afastados da transcarioca, só se acessa com uma integração ou pegar mais de uma linha (duas no máximo) pra chegar nesses outros bairros. A transcarioca não integrou bem os bairros, tipo: Acari, Costa Barros, Barros Filho, Bento Ribeiro, Vila Valqueire, Honório Gurgel e Guadalupe (o mais afastado).

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