Urca – Um dos alvos do Plano Diretor proposto para o Rio

Há quase quatro décadas, moradores do bairro da Urca, na Zona Sul do Rio, organizaram um abaixo-assinado, distribuído em vários pontos da Cidade, solicitando o tombamento do prédio onde funcionou o antigo Cassino da Urca, evitando assim a sua demolição para a construção de um hotel no local ligado a um grupo multinacional, com 300 apartamentos, conforme previa um projeto que tramitava, em 1983, na Secretaria Municipal de Obras.

Entre os vários motivos elencados no documento, ratificava-se o fato de, já naquela época, o bairro ser um dos “últimos recantos da cidade que se transfigurou e precisa recuperar a sua qualidade de vida, preservando o que resta da sua memória”.

Além disso, destacava-se que o prédio do Cassino da Urca, onde posteriormente funcionou a primeira Televisão do Brasil, era o último dos cassinos existentes no Estado, “berço do maior movimento de promoção da arte popular no Brasil”. Como resultado diante da intensa movimentação promovida, o prédio  acabou sendo tombado.

Após todo esse tempo, surge agora a notícia que, entre as mudanças previstas na Revisão do Plano Diretor do Rio, há uma polêmica proposta de se padronizar a legislação urbanística, hoje em parte definida segundo as características de cada bairro da cidade, segundo processo iniciado no final da década de 1970 baseado nos princípios do PubRio, justamente com a decretação do pioneiro Projeto de Estruturação Urbana – PEU para o bairro da Urca! Na série de “novidades” será permitida a instalação de atividades comerciais em ruas residenciais tradicionais, podendo comprometer o futuro não somente do bairro da Urca, mas também de Botafogo e Santa Teresa.

Portanto, de acordo com a previsão da Prefeitura, alguns bairros deixarão de contar com regras específicas definidas por PEUs. O temor é que, sem tais regras específicas, bairros sejam descaracterizados com atividades comerciais em ruas inadequadas para recebê-las, entre outras mudanças.

Segundo o arquiteto Hugo Hamann, eterno apaixonado pelo bairro da Urca e um dos responsáveis pelo referido abaixo-assinado de 1983, os moradores devem ser ouvidos quanto à proposta, e mais especificamente em relação ao uso que terá o imóvel onde funcionaram o Cassino e a extinta TV Tupi.

“Se não fosse a mobilização dos moradores, certamente o prédio nem existiria mais. Mas como somos um país sem memória, imediatista, temos sempre que lembrar o trabalho que deu e ainda dá pra manter a qualidade de vida de um local especial da nossa cidade. Muitos que hoje decidem o que pode ou não ser feito no imóvel nem eram nascidos quando já lutávamos por sua preservação”, destaca.

O relato acima, a análise da arquiteta Rose Compans sobre as mudanças propostas para o bairro de  Botafogo divulgada no post “A proposta da Prefeitura para o Plano Diretor – comentário sobre Botafogo”, e outros aspectos apontados na reportagem de Luiz Ernesto Magalhães, no jornal O Globo, demonstram que o que está por vir afetará não apenas a Urca e Botafogo mas, a cidade inteira. Se para o Bem ou para o Mal, o tempo dirá. Nesses dois bairros, negativamente, é certo.

Urbe CaRioca

Confiram o abaixo-assinado :

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Comentários:

  1. Generalizar aspectos da legislação urbana da cidade do Rio de Janeiro em detrimento das particularidades especificas dos bairros poderá comprometer definitivamente a ambiência urbana e a qualidade de vida de determinadas localidades. Os PEUs podem e devem ser revistos com a participação efetiva da sociedade, mas, jamais, serem descartados. Todo cuidado é pouco.

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