A história dos parques da Zona da Leopoldina, Zona Norte do Rio de Janeiro, de Hugo Costa

Neste artigo, o geógrafo Hugo Costa faz uma detalhada análise sobre o histórico de ocupação da Zona da Leopoldina, a criação de seus parques que “tentavam contrapor a realidade de ausência de áreas de lazer para a população” e a realidade atual do Parque Ary Barroso, “único refúgio verde de meio milhão de cariocas, (…)  ocupado com prédios do poder público, sendo outra parcela considerável da área ocupada por um estacionamento para os funcionários destes prédios públicos e até para um ferro velho de carros abandonados”.

Urbe CaRioca

A história dos parques da Zona da Leopoldina, Zona Norte do Rio de Janeiro

Hugo Costa

Parque Ary Barroso: abandono – Foto: Guilherme Pinto

A história dos parques da Zona da Leopoldina, Zona Norte do Rio de JaneiroOs famosos campos de futebol disputadíssimos nos finais de semana não existem mais. As calçadas internas ao parque estão parcialmente destruídas ou consumidas por mato e galhos derrubados. Parte do parque parecia sofrer uma invasão com uma estrutura de madeira, os lagos e a cachoeira, que ajudariam a aplacar o calor da enorme Ilha de Calor da região pareciam não ver água há décadas.

Por Hugo Costa

A Zona da Leopoldina

A Zona da Leopoldina é formada por bairros do subúrbio da Zona Norte do Rio de Janeiro caracterizados por serem cruzados historicamente pela linha ferroviária originalmente chamada Leopoldina Railway, inaugurada em 1874. Ao contrário dos subúrbios ferroviários da Central do Brasil, no Centro do Rio, estes bairros eram atendidos por uma ferrovia cuja estação principal era a Barão de Mauá, em São Cristóvão.

Após a privatização dos trens urbanos do Rio de Janeiro, a Zona da Leopoldina passou a ser atendida pelo Ramal Gramacho da empresa Supervia e sua estação principal passou a ser na Central do Brasil também, embora o trajeto da ferrovia se mantivesse apartado dos trens que atendem os demais subúrbios da Zona Norte.

Histórico de ocupação

Uma área geográfica equivalente a Zona Sul do Rio de Janeiro, predominantemente residencial, com quase meio milhão de cariocas, a Zona da Leopoldina teve diferentes momentos em sua história de ocupação. Antes da construção da Avenida Brasil, predominavam residências de classe média-alta, cujos moradores vinham em busca de largos lotes de terra em regiões cujo desenvolvimento atraía investimentos públicos como bondes, iluminação pública e outras comodidades modernas para o período.

A construção da Avenida Brasil com enormes lotes industriais desenvolveu o lado empreendedor desta classe média da região, com a inserção de empresas principalmente logísticas e de serviços

Como política pública desde os anos 60, intensificada no período do Regime Militar, a Zona da Leopoldina passou a ser receptora dos rejeitados pela Zona Sul no que seria a expansão da ideia de Cidade Maravilhosa. Enquanto removiam favelas daquela que se manteria como a área nobre da cidade, experimentos habitacionais surgiam em diferentes bairros da Zona Norte: migrantes sem poder ocupar a Zona Sul, se instalavam nas áreas industriais vazias (Vigário Geral e Parada de Lucas), nas margens da Baía da Guanabara (futuramente  Complexo da Maré) ou nas encostas destes subúrbios (futuramente Complexo do Alemão), aumentando substancialmente a população em comunidades incipientes já existentes na região ou criação de novas. Outros que foram diretamente expulsos da Zona Sul iam para novos conjuntos habitacionais, onde eram esquecidos lá (Complexo de Israel) e até mesmo CHPs (Centros de Habitação Provisória) que acabaram não sendo provisórios (Manguinhos, Complexo da Penha).

Parques

Com uma ocupação predominantemente residencial, projetos de áreas de lazer foram criados para atender a população da Zona da Leopoldina. Como a ocupação da área voltada a atender a classe média foi feita por loteamentos que não contemplavam lotes destinados para praças, e a favelização foi feita sem um ordenamento do território, estes projetos de parques tentavam contrapor a realidade de ausência de áreas de lazer para a população:

a) Parque Uruçumirim – Tendo o Parque do Aterro do Flamengo como referência, colocando ao redor de uma Avenida um parque que conciliasse lazer, áreas verdes e isolamento acústico e ambiental do fluxo de veículos, o Parque Uruçumirim seria o maior parque da cidade do Rio de Janeiro, ocupando com tudo que o Aterro do Flamengo tem e mais um enorme parque de exposições, todo o aterro que foi feito para a construção da Avenida Brasil entre a mesma e as margens da Baía da Guanabara, desde Manguinhos até a Penha Circular. Devido a ocupação irregular e posterior a ocupação regular com conjuntos habitacionais e áreas militares, o parque foi esquecido.

b) Faria-Timbó Park Way – como parte dos planos da cidade, o que hoje é conhecida como Linha Amarela também teria suas características também inspiradas no Aterro do Flamengo, com uma Avenida com o Rio Faria Timbó ao meio e parques ao seu redor, porém grande parte da área foi ocupada irregularmente, ou regularmente com loteamentos e CHPs.

c) Parque Ary Barroso – o único que foi adiante na região, na década de 60 foi aberto à população no bairro da Penha circular , mantendo-se até hoje nesta situação de único parque da região para atender a meio milhão de pessoas.

O Parque Ary Barroso tem aproximadamente 55 mil metros quadrados. Para referência de comparação, o Jardim de Alah entre Ipanema e Leblon, tem 70 mil metros quadrados, sendo assim maior que o parque.

Como consequência, a Prefeitura do Rio ao desenvolver o PDS – Plano de Desenvolvimento Sustentável e Ação Climática da Cidade do Rio de Janeiro acabou chegando a conclusões concordantes com a história: Que a Zona da Leopoldina é a região com menos áreas verdes da cidade.

A Prefeitura do Rio também fez outro diagnóstico que concorda em muito com o diagnóstico anterior:

“Mapa do calor: o Rio é mais quente na Zona Norte. Para contornar problema, reflorestamento e parques

Na coletiva, foi apresentado o mapa do calor do Rio, que reafirmou uma percepção histórica, registrada pelo senso comum: as principais ilhas de calor da cidade ficam na Zona Norte, em bairros como Complexo do Alemão, Complexo da Maré, Ramos e Pavuna, além de Bangu, na Zona Oeste. Áreas que historicamente possuem menor cobertura vegetal.”

O “Prefeito Parque”

Em determinado momento da eleição para prefeito em 2024, Eduardo Paes se auto-intitulou “Prefeito Parque” devido a atenção que o mesmo declara ter pelo tema. Desde a construção do Parque Madureira, no subúrbio da central, tivemos outros parques erguidos em outros bairros da Zona Norte e da Zona Oeste, mas com exceção do Parque Pavuna, nenhum outro parque foi construído onde o diagnóstico do PDS ou do Mapa do Calor indicava como mais necessário.

Visita ao Parque Ary Barroso

Visitei no último domingo, dia 13/10/2024 o Parque Ary Barroso, único refúgio verde de meio milhão de cariocas, e o cenário não concorda com o de administrado por um prefeito que adota o pseudônimo de “Prefeito Parque”. Grande parte do Parque foi ocupado com prédios do poder público, sendo outra parcela considerável da área ocupada por um estacionamento para os funcionários destes prédios públicos e até para um ferro velho de carros abandonados.

Os famosos campos de futebol disputadíssimos nos finais de semana não existem mais. As calçadas internas ao parque estão parcialmente destruídas ou consumidas por mato e galhos derrubados. Parte do parque parecia sofrer uma invasão com uma estrutura de madeira, os lagos e a cachoeira, que ajudariam a aplacar o calor da enorme Ilha de Calor da região pareciam não ver água há décadas.

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