Ao Prefeito Eduardo Paes, em vez de a São Sebastião

Rio de Janeiro, 20 de janeiro de 2024.

Caro Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro,

Quem escreve é Reclamilda. Conforme disse no final do ano passado, sei que o senhor me conhece há tempos, desde quando era Menudo, cria do seu criador. O senhor “prometia”. Esperto, ágil, trabalhador, interessado, raciocínio rápido, o mais alegre dos prefeitinhos, política na veia. Na época eu o tratava por você. O senhor me chamava de Thatcher, o motivo dispensa explicações. Agora o tratamento é outro.

Evito dirigir-me diretamente à Vossa Excelência devido a absoluta ausência de resposta. Neste dia, 20 de janeiro, data do Santo Padroeiro da nossa Muy Heróica e Leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, sempre peço a São Sebastião que interceda junto ao senhor, pois para mim seus ouvidos são moucos. Depois de onze anos de tentativas, vejo que nem ao Santo o senhor atende. Dizem que é melhor ir direto a Deus. Por respeito e por ser o chefe supremo muito ocupado, converso com o santo que foi flechado, coitado. Vossa Excelência não é Deus e muito menos santo, mas tem a caneta na mão. É quase o mesmo.

Crédito: Tomáz Silva /Agência Brasil

Provo que jamais me atendeu. Ponderei que seria equivocado construir a falsa Linha 4 do Metrô-Tripa, criar leis urbanísticas duvidosas feitas “pra Olimpíada”, e aumentar os gabaritos dos edifícios a torto e a direito, por vias tortuosas e nada direitas. O Plano Diretor de 2011 foi placebo, fora as tabelas com mudança nos índices construtivos – para mais, é óbvio – único traço que gerou efetividade, para o Mal, diga-se. Exemplos são a Ilha Impura e os hotéis gigantescos vazios, agora transformados em prédios residenciais muitíssimo mais altos do que seus vizinhos. Jogada de mestre a médio prazo.

Cabe um reparo. A demolição do Elevado da Perimetral foi um ponto polêmico. Eu mesma duvidei se seria a decisão correta a tomar na época, não pela bem-vinda ausência do monstrengo, mas, questionando prioridades diante de tanto a fazer pela urbe carioca. Além do quê, livrar a paisagem à custa de um túnel caríssimo com pistas expressas acima dele – quase trocar seis por meia dúzia, como se diz no idioma popular -, considerando que a Rodrigues Alves era praticamente uma via expressa com outra acima – o feioso Elevado -, sem ao menos aproveitar a escavação e prever uma linha de Metrô, foi inaceitável. Por legado, bom descobrir o Cais do Valongo e da Imperatriz. De resto, mudou o engarrafamento de lugar, criou outra Rodrigues Alves inóspita, e a bonita orla à frente do Ministério da Marinha, o melhor de tudo, está abandonada.

O que me intriga, Prefeito, é a insistência da sua parte. Tantos anos se passaram e o senhor continua a incentivar a ocupação urbana espalhada – atenção, Guaratiba! -, o aumento do número de andares na propalada tentativa de melhorar o Centro à custa de liberar construções na Zona Sul e Barra da Tijuca (antes pra Olimpíada, agora pro Centro), tudo em meio ao discurso diuturno sobre as mudanças climáticas e a elevação da temperatura, uma incoerência.

Termino fazendo um novo apelo diretamente a quem manda de fato. Peço que em vez de plantar 35 edifícios no terreno da antiga Estação Leopoldina, plante árvores, muitas árvores! Preserve as Cocheiras Imperiais, crie um Parque, arborize bastante a região da Praça da Bandeira, Maracanã e São Cristóvão, lugares particularmente quentes, e esqueça a ideia de plantar torres de 30 andares no Bairro Imperial. A Quinta da Boa Vista já foi (in)devidamente emoldurada por edifícios em outra mudança de lei.

Aproveito para elogiar alguns feitos. O senhor está cuidando bem dos túneis do Rio. Provavelmente desconhece que faz exatamente o que sugeri ao então Prefeito há quase trinta anos, quando disse que o Rebouças era o túnel mais feio do mundo. Ele gostou da ideia de iluminar melhor e criar paredes brancas e pediu para providenciarem uma licitação, para o quê não houve tempo. Fico feliz em ver que o antigo Menudo seguiu a minha sugestão de modo indireto. Obrigada.

Sei que o Vossa Excelência quer ser Presidente do Brasil. Ouso dizer: seja um Prefeito de Alto Gabarito e não o Prefeito dos Gabaritos Altos. Não pavimente o seu caminho com mais concreto.

Respeitosamente.

Reclamilda

 

 

Comentários:

  1. Faltam refazer e modernizar as linhas policromicas, criadas no governo Lacerda, tal. como por exemplo a LINHA VERDE, é a extensão do Metrô, perfurando o maciço da Tijuca na Rua Uruguai até a Praça do Jóquei.Por outro lado, do Túnel Noel Rosa ATÉ a Matin Luther, alcançando Pavuna.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *