AYRTON SENNA – Uma Avenida Nada TransUmanada



Avenida Ayrton Senna, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro
Imagem: skyscrapercity.com
Dentre as ações que vêm sendo apresentadas como futuro “legado olímpico” incluem-se três grandes corredores viários que serão ou já estão sendo construídos.

O Urbe CaRioca reviu com atenção os vídeos institucionais que mostram o resultado esperado e discorrem sobre os benefícios que as obras trarão para a cidade. A extensão e quantidade de pistas mais as inúmeras pontes, viadutos, túneis e mergulhões, impressionam.

Como todos os rios correm para o mar, as Transtudo correm para a Barra da Tijuca. Barra-Santa Cruz, Barra-Penha-Aeroporto Internacional e Barra-Deodoro. A maior atenção às Zonas Norte e Zona Oeste é louvável. Se a solução escolhida – essencialmente rodoviária – foi adequada, que o digam os especialistas no assunto: urbanistas, engenheiros de transportes, estudiosos das cidades e instituições várias.

Quanto ao blog, de imediato não compreende porque o Metrô foi descartado. E espera, sinceramente, que a cidade e seus moradores sejam beneficiados de fato, bem como que os corredores não se transformem em novos espaços segregadores e abandonados como a história urbana do Rio tem demostrado até hoje.

Em relação ao BRT, nos últimos dias a imprensa noticiou a satisfação de usuários do sistema de ônibus articulados implantado entre Santa Cruz e a Barra da Tijuca pela significativa diminuição do tempo gasto no trajeto, embora, resignados, tenham reclamado da superlotação. De fato, melhorar um aspecto importante como esse já é ganho. Meno male



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Por outro lado, circula um vídeo na internet que chama à atenção. Embora não leve a marca Cidade Olímpica, como os demais filmes de propaganda, é aqui considerado verdadeiro, pois, na divulgação, constam o cliente – A Prefeitura – e o nome produtor de vídeos institucionais e animações: mostra a transformação da Avenida Ayrton Senna.

As obras preveem modificações entre a Cidade da Música e o acesso à Linha Amarela. As explicações do narrador e as imagens demonstram que o trecho entre o “Cebolão” será transformado em uma autoestrada.

Ora, por mais que se reconheça no projeto de Lúcio Costa para a Baixada de Jacarepaguá a predominância do traçado viário sobre o que poderíamos chamar de desenho urbano humano – o que não existe na região – o que se viu nas duas últimas décadas foi exatamente um esforço para reverter o aspecto rodoviário da Barra da Tijuca e Recreio, em especial com as obras realizadas na Avenida das Américas e na antiga Avenida Alvorada, hoje Ayrton Senna.
AVENIDA DAS AMÉRICAS -1984
Imagem: skyscrapercity.com / Agência O Globo

A Avenida das Américas tinha o apelido de Avenida da Morte, tal o número de desastres e atropelamentos que ali ocorriam quase diariamente.

Há quase 20 anos, quando começaram as obras que resultaram no seu alargamento e criação de vias coletoras** laterais para o transporte coletivo, onde a velocidade é menor, a proposta para a construção de mergulhões ao longo da mesma foi rejeitada pela administração municipal. Para torná-la – a via – menos inóspita optou-se pela solução dos cruzamentos com sinais de trânsito, que permitem a travessia de pedestres em segurança e são redutores de velocidade naturais. Junto com o limite de velocidade estabelecido em 80 km/h a redução das tragédias foi notória. O famigerado apelido ficou no passado…
AVENIDA DAS AMÉRICAS SENDO QUADRUPLICADA -1993
Imagem: skyscrapercity.com / Agência O Globo
Agora, o projeto para a Ayrton Senna é exatamente o oposto. Em vez de humanizar o lugar repleto de shoppings, supermercados, grandes lojas, serviços públicos, dois hospitais, um parque público e o futuro equipamento cultural de grande porte, tudo o que atrai GENTE, nossos gestores pretendem recriar uma estrada no lugar que, embora desenhado sem escala humana, é parte de um bairro por onde transitam milhares de pessoas.

Na voz firme de um narrador os cruzamentos, sinais de trânsito e retornos que salvaram a Avenida das Américas, na Ayrton Senna são apresentados como vilões. Fala-se na “eliminação dos retornos”; “recomposição do canteiro central”; “nova faixa a partir da redução dos canteiros laterais” (para compensar o que será destinado ao BRT nas pistas centrais); “sinais de trânsito eliminados”, tudo enaltecido como positivo. Já o sistema da nova ponte – porque os pilares não atingem a lagoa – “contribui com a preservação ambiental da região”, e as “passarelas suspensas possibilitarão a travessia segura de pedestres ao longo de todo o trecho”.



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É de se indagar se pessoas idosas ou com dificuldades de locomoção, cadeirantes, mulheres grávidas ou carregando crianças de colo, preferirão essa travessia “segura” subindo escadas e rampas – não há informação sobre elevadores – em vez de andar pelo chão da cidade entre canteiros e calçadas devidamente arborizados.
O INESQUECÍVEL AYRTON SENNA
fottus.com
O trecho da avenida tem apenas 2 km que são percorridos entre 3 e 4 minutos, segundo um site de buscas. Levará mais tempo, é claro, com os sinais que protegem pedestres e motoristas e engarrafamentos que talvez sejam apenas transferidos de lugar… Se a prioridade deve ser o pedestre, lá não será mais.
Hipótese para essa decisão: alguém se inspirou no nome da Avenida e resolveu transformá-la em uma pista de corrida.

Desumanizada.

 A quem interessar,o link para o vídeo é este. Pode ser visto a seguir.

**Vias coletoras – recebem e distribuem o tráfego entre as vias locais e arteriais, apresentando equilíbrio entre fluidez de tráfego e acessibilidade, possibilitando sua integração com o uso e ocupação do solo, e são próprias para a operação de sistemas de transporte coletivo, compartilhado com o tráfego geral e de transporte seletivo; (www.produçao.ufrgs.br).

  1. Olá, Rafael. Obrigada pelo comentário! Talvez eu concorde com você em um ou outro ponto, isso daria uma longa – e ótima – discussão. Penso que o paradigma modernista tem poucas virtudes e muitos defeitos, em especial quanto à escala desumana dos projetos urbanos e arquitetônicos que afastam as pessoas do convívio com a própria cidade, sem falar nas relações sociais, tão difíceis quanto maiores as distâncias, os deslocamentos, e o isolamento das famílias em cada condomínio ou edifício/"bunker".
    As passarelas do aterro do Flamengo – lindas, por sinal – levam apenas a uma das áreas de lazer: é a praia, a ciclovia… Não fazem parte do cotidiano e da circulação pela cidade edificada, pelos bairros. Não é o caso da Ayrton Senna. Penso nos idosos, nas crianças, nas pessoas que têm dificuldade de deslocamento, nos adoentados, tendo que subir e descer escadas e atravessar a largura enorme da avenida. Acho de fato, desumano. Prefiro esperar um sinal fechar e atravessar, quem sabe com jardins e canteiros entre as pistas e com uma trégua no insuportável barulho de um trânsito pesado e contínuo. É cidade, não é estrada, embora às vezes, pareça.
    Concordo que deveria haver mais ruas transversais. E será que não dá para ajustar os sinais da Ayrton Senna?
    Cidade, urbanismo, são assuntos mesmo apaixonantes! Um abraço.

  2. Olá.Gostei e muito do seu blog,mas no que diz respeito às alterações feitas na Barra da Tijuca,me permiti discordar de seus pontos de vista.
    No meu entendimento,a segregação do espaço do pedestre,bem como a criação de avenidas expressas são fruto do paradigma modernista que,em nosso país,além de ter produzido o plano do Lucio Costa para a Barra da Tijuca e Jacarepaguá produziu também Brasilia,e o Aterro do Flamengo e Ilha do Fundão.Sendo um projeto modernista,a mim não parece ser inadequado que se use 1 expeidente também modernista para solucionar esta questão.
    No aterro,aliás,desde sempre há o espaço de carro e o espaço do pedestre,de forma segregada,(havendo pontes e passagens subterrâneas nas interseções entre ambos)e isso nunca foi um problema.
    Não acredito na ideia de que as retenções artificiais criadas pelos retornos e sinais de transito sejam melhores que o recurso usado no Aterro,pelo contrário,com passarela,o pedestre,o idoso,a mãe com carrinho de bebê teem todo o tempo de que precisam para fazer a travessia.
    Frequento o bairro atualmente e vejo que se tem que ser maratonista para atravessar a rua em apenas um sinal,e se não for possível,é preciso ficar vários minutos de braço cruzado com fumaça dos escapamentos na cara até a sua vez de atravessar chegar.
    Com passarelas,se a pessoa precisa de 5 minutos,ela tem 5 minutos para atravessar,se precisa de 10,terá os 10,ao invés dessa correria louca que é hoje atravessar a av.ayrton senna.
    Na minha opinião,para se humanizar a circulação de gente na Barra,se deve abrir as vias secundárias paralelas a av.das americas(muitas estavam previstas no plano do Lucio Costa e inexistem na prática)para estas terem fluxo de carros e pessoas disciplinado por sinais de trânsito.Além disso,seria preciso reverter a tendência de condominios de prédios e casas de cercar seus acessos com grades e cancelas.
    A alegação de insegurança não procede,uma vez que rua insgura é rua vazia,rua com circulação de gente e presença de pessoas ao longo de sua extensão,essa sim é a real segurança de um ambiente.
    Quanto mais esses acessos são fechados,mais rotas secundárias deixam de existir e mais o fluxo das 2 grandes avenidas do bairro fica saturado.Somado esse fluxo 'adicional' com as retenções artificiais,está feito o estrago.

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