Capanema renascido: O modernismo respira novamente no coração do Rio

Após uma década de portas fechadas e seis anos de intensa restauração, um dos maiores ícones da arquitetura modernista brasileira está prestes a retomar seu lugar de destaque no cenário cultural do país. O Palácio Gustavo Capanema, marco histórico no Centro do Rio de Janeiro, volta a abrir suas portas ao público a partir do dia 20, renovado e com uma nova proposta de ocupação que combina memória, arte e acessibilidade. Confira como esse símbolo do modernismo será devolvido à cidade e o que esperar da sua reabertura.

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Portinari, Niemeyer, Burle Marx: veja preciosidades do Palácio Gustavo Capanema, que reabre após dez anos fechado; fotos

A partir do próximo dia 20 esta joia da arquitetura moderna brasileira, cravada no Centro do Rio, estará à disposição do público

Por Carmélio Dias — O Globo

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Palácio Capanema será reaberto em 20 de maio após dez anos fechado — Foto: Márcia Foletto

Os móveis delgados, elegantes, os grandes espaços livres, as colunas e as janelas generosas proporcionam uma espécie de viagem no tempo. Quem entra no Palácio Gustavo Capanema é imediatamente transportado a algum ponto entre os anos 1940 e 1950. A atmosfera está toda ali. Sem muito esforço, é possível imaginar o vaivém de funcionários no dia a dia das repartições do antigo Ministério da Educação e da Saúde Pública, propósito original de sua construção. A partir do dia 20, esses ambientes estarão mais acessíveis que nunca. Após longa e completa reforma, esta joia da arquitetura moderna brasileira, cravada no Centro do Rio, será finalmente reaberta.

Foram seis longos anos de obras, desde fevereiro de 2019, a um custo de R$ 84,3 milhões via o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O prédio, no entanto, está há bem mais tempo longe do dia a dia dos cariocas: são dez anos desde que foi fechado. Restaurado e ao mesmo tempo modernizado, sem perder suas características originais — o bem é tombado pelo Iphan desde 1948 —, ele será devolvido à cidade com a promessa de ser mais aberto à visitação pública. O planejado é que 60% do espaço passe a abrigar atividades culturais franqueadas à população, enquanto 40% serão destinados a atividades administrativas do Ministério da Cultura e de órgãos relacionados como o Iphan, a Funarte, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e a Fundação Casa Rui Barbosa, entre outros.

— O prédio está pronto e terá uma finalidade cultural muito importante. Ele é majoritariamente de ocupação cultural e estará à disposição da população do Rio, um grande ponto turístico, um grande ponto de encontro da cidade. A ideia é que seja um prédio popular, que representa a cultura e traz essa memória modernista — diz Leandro Grass, presidente do Iphan.

Restaurante na cobertura

As obras incluíram, entre outras intervenções estruturais, a recuperação de todo o mobiliário original, a reforma das instalações elétrica e hidráulica e a modernização do sistema de combate a incêndio e da estrutura de telecomunicações e internet. Uma ausência foi notada: os emblemáticos brise-soleils, marca registrada do prédio, ainda não estão no lugar. As antigas placas, feitas de amianto, serão substituídas por novas, de fibra de vidro e projetadas para garantir o mesmo aspecto visual. A previsão é que sejam reinstaladas no segundo semestre.

Após a reabertura do prédio, o próximo passo será a restauração do grande acervo artístico pertencente ao Capanema, incluindo os painéis “Jogos Infantis e Ciclos Econômicos”, de Cândido Portinari, no segundo andar do prédio, onde ficam o gabinete ministerial e a sala em que trabalhou Carlos Drummond de Andrade. O poeta foi chefe de gabinete do então ministro Gustavo Capanema no período do Estado Novo. Esse pavimento é um dos que passarão a ser abertos à visitação, assim como o jardim contíguo, projetado por Roberto Burle Marx.

As novidades incluem ainda um espaço multiúso no nono andar e a abertura de um restaurante e de um café na cobertura, com direito à vista de tirar o fôlego do Centro, do Aeroporto Santos Dumont e até do Pão de Açúcar ao longe. O quarto andar receberá de volta a Biblioteca Euclides da Cunha e a Divisão de Música e Arquivo Sonoro da Fundação Biblioteca Nacional, com cerca de cem mil itens disponíveis para consulta.

Presença da ministra

Ontem, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, esteve à frente de uma comitiva durante visita guiada ao prédio para apresentar o resultado das obras à imprensa e mostrar o espaço renovado pela primeira vez.

— É emocionante demais a gente retomar este patrimônio brasileiro que revolucionou a arquitetura no Brasil e no mundo também, colocando o país na vanguarda. É uma vitória muito importante fazer essa entrega nos 40 anos do Ministério da Cultura — comemorou.

— O desafio maior é o próprio prédio em si, icônico, desenhado nos mínimos detalhes por pessoas como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer… todo tombado, com 80 anos. Como arquiteto, foi uma tarefa e tanto. É mexer no “imexível” — explicou Mello, superintendente comercial da Concrejato.

Durante a visita da ministra ao prédio, servidores do Ministério da Cultura e suas autarquias, em greve desde abril, fizeram uma discreta manifestação. Eles pedem a abertura de diálogo para o desenvolvimento de um plano de carreira e a recomposição do quadro funcional.

— Estamos passando por um processo de reconstrução de toda a arquitetura interna do Ministério da Cultura, que foi desconstruída. Tenho a esperança de que a gente consiga o plano de carreira ainda este ano — afirmou a ministra.

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