Depois de O Metrô e a Praça o Urbe CaRioca publicou os posts Mais Metrô.
Durante três semanas analisou decisões do Governo Estadual e divulgou informações sobre projetos e obras do sistema em andamento na cidade.
Valeu-se da opinião de especialistas, acompanhou movimentos de associações de moradores com opiniões distintas, e ouviu depoimentos de usuários, principalmente das Zonas Norte e Sul.
Vale repetir, considera haver dados claros e subsídios suficientes para que interessados e outros segmentos da sociedade civil e institucional possam se manifestar e agir, tomando as medidas cabíveis.
De tudo que foi dito deve-se ressaltar a discussão sobre Ter ou Não Ter a Estação Nossa Senhora da Paz e Cortar ou Preservar as Árvores da Praça, preocupações “verdes” eventualmente taxadas de elitistas que beneficiaram a administração ao desviar a atenção do que realmente prejudica a cidade e dói no bolso do contribuinte:
· Não construir a Estação Gávea em dois níveis de modo a permitir futuras ligações com Tijuca (sob o maciço) e Botafogo (em direção ao Jardim Botânico), mas, apenas em um nível, como anunciado;
· Abandonar a Linha 4 Verdadeira, Barra/Gávea/Botafogo via Jardim Botânico e Humaitá, possível apenas com a construção da segunda plataforma, na Gávea, também descartada;
· Construir segunda plataforma na Estação General Osório, não prevista justamente porque não era necessária à conclusão da Linha 1 (que terminava no Jardim de Alah), obra que além de ruim para os passageiros pela estranha baldeação no mesmo lugar, obrigará ao fechamento da estação recém-inaugurada e da Estação Cantagalo.
Nesse processo de prioridades equivocadas, a competência do Governo Estadual para pautar a mídia impressiona. Ignorou as discussões e apelos sobre o traçado direto Gávea-Centro e repetiu à exaustão que construiria a Linha 4, redenção da Barra da Tijuca, para obter sua maior vitória: a imprensa passou a chamar o prolongamento da Linha 1… de Linha 4.
Os responsáveis pela decisão não aprenderam que a menor distância entre dois pontos é uma reta, ou seja, unir Gávea e Botafogo seguindo a direção Jardim Botânico seria mais rápido e menos penoso para os usuários.
Além, disso, deixar de dar início à criação da rede metroviária é maltratar ainda mais os passageiros da Zona Norte que trabalham no Centro, Zona Sul e Barra da Tijuca enfrentando trens e O Metrô de Uma Linha Só lotados, todos os dias, tanto quanto os da Barra que viajarão no sentido contrário.
É fazer pouco caso de quem precisa do transporte público, em especial nos subúrbios, e na Região Metropolitana que tem metrô só no nome. É desprezar o futuro da cidade.
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“A Supervia cobra de cada passageiro 2,90 para esta realidade! Trens lotados, pessoas disputando lugares já que a viagem é longa e a grande maioria sai de bairros afastados para trabalhar no Centro e Zona Sul. Descaso total, vagões caindo aos pedacos, sem ventilaçãoo! Ar condicionado? Sorte! Dentre vários ramais oferecidos, esse retrata o ramal Japeri, o ramal com o maior número de pessoas“.
Fotografia e depoimento: Caroline Siqueira, moradora de
Ricardo de Albuquerque, Zona Norte do Rio de Janeiro. Abril/2012.
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A novela do Metrô faz lembrar o interessante filme/fábula A Fonte das Mulheres*, passado em um vilarejo seco e empoeirado da Arábia ou Norte da África.
As mulheres buscam água na fonte que fica no alto de uma montanha pedregosa. O caminho tortuoso e o peso dos baldes fazem com que elas caiam, machuquem-se e até abortem. Os homens não se mexem, literalmente.
É assim desde o início dos tempos e nada deve mudar. O Poder Público não providencia a água encanada pedida por mais de uma vez.
A linda Leila, personagem do filme, cria um movimento feminino para pressionar os homens a fazerem o trabalho pesado: a Greve de Amor.
A estória segue lenta, polêmica, às vezes indigesta. Há sofrimento e ameaça de repúdio às esposas que serão substituídas por outras trazidas de aldeias vizinhas, solução masculina para a greve e garantia de tudo continuar igual.
Final feliz e água encanada só chegam à vila quando a Imprensa divulga o movimento e o Poder Público, enfim, se “sensibiliza” diante das manchetes dos jornais.
Ainda que todas as mulheres da Cidade do Rio de Janeiro pedissem a construção das Linhas 2 e 4 por serem mais necessárias, uma greve igual à do filme seria um fracasso, pois aqui há 100 mulheres para 88 homens que não precisariam buscar esposas nos municípios vizinhos.
Além disso a Falsa Linha 4 poderá prevalecer porque:
· Juristas não se pronunciaram – ainda – sobre a correção, ou não, dos procedimentos administrativos, inclusive sobre aproveitar uma licitação feita em 1998.
· Urbanistas consagrados e instituições acadêmicas nada dizem sobre o que é melhor para a cidade do ponto de vista urbanístico e da mobilidade, com raras exceções;
· A imprensa não defende o caminho mais curto, informa que algumas associações de moradores (não representativas) pediram medidas para a redução de impactos e receberão benefícios prestados pelo Governo, e já chama o Linhão de “Linha 4”. Acerta em parte: a partir da Gávea o trajeto é verdadeiro.
O Urbe CaRioca traz apenas mais uma questão.
Se a Zona Portuária está recebendo obras de grande porte, não seria então a Linha 5 – Centro/Rodoviária – também prioritária, por atender às regiões mais carentes da Cidade?
A Fonte das Mulheres, trailer original. Pesquisa Youtube.
*A Fonte das Mulheres. Filme. Título original: La Source des Femmes. França, Belgica e Itália, 2011. Direção: Radu Mihaileanu.
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Prezado Guina Ramos,
Muito obrigada. Fico feliz com seu comentário. Que esses esforços não sejam em vão, é o que gostaria, embora, a cada dia que passa e à vista das notícias na imprensa, menor seja a esperança de que enxerguem tantos equívocos e voltem atrás de uma decisão que só não é insana porque consciente.
Vou conhecer, sim, o O Rio Guina…, sem dúvida. E vou aproveitar para divulgar no FaceBook, onde sou recém-chegada.
Um abraço.
Além do estilo agradável e criativo dos textos, gostei muito do seu criterioso esforço de recuperar e disponibilizar a intrincada história do Metrô pós-privatização, contando sua incrível sucessão de decisões discutíveis em áreas técnicas, urbanísticas, econômicas e até morais (Linha 1-A, prazo de concessão até 2038, espichamento da Linha 1, trens novos que não cabem na linha, etc).
Ainda mais interessante foi ver, além do histórico, a postagem terminar com uma sugestão para o futuro dos transportes na cidade (a lembrança da Linha 5 – Centro/Rodoviária), com que concordo plenamente. A passagem do Metrô pela área do Porto Maravilha, como é exageradamente apelidada pela atual Prefeitura, me parece fundamental, dada a grandiosidade da expansão prevista (“muitos prédios de 50 andares” etc), a menos que a propaganda seja apenas um engodo…
Daí, desenvolvi uma proposta de transformar a Linha 4 “original” em uma Linha Nova. Ou seja, que ela venha da Barra, atravesse a Linha 1 na Glória, contorne o Centro e atenda o Porto e a Rodoviária, para depois abrir suas alternativas para a Zona Norte. Gostaria de convidá-la a conhecer mais detalhes no blog “O Rio Guina… para o futuro”, http://rioguina.blogspot.com.br