Match Point Eleitoral

Diz-se que a Arte imita a Vida. Diz-se que a Vida imita a Arte. Por certo há exemplos que demonstram as duas afirmações, embora a primeira predomine. Produzimos baseados em conhecimentos prévios. Experimentamos, criamos, inovamos. Ainda assim, levamos bagagens, nem que seja o aprendizado do raciocínio, o exercício da criatividade.

Diz o dito popular que três temas não se devem discutir: (1) política, (2) religião e (3) futebol.

Nos últimos anos, talvez décadas, até às eleições mais recentes e o resultado das duas últimas, vivemos no Brasil em processo de permanente discórdia, discussões, e até agressões, algumas fatais, infelizmente. Desfazimento de amizades e afastamento entre familiares são relatados há tempos, não é novidade. O primeiro tema não foi evitado, muito ao contrário. O segundo surgiu emaranhado ao primeiro e foi repetição, talvez exacerbado em um esquecido Estado laico. O terceiro apareceu de forma indireta. Ou o que aconteceu não foi um verdadeiro Fla-Flu?

Voltando à Arte, títulos de vários filmes combinam com o que vivemos e viveremos, não importa qual o imitador, aquela ou a Vida. O que segue é para ser lido com bom-humor, uma brincadeira de bom-gosto, um texto sério, porém bem-humorado. Aplica-se a um ou outro lado dos times que se digladiaram nos últimos tempos, ou a ambos, ou a nenhum. Dependerá do estado de espírito do leitor e de seu savoir-vivre. A ver, em ordem alfabética. Comentários a seguir apenas sobre os dois em destaque.

A Lavanderia
A Volta dos Mortos-Vivos (1, 2, 3, 4 e 5)
De Volta para o Futuro (1, 2 e 3)
Feitiço no Tempo
Fogo na Floresta
Invasores
Match Point
Meninas Malvadas
Nada de Novo no Front
O Massacre da Serra Elétrica
O Passado Condena
O Soldado que não Existiu
Todos os Homens do Presidente

“Feitiço no Tempo” conta a estória fantástica de um jornalista que vai a uma cidade do interior americano cobrir um evento tradicional: O Dia da Marmota. Inexplicavelmente ele acorda sempre no mesmo horário no mesmo dia que terminou. E tudo começa de novo. Algumas diferenças sutis são mostradas aos poucos, em cada dia repetido. Aprendemos que o sujeito não é uma boa pessoa nem tem bom caráter. Ao longo de cada dia quase igual ele tem a oportunidade de mudar algumas atitudes que havia tomado antes. E o faz. Depois de inúmeras vezes acordando sempre no Dia da Marmota ele finalmente acorda em um novo dia. O milagre se opera somente depois que ele reconhece todos os seus erros, age de outro modo em cada situação – para melhor – e se desculpa pelos erros cometidos, com sincero arrependimento.

“Match Point” é uma das obras-primas de Woody Allen. Um massacre psicológico. O protagonista quer ascender socialmente a qualquer preço. Professor de Tênis, aproxima-se de uma família rica e demonstra interesse pela filha solteira. A antiga namorada é empecilho aos planos de conquistar a confiança daqueles abastados que pertencem à alta sociedade inglesa. Dela se livra com trama macabra. A ponto de ser descoberto pela polícia, um lance de sorte muda seu destino. A joia roubada que atira a um rio resvala na mureta, gira, gira, gira, e cai do lado que o favorece. Vence. O diretor compara a situação a uma partida de tênis quando, no ponto decisivo – o match point – a bola resvala na rede, gira, gira, gira, e cai para um dos lados da quadra. Caísse para o outro lado, o resultado seria oposto, o adversário, o vencedor.

Esta crônica reflexiva mostra que no Match Point Eleitoral que vivemos há quinze dias, a bola dos votos poderia ter caído para um lado ou para outro.

Que o favorecido por desequilíbrio imponderável até o último minuto da apuração, faça jus à missão que a diferença de 0,9% dos votantes lhe confiou, do mesmo modo que, tombassem os 0,9% para o outro lado, o oponente deveria agir.

Em qualquer caso, a única maneira de sair do Dia da Marmota é reconhecer os erros, não os repetir, e mudar. Para melhor.  O Brasil precisa.

Urbe CaRioca

Nota: Para a questão dos códigos de obras na Cidade do Rio de Janeiro, sistematicamente em mudança com aumento expressivo de índices construtivos, separamos apenas três títulos. Ficam registrados para um próximo post.

O Milagre veio do Espaço
Aquarius
Brooklyn sem Pai nem Mãe (Motherless Brooklyn)

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