Nova série de encontros com Antonio Riserio: Leituras Urbanas

25 de novembro / 2, 9 e 16 de dezembro
sempre aos sábados, às 10h da manhã

. – 25 de novembro

Casa e cidade são palavras do gênero feminino. Mas fazer casa e fazer cidade nunca foram, entre nós, coisa de mulher. À mulher o que sempre coube foi o habitar, não o construir. Ela sempre pousou em ambiente previamente construídos, em prédios masculinos. Já era assim entre nossos índios e nada mudou com a chegada dos portugueses. Tanto no campo histórico, quanto no mitológico. E bem antes de o Brasil vir ao mundo. Na verdade, desde as mais antigas cidades do mundo, como a Babilônia de Hamurábi e a Uruk de Gilgâmesh. Passando por Atenas, Roma, cidades medievais e renascentistas. A mulher-arquiteto é uma invenção da alta modernidade ocidental.

2 de dezembro

Chama a atenção uma certa ausência ou esgarçamento da cidade na criação textual feminina. Tenho para mim, pelo menos até ao momento, que a redução da mulher ao espaço doméstico, durante séculos e nas mais variadas culturas, fez com que, regra geral ou quase geral, a cidade aparecesse como uma espécie de distância algo enevoada ou nebulosa, como coisa sem concretude e dinamismo intenso, na literatura produzida por nossas escritoras. Nessa literatura feminina, a casa, enquanto artifício físico e cultural, e as viagens interiores por universos muito pessoais, me parecem quase sempre mais reais e carregadas de mais vida e mais densidade do que as configurações urbanas. É justamente sobre isso que vamos falar neste nosso segundo encontro virtual de LEITURAS URBANAS.

9 de dezembro

A paixão dos atenienses por Atenas… Não se trata apenas de urbanofilia, de um sentimento de amor à cidade em geral. Mas de um sentimento amoroso com objeto específico: Atenas. Aqui, a polis aparece, segundo Kitto, como um espaço de formação ativa e criativa das pessoas, espaço de treinamento da mente e da personalidade dos cidadãos – e não, como atualmente vemos nossas cidades, enquanto peça de uma engrenagem destinada a produzir renda, segurança e conforto. Polis significava “toda a vida comunal de uma gente, em sentido político, cultural e moral”. Daí, aliás, sua observação interessantíssima: “Religião, artes, jogos, discussão pública das coisas – tudo isso são necessidades da vida que só poderiam ser plenamente satisfeitas através da polis. Não, como acontece entre nós, através de associações de pessoas com interesses comuns ou de empresários que atraem indivíduos. Isto explica em parte a diferença entre o drama grego e o cinema moderno”. Enfim, Kitto está mais do que certo quando diz que, ao fazer o elogio de Atenas, Péricles está louvando não uma cidade, um Estado ou uma nação – mas, sim, um modo de vida. O quanto isso tem a nos dizer?

16 de dezembro

Palavras do geógrafo David Harvey, em Rebel Cities: “A cidade, escreveu certa vez o sociólogo Robert Park, é ‘a mais consistente e, de modo geral, a mais bem-sucedida tentativa do homem de refazer o mundo em que vive conforme os desejos do seu coração. Mas, se a cidade é o mundo que o homem criou, ela é o mundo no qual ele está doravante condenado a viver. Assim, indiretamente, sem nenhuma noção clara do sentido de sua tarefa, ao fazer a cidade o homem refez a si mesmo’. Se Park está certo, a questão sobre o tipo de cidade que nós queremos não pode ser dissociada da questão sobre o tipo de gente que queremos ser, o tipo de relações sociais que buscamos, as relações com a natureza que valorizamos, o estilo de vida que desejamos, os valores estéticos que defendemos. O direito à cidade é, por isso, muito mais que o direito de acesso de um indivíduo ou grupo aos recursos que a cidade incorpora; é o direito de reinventar a cidade conforme os desejos do nosso coração”.

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