Último casarão da Lagoa: memória carioca apagada pela especulação imobiliária

Não causou surpresa o destombamento de um dos últimos casarões históricos de frente para o espelho d’água mais famoso do Rio de Janeiro e que está prestes a desaparecer. Construído no início do século XX e marcado pelo charme arquitetônico de uma época em que Ipanema ainda preservava traços de bairro residencial, o imóvel localizado na Avenida Epitácio Pessoa, esquina com a Rua Joana Angélica, teve seu tombamento cancelado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em junho. A decisão abre caminho para a demolição e alimenta o avanço de novos empreendimentos no ponto mais cobiçado da Zona Sul.

Ao modificar o decreto que, na época do tombamento definitivo (em 2002),  justificava que a casa “representa um marco referencial na paisagem da cidade e possui um grande valor afetivo para o carioca, considerando a necessidade de se adotarem medidas complementares de proteção da área de entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas”, ratifica-se a continuidade do retrocesso quanto à preservação e à valorização do patrimônio cultural.

Aliás, exemplos não faltam de perdas para a Cidade, como o destombamento do Cine Leblon e a “venda” do Jardim de Alah – espaço público importante e área verde livre – transformado em filé-mignon para a especulação imobiliária, estes pelo Poder Executivo. Agora, mais um casarão antigo irá abaixo e com ele um pedaço vivo da memória histórica da Cidade do Rio de Janeiro.

O terrenos do 23º BPM, no bairro do Leblon, e os da Cobal que se cuidem.

Urbe CaRioca

Cancelamento de tombamento põe último casarão da Lagoa na mira das construtoras

Com um terreno de mais de mil metros quadrados, o imóvel estaria avaliado em R$ 130 milhões. Os proprietários já entraram com pedido de licença para demolir o casarão

Por Victor Serra – Diário do Rio

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O casarão está dentro da Área de Proteção Ambiental do bairro (APAC) — Foto: Daniel Martins/Diário do Rio

Um dos últimos casarões antigos de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas terá o destino decidido pela especulação imobiliária. Em junho, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro cancelou o tombamento que protegia um imóvel clássico do início do século XX, na Avenida Epitácio Pessoa, esquina com a Rua Joana Angélica, liberando oficialmente para a demolição. A decisão partiu da 3ª Vara da Fazenda Pública da Capital

A residência pertence à família Haddad, a mesma que comprou os bens da antiga Fábrica Bangu. Com terreno de mais de mil metros quadrados, o imóvel estaria avaliado em R$ 130 milhões e já com propostas de construtoras interessadas no trecho mais valorizado de Ipanema, vizinho ao antigo restaurante Castelo da Lagoa, que também já foi demolido.

Na época do tombamento definitivo (em 2002), o decreto justificava que a casa “representa um marco referencial na paisagem da cidade e possui um grande valor afetivo para o carioca, considerando a necessidade de se adotarem medidas complementares de proteção da área de entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas”

O Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), órgão municipal responsável pelo tombamento, informou ao DIÁRIO DO RIO que só tomou conhecimento do cancelamento após consulta e que ainda precisa oficializar a decisão depois da análise da procuradoria. Segundo o mapa do DataRio, o bairro tem cerca de 40 imóveis tombados; os demais, em sua maioria, já foram derrubados ou estão sob risco, impulsionados pelo boom de estúdios e pelas novas leis que aumentaram o gabarito das construções, os famosos “puxadinhos”.

Em julho, os proprietários do imóvel entraram com um pedido de licença para demolir o prédio. Em agosto, a Prefeitura exigiu ajustes e documentos, como parecer do IRPH, laudo técnico SubVisa, ART/RRT do PREO e comprovantes de titularidade e situação fiscal. A autorização só será liberada após o cumprimento dessas exigências.

“Se nada for feito, a Lagoa em poucos anos terá o mesmo destino das orlas do Leblon e Copacabana, que não possuem mais casas. Lamentável esse tal de progresso arquitetônico.”, afirmou Rafael Bokor, ativista pela preservação do patrimônio.

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