Ações de revitalização do Porto do Rio já são esboçadas para outras áreas do Centro

Há aspectos positivos. Outros, nem tanto. Expandir gabaritos altos para São Cristóvão é indesejável, tanto quanto o Minha Casa Minha Vida no terreno da Leopoldina. O Estádio do Flamengo é o erro mais gritante. Hors Concours, como Clóvis Bornay no Carnaval.

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Nova fronteira: movimento de revitalização iniciado no Porto se espalha por outras áreas do Centro

Primeiros movimentos da mudança região central do Rio neste século começaram a ser esboçados no já distante ano de 2009

Por Carmélio Dias – O Globo

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O coração do chamado Centro ampliado, que, no Rio, junto com a Zona Portuária, está recebendo projetos de habitação e revitalização cultural — Foto: Agência O Globo / Márcia Foletto

Os primeiros movimentos para uma revitalização da região central do Rio neste século começaram a ser esboçados no já distante ano de 2009. O foco era a então esquecida Região Portuária da cidade. De lá pra cá, muita coisa mudou. Entre transformações ruidosas, como a implosão do Elevado da Perimetral, e outras mais discretas, a exemplo da lenta, gradual e desejada chegada de novos moradores para ocupar os empreendimentos imobiliários surgidos na região, os ventos de renovação se espalharam no entorno, criando o ambiente propício para projetos e investimentos em uma área bem mais abrangente, que pode ser enxergada como o “Centro ampliado” da cidade. Passados quase 16 anos, o que se vê é que o porto foi o ponto de partida.

Bairros na mira

Dentro do conceito que expande as fronteiras do Centro, cabem, além do próprio, os três bairros da região portuária — Saúde, Gamboa e Santo Cristo —, Cidade Nova, Catumbi, Estácio, Lapa e até partes da Praça da Bandeira e de São Cristóvão. As iniciativas são muitas. Além de dezenas de empreendimentos imobiliários em curso, há fomento para ocupação cultural e até cervejeira, além da recuperação de prédios históricos como a Estação Leopoldina e o Edifício A Noite. Entre as construções no horizonte estão as do estádio do Flamengo, da Fábrica do Samba Rosa Magalhães, da nova sede do consulado dos Estados Unidos e do novo campus do Instituto Nacional do Câncer. E tem demolição também: a do Viaduto Trinta e Um de Março, que promete mudar a paisagem do Catumbi. São todas intervenções em curso, ou que, assim se espera, ganharão impulso em 2025.

— Eu sempre tive esse conceito de supercentro. É um espaço muito maior que o perímetro do Centro Histórico e é um território extremamente bem estruturado, sobretudo em termos de mobilidade e de acessibilidade, um território que é muito importante não apenas para a cidade, mas que tem uma relevância para toda a Região Metropolitana, e foi sendo abandonado ao longo dos anos por uma série de fatores que agora estão sendo revertidos. O Rio está na vanguarda da reabilitação de áreas centrais no Brasil com o compromisso de mudar a lógica do desenvolvimento urbano da cidade — aponta o arquiteto e urbanista Washington Fajardo.

O consenso entre quem acompanha o assunto é que tal mudança só acontecerá com a ocupação (ou reocupação) da área. E isso vem acontecendo. No âmbito do programa Reviver Centro, entre julho de 2021 e dezembro de 2024 foram concedidas 42 licenças, das quais 33 para retrofit (transformação de uso) e nove para novos prédios. No total, são 4.115 unidades, sendo 4.062 residenciais e 53 não residenciais. Na região do Porto Maravilha, os números mais recentes são de 9.938 unidades habitacionais. A população local passou de cerca de três mil no início dos projetos para quase 30 mil hoje.

E a tendência é que a conta aumente. Só este ano, a Construtora Cury, uma das que mais têm apostado nesta região da cidade, planeja inaugurar três novos condomínios: o Rio Energy, com 793 apartamentos, em maio, e o Pateo Nazareth, com 814 apartamentos, em dezembro. Ambos na região do porto. No coração da Avenida Presidente Vargas, bem perto da Central, o Vargas 1.140, com 360 unidades, está previsto para outubro. Até o fim do ano, a Emccamp, outra empreiteira com investimentos na região, vai entregar a primeira fase do Porto Carioca, projeto com o total de 1.472 apartamentos.

Há entregas por um lado, e novos lançamentos por outro. Esta semana, em evento na Cidade do Samba, a Construtora Cury anunciou o residencial Tia Ciata, batizado em homenagem a Hilária Batista de Almeida (1854-1924), histórica matriarca do samba e mãe de santo da mais alta estirpe. O projeto prevê 472 apartamentos e dois espaços comerciais em terreno de 2,5 mil metros quadrados na Avenida Cidade de Lima, no Santo Cristo.

No Diário Oficial de anteontem, foi publicada a sanção do prefeito Eduardo Paes à lei que garante isenção do imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) para os primeiros compradores das novas unidades construídas ou transformadas na área do Porto. Trata-se de bem-vindo empurrãozinho extra para quem está na dúvida.

— Essa medida é ótima, claro, mas o que a gente sente é que o Centro já é uma área de desejo dos cariocas. A localização é ótima, a estrutura de mobilidade é excepcional e está sendo montada uma estrutura de bairro diferente de tudo que existe na cidade, com lazer, com serviço. O chamado Centro ampliado ou estendido é perfeito, pois as áreas se complementam, o que torna tudo ainda mais atrativo para quem vai morar — acredita Leonardo Mesquita, diretor e vice-presidente comercial da Cury.

Reviver cultural

Anunciado como atrativo para os atuais e futuros moradores do Centro ampliado — e quem mais chegar —, o Reviver Cultural tem orçamento de R$ 35 milhões para estimular a abertura de 43 novos espaços culturais na região. Desses, 27 já estão em funcionamento e outros 16 devem começar a ser ativados a partir deste ano. Quando foi lançado, o programa teve mais de 150 projetos inscritos.

Outra iniciativa que deu o que falar foi o Reviver Rua da Cerveja, cujo objetivo é transformar a histórica e hoje praticamente deserta Rua da Carioca em um polo de cervejarias artesanais. O programa atraiu 17 projetos, e a expectativa é que nove negócios do ramo se instalem por lá, com investimentos que podem chegar a R$ 8,1 milhões. Paralelamente, será tocado um projeto que promete dar um banho de loja na antiga via.

— A nossa visão é no sentido de consolidar e integrar esse Centro expandido, que pega o Porto, o Centro Histórico, a Lapa e outra regiões. O sucesso dessas iniciativas vem a partir também desta integração. A expansão imobiliária, que já está em curso, tende a se consolidar e ser ampliada em 2025 e, paralelamente, outras iniciativas estão em andamento para dar mais consistência ainda ao projeto final que é tornar o Centro, que já tem a maior densidade de empregos da cidade, um local totalmente requalificado, concentrando também lazer e moradia — diz Osmar Lima, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico.

2025, ano-chave

Responsável por tocar boa parte dos projetos pretendidos pela prefeitura para a região, Osmar Lima acredita que 2025 será um ano-chave para a estruturação de grandes intervenções. É o caso do ambicioso projeto de remodelar toda a área do entorno do Sambódromo, que inclui a derrubada de dois quilômetros do viaduto Trinta e Um de Março, como O GLOBO antecipou, em dezembro.

— Será um ano para realizar os estudos de forma robusta. É um projeto muito importante, com várias frentes e que será verdadeiramente transformador de toda aquela área da cidade — diz Osmar Lima.

Outra obra que promete mudar a paisagem é a reforma da Estação Leopoldina, que no ano que vem completará cem anos. Serão investidos ali R$ 80 milhões. Além da recuperação do prédio histórico, o grande terreno no entorno da gare receberá a Fábrica do Samba Rosa Magalhães. A estrutura terá 14 galpões para abrigar as escolas de samba da Série Ouro. A prefeitura ainda negocia com o governo federal a cessão de outra área da velha estação, esta para a construção de novos residenciais. Povoar, essa é a meta. Num futuro mais distante, uma linha de VLT chegaria ao local.

Perto dali, na Cidade Nova, nas cercanias da sede da prefeitura, as obras da nova sede do Consulado dos Estados Unidos prometem ganhar fôlego este ano, embora a inauguração do prédio, com projeto inspirado no Pão de Açúcar, esteja marcada para o início de 2027. O antigo edifício da representação diplomática americana, no Castelo, será vendido.

Bem ao lado, no centro de convenções, na Cidade Nova, a Universidade de Nova Iguaçu (Unig) abre um campus em fevereiro. O espaço terá nove cursos semipresenciais que prometem garantir frequência flutuante de cerca de 600 estudantes.

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