ARTIGOS: PERIMETRAL – A CAMINHO DO FUTURO, Jornal O Globo / A QUEM INTERESSA, Renato Cinco


Blog Caos Carioca


Até hoje este Blog não opinou sobre a demolição do Elevado da Perimetral, apenas reproduziu dois artigos publicados em 18/6/2012 no Jornal O Globo, com a chamada SOBRE A DEMOLIÇÃO DO ELEVADO DA PERIMETRAL, em 26/6/2012.

De fato, não caberia opinar por se tratar preliminarmente de matéria afeta ao sistema de transportes – envolve questões técnicas, para especialistas, em especial sobre fluxos de veículos, capacidade, etc.

O Blog pode avaliar outros aspectos urbanísticos e a estética:

Retirar o viaduto trará melhorias para a área, da qual ele – o viaduto – é uma das razões para a degradação; reafirma a incompreensão diante de tantas obras em execução – até túneis! -, sem que se toque no assunto ‘METRÔ’, ao mesmo tempo em que se planejam linhas de VLT (!); e repudia o paredão de prédios que poderá cobrir a visão de morros históricos e áreas preservadas, reduzindo uma das vantagens trazidas com a eliminação do elevado: a amplitude do espaço urbano.

Restaria analisar a relação custo-benefício diante de tantas outras obras e ações que a cidade requer, tarefa também para especialistas, sem afastar o fundamental, a decisão política, tema que não conta com a participação da sociedade nos últimos tempos.

Enquanto isso, a Prefeitura providencia remendos no Elevado do Joá, contrariando a recomendação da UFRJ… E proíbe o tráfego de caminhões. Centenas de carros parados nos engarrafamentos diários, pode? Há riscos? Quem responde?

Com os viadutos na berlinda, reproduzimos mais dois artigos a respeito da Perimetral publicados em 26/11/2012 no mesmo jornal.

Boa leitura e bons debates!



Panoramio


TEMA EM DISCUSSÃO
Demolição do Elevado da Perimetral

A CAMINHO DO FUTURO, Jornal O Globo

A recuperação da Zona Portuária é uma das mais importantes iniciativas urbanísticas da prefeitura do Rio nas últimas décadas. Ela se junta a outro passo crucial da cidade — as intervenções em curso na Barra da Tijuca, em razão de compromissos do poder público com a realização das Jogos Olímpicos de 2016 — para superar crônicas demandas e criar alternativas para o município enfrentar desafios nas áreas de urbanização, transportes e sistema viário.

No caso específico dessa região do Centro, a implantação do projeto Porto Maravilha consolida a acertada opção, enfim abraçada pelo governo municipal, de resgatar o potencial (econômico, habitacional, viário e de lazer) do entorno do cais, reintegrando-o à dinâmica da cidade. De resto, recuperar áreas urbanas degradadas é uma tendência moderna, adotada com sucesso em outras cidades do mundo — caso, por exemplo, de Buenos Aires, Barcelona e Nova York.

Uma das mais radicais, e necessárias, consequências da implantação do projeto no Porto é a demolição do Elevado da Perimetral, cujos preparativos já estão em andamento. Sem dúvida, uma vez encravado na geografia da Zona Portuária, o longo viaduto tornou-se uma via essencial para o tráfego de parte considerável da cidade. Por ali circulam diariamente quase 145 mil veículos, num trecho de grande importância para desafogar o movimento de entrada e saída do Rio. Mas também é incontestável que, ao ser construída, a Perimetral teve papel fundamental na degradação do seu entorno. E, não menos digno de registro, no comprometimento da paisagem da área, roubando do município uma bela vista da Baía de Guanabara.

Demolir a Perimetral é, por óbvio, um hercúleo esforço de engenharia e uma complexa operação urbanística, em razão da importância do elevado na rede viária local. São, no entanto, iniciativas com reflexos pontuais, cujos inevitáveis tormentos para os motoristas ficarão limitados a um espaço de tempo.
A prefeitura tomou o cuidado de, paralelamente, dotar a região de alternativas para atenuar os problemas do trânsito local. Isto está sendo feito não só com mudanças tópicas no sistema viário neste primeiro momento da remoção do elevado, mas também já com obras estratégicas do Porto Maravilha — como a abertura da Avenida Binário e outras intervenções planejadas para compensar no futuro os atuais sacrifícios da população.

O Rio vive um daqueles momentos marcantes de transformação. É a cidade enfrentando o desafio de crescer com planejamento, reparando antigos equívocos urbanísticos que comprometem a qualidade de vida da população e abrindo, com racionalidade, novas frentes de ocupação urbana. Superar atrasos e consertar desvios quase sempre implicam algum grau de transtornos. Mas, mirando-se os ganhos futuros, com a perspectiva de que sejam legados amplos e sólidos, compensam-se as dificuldades do presente.


Blog Porto Maravilha


A QUEM INTERESSA, Renato Cinco

Como parte do projeto conhecido como Porto Maravilha, a prefeitura do Rio demolirá a Perimetral e construirá um grande túnel subterrâneo para receber o fluxo de veículos que passa por ela. Trata-se de uma obra de grandes proporções, envolvendo uma quantidade bilionária de recursos financeiros. Assim, algumas perguntas devem ser feitas. Essa obra atende aos interesses da população? Se não, quem ganha com ela?

É preciso desconstruir alguns falsos argumentos sobre esse tema. O mais importante deles é que a obra visa a melhorar a circulação na região. Vende-se a ideia de que o binário a ser criado resolverá os engarrafamentos da área. Falácia. Trocar seis por meia dúzia, ou uma via elevada por outra subterrânea, não faz grande diferença. O pequeno ganho de espaço viário que se conseguirá com essa dispendiosa operação não será suficiente para produzir mudança significativa.

Se quisesse resolver o problema dos transportes, o prefeito deveria investir em transporte público. Construir uma linha de alta capacidade ou reformular o atual (e caótico) sistema de ônibus seriam alternativas nesse sentido. Pensar em soluções de mobilidade urbana baseadas em veículos particulares é um equívoco, e recorrente. Quanto mais vias se constroem, mais atrativo o automóvel fica e isso faz com que mais pessoas o utilizem.

Mas se a demolição da Perimetral trará um impacto pequeno nos transportes, o mesmo não pode ser dito em relação ao mercado imobiliário. Ela valorizará o preço dos imóveis da região, gerando ganhos aos proprietários. Não haveria problema nisso, se quem pagasse a obra não fossem os impostos cobrados de todos, e o lucro não se restringisse a meia dúzia de incorporadoras.

A prefeitura funciona assim com um Robin Hood às avessas, tirando dos que têm pouco e dando para quem já tem muito. Já que é o povo que está pagando, o correto seria investir em soluções para as suas necessidades. A requalificação da região portuária deveria privilegiar a construção de habitações populares e de equipamentos urbanos, servindo à população ali residente. E, para identificar as reais necessidades dessa população, é essencial ouvi-la, trazê-la para o processo de planejamento e definição de projeto. Porém, gestão democrática e participação popular não são princípios do poder público no Rio. Mais uma vez, o que importa são os interesses das empreiteiras e da especulação imobiliária.

Historicamente, a prefeitura do Rio promove uma cidade partida, onde aos pobres cabe morar longe dos bairros “nobres” ou em habitações precárias nas favelas. O Porto Maravilha, que seria uma grande oportunidade de investimento em moradias populares dignas perto do Centro, tornou-se apenas mais do mesmo. E a cidade seguirá partida.

Renato Cinco é vereador eleito no Rio (PSOL)


Montagem: Avenida Rodrigues Alves
Veja Rio

  

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