CRÔNICA DE UMA AUDIÊNCIA PÚBLICA ANUNCIADA: O “ROAD-SHOW” DA REX-MARINA


Para entender a paródia do Elefante e das Formigas,



T-REX, O PREDADOR DO PARQUE DO FLAMENGO.
Na imagem não aparecem seus assistentes PREFEITU-REX e IPHAN-REX.
Imagem: Infoescola



Anteontem o Blog compareceu à‘audiência pública’ sobre a Marina da Glória, o que chamamos de Road-Show, para usar a linguagem empresarial sobre a venda de produtos, ou, simplesmente, ‘propaganda’. A Secretária de Urbanismo não compareceu, nem outros Secretários e componentes da mesa antes anunciados.


Segue um resumo em escrita livre e informal sobre a reunião, a apresentação do Elefante. As Formigas foram tratadas com preocupação e carinho. Apenas 3 pessoas questionaram o paquiderme, quer dizer, o uso. Já foi alguma coisa… Mas, não houve tempo para que outros pudessem falar…

A pressa impera. Rex quer começar a obra no segundo semestre. Mas, não pode, não apenas pela falta da licença: há uma ação judicial em curso e o concessionário está impedido de fazer qualquer coisa diversa de restaurar a situação original da Marina. O processo sumiu, o que não é contado no Road-ShowA busca pela concordância do IPHAN pode estar ligada à referida ação. Uma vez obtido, o espantoso ‘de acordo’ poderá ser o argumento usado no recurso, quando, quem sabe, o processo desaparecido então ressurgirá…


Bingo?


Uma pergunta: se o dono do Copacabana Palace, hotel irmão do Hotel Glória em idade e estilo, ambos construídos pela mesma empresa, desejar erguer um Centro de Convenções do outro lado da rua, isto é, nas areias de Copacabana, será possível? A localização é perfeita! Quem sabe o IPHAN aprovaria, pintado de três cores areia acima: bege, azul da cor do mar, e azul da cor do céu, mimetizando a construção na paisagem carioca?

No mais, vejamos aqui quanto será o faturamento do concessionário depois que construir o que quer no Parque Público, ou de outro felizardo caso venda o negócio imediatamente após a aprovação.

Boa leitura!

Urbe CaRioca
MARINA DA GLÓRIA, audiência pública, 02/04/2013, um dia após o Dia da Mentira. Os cartazes artesanais foram feitos pelas pessoas comuns, contrárias ao empreendimento. O cartaz bonitinho, impresso, foi levado pela claque da EBX-REX-Prefeitura. Foto: O Globo



Na abertura vereadores louvam a si próprios pela iniciativa (já que não tem jeito, melhor mesmo haver…), embora não seja possível saber se a convocação foi deles ou da empresa, ressabiada com a má repercussão e o abaixo-assinado com mais de 10 mil assinaturas de antipatizantes à causa.


Apresentação da EBX-REX foi impecável: as belezas e virtudes do projeto e os inúmeros benefícios e bondades que a proposta contém para a com a cidade e para com o povo! Telões, explicações com fala suave, filminho, tudo perfeito. O cimentado vai virar gramado, vai retirar as estacas que o concessionário anterior cravou na baía, devolver área para a população (???!!!). Quando mencionado que a empresa, tão boa, dará R$ 5 milhões à CEDAE para ajudar a resolver o problema do esgoto na enseada, impossível não se lembrar da Curiosa Promessa e o VLT. Se vai usar a enseada, melhor limpá-la!


Tiranossauro REX, a predadora, já apresentou projeto para IAB, CAU, ASBEA, várias Secretarias, velejadores, Associações de Moradores, Instituto Lotta, e alguns políticos. O Road-Show caminhou bem… Come pelas beirinhas igual a mingau quente, e não conta o que as instituições acharam.


Único representante da prefeitura faz forte defesa do projeto, discorre longamente sobre todas as virtudes. “Feliz a cidade que tem grandes empresários”. Uma fala vergonhosa, mas, frisa várias vezes que não é a opinião do Conselho de Patrimônio Cultural da prefeitura, jamais poderia falar pelo colegiado (esqueceu-se de contar que ele preside o colegiado e que já deu entrevista para a televisão defendendo o projeto). Conselho de Patrimônio da prefeitura examinará o projeto no dia 18/4/2013. Podemos dizer: Feliz é a cidade onde os gestores carreiam os recursos dos grandes empresários para os lugares corretos!


Um vereador quer saber sobre calado e dragagem (Elefante passando, formigas em discussão). INEA faz o dever de casa, examina tudo, em breve responderá. Outro preocupa-se com o tempo para audiências públicas e licenças ambientais (Se tem que dar tempo, então está decidido!). Outro: dúvidas foram esclarecidas, mas há outras… Lojistas, vagas náuticas. Formigas, formigas… Não se preocupem, T-REX resolverá! Outro: apresentação tem que ser macro (!?); parâmetros técnicos e urbanísticos foram respeitados! (Quais, nobre edil????????), vão resolver esgoto (Puxa, um Centro de Convenções em área pública em troca de resolver a caca que a CEDAE não resolve, que vergonha!)… Deu os parabéns várias vezes! (Socorro, cabeças pensantes!)


Mais um… Deus é Pai, até que enfim! Pergunta se o empreendimento é para servir ao hotel ou à marina. Sobre as vantagens e bondades, vai ao ponto: ‘não foi o povo que fez o cimentado’, ‘retirar as estacas é sua obrigação’, ‘aqui nesta casa decidimos o uso do solo’, ‘INEA só pode dar a licença se o Zoneamento permitir’. ‘Lógico que é bonito’, ‘o que a população ganha ali?’, ‘A área já é pública’, ‘o que deve fazer lá sua obrigação’. Aplausos gerais.


Outro: tudo está sendo respeitado (Tudo o que, vossa excelência????). Outro: quer ouvir a ex-vereadora e jurista (Ufa!). Gostou da exposição da REX e das exigências do IPHAN… (Valha-nos MP!).


Aroeira – Jornal O Dia




T-REX quer “atender aos anseios da prefeitura e aos anseios da sociedade”… (os dela, a empresa, e os do hotel Glória, são detalhes tão pequenos deles dois, mas a briga vai longe); concordaram com o Iphan (ué, poderiam discordar?). Vereador que fez perguntas pertinentes vai às formigas. Preocupa-se com estacionamento, contrapartidas… (caro vereador, aceitar contrapartidas = aprovar o projeto).


T-REX quer mostrar o filminho de novo para explicar o estacionamento. Formigas, formigas… A fala é mansa, tranquila  igualzinho à de vendedor em loja quando mostra uma roupa horrorosa e diz que é linda! A musiquinha do filme faz parecer que estamos flutuando… Espaço multiuso da Marina terá muitos usos, inclusive de centro de convenções. ‘O projeto é vencedor em termos de respeito ambiental’ (!). Formigas, mais formigas… (Às centenas que comparecem aos questionados eventos ao ar livre serão somadas 900 frequentadores do Centro de Convenções, fora prestadores de serviços).


Representante dos hotéis: A localização é perfeita (mas claro que é, todo mundo quer!). Exemplo: em Cannes fizeram aterro, marina – tudo melhorou. Foi vaiado, coitado.


Que bom, outra voz dissonante da unanimidade que segundo Nelson Rodrigues… deixa prá lá: ‘A empresa falou 1 hora e continua a ter tempo nas respostas’… (Presidente diz que fará outras audiências). ‘Se está degradado foi porque diversos prefeitos deixaram’ ‘Área de construção é só de 1500m²’ ‘Iphan, INEA aprovam… Será que o carro não está na frente dos bois?’ ‘Os moradores foram ouvidos’? ‘A área é pública, um parque!’ ‘Privatizar espaço público não podemos admitir de jeito nenhum!’.



‘Quero que seja público e continue público!’


O assessor: ‘Estacionamento não pode estar ali’. Uma vereadora: ‘A marina é um horror’ (Esqueceu de contar que a EBX-REX cuida da Marina desde 2009).  Faz defesa abaixo da critica, fraca, fraca… ‘Tem lodo, foi a uma festa e o salto do sapato afundou’, é preciso gerar empregos’(?). ‘O projeto é bom (!?). Meu Deus, um enorme formigueiro! Nobre vereadora, claro que o projeto é bom e bonito, mas o ponto não é este. Que se gere empregos na Zona Portuária, vereadora! Que o concessionário ponha logo a grama no cimentado, acabe com o lodo para que a senhora não estrague os seus sapatos! É seu dever! Puxa, que calçado caro, vale um Centro de Convenções em área pública!


Presidente da mesa defende o projeto. A cidade precisa de empresas sérias (Sua excelência é avalista da REX!).


Arquiteta que sabe tudo sobre o Parque do Flamengo e as leis: ‘não é verdade que as normas urbanísticas estejam atendidas. As normas são as do projeto original. Neste local pode construir 1680,00 m2. O projeto tem 20mil. Câmara deve analisar valor afetivo, valor simbólico, a paisagem cultural’… (Peraí, o permitido é 1680,00 m², o projeto tem 20.000 m², que papo foi aquele de que está tudo atendido?)


Um senhor, representante da associação de moradores da Glória, pronuncia-se a favor do projeto. ‘Somos a favor do projeto, vai tirar os escombros’… (?!). Defesa veemente e assustadora extrapola em emoção e decibéis. Aplausos… da claque. Bem, tirar os escombros é obrigação da T-REX desde 2009, caro senhor.


Finalmente, a jurista séria. Pede que haja outra audiência: ‘A federação das associações de moradores tem o direito de expor seu ponto de vista durante o mesmo tempo em que a empresa falou. Onde estão as plantas, onde está o projeto? Não tivemos acesso ao processo, pedido em 11/3. O processo está sumido, igual ao processo de ação judicial que começou em 1998 na instância federal, e também sumiu. A REX contou uma história. Queremos ter o direito de contar a outra história’. ‘Ebte = 8 anos de destruição, apoiada por uma liminar judicial. A liminar foi suspensa. Juiz disse que a área é non-aedificandi’.


Vale conferir as importantes informações prestadas pela professora. Tem até duas histórias de suspense: O Roubo do Caminhão dos Correios, e O Sumiço dos Processos.


“O processo judicial de 1998 sumiu!”



Muitos não puderam falar. O tempo acabou. Mas, presidente deu a palavra de novo para a… REX!


‘Já existe processo na SMU. A REX está disposta a apresentar o projeto executivo’. (Voltam as Formigas…) ‘Nós nos sentimos vítimas (referindo-se à ação judicial). Quer termo de ajuste de conduta (!). ‘Queremos a solução. Precisamos da sentença do STJ. Jamais iniciaremos uma obra sem termos todas as licenças’ (óbvio, vai gastar $$ antes de ter certeza?). ‘Estamos respeitando a transparência, antecipando discussões, primeiro o Iphan tem que concluir. Temos disposição para voltar aqui quantas vezes for necessário’.


Sábios os que faltaram. A simples presença aumentaria a lista dos “formadores de opinião” que a empresa afirma ter procurado e apresenta como trunfo no belo ‘data-show’.

  1. Apenas uma retificação: o PowerPoint projetado no data-show da Câmara, que foi equipada com 2 novos telões para as galerias não precisarem se pendurar nas grades para ver os do plenário, não foi assim tão bonito, ao contrário, esperava-se mais esmero e tecnologia para uma empresa que se diz de ponta e ocupa espaços milionários na Cidade, como se tivesse fundos reais e não apenas virtuais, políticos, para justificar os privilégios de que tem sido alvo por parte do governador e do prefeito. Cuidado, não é o parceiro que pensam… os estrangeiros já estão fugindo desse engodo X.

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