Neste artigo, Atilio Flegner, coordenador do movimento “Metrô que o Rio precisa”, Ex-Membro do Conselho de Transportes da Prefeitura do Rio de Janeiro e Ex – Coordenador de Gestão de Rede de Ônibus da Prefeitura do Rio de Janeiro aborda, mais uma vez, a forma através da qual o metrô no Rio de Janeiro vem sendo administrado e expandido ao longo dos anos. O autor destaca o gasto milionário de recursos públicos, sem resultados efetivos e, em grande parte, simplesmente desperdiçados, a exemplo do prolongamento da Linha 1 até General Osório, sem uma zona de manobra em profundidade não adequada, o que acarretou na construção de uma segunda General Osório, paralela à primeira, que hoje encontra-se sem uso. “Mais de R$300 milhões se foram nessa brincadeira”, afirma, acrescentando outros diversos casos repudiáveis.
“Agora, 2024, dez anos de abandono das obras na Gávea, o governo do Estado propõe, um acordo, no mínimo esquisito, onde a Metrô Rio faça a obra de somente uma das estações Gávea (são duas ali), e somente o trecho São Conrado – Gávea (que na realidade só faltam 40m), enquanto permaneceria abandonado a máquina “tatuzão” que custou R$100 milhões, suas aduelas (largadas ao léu, na estação Leopoldina) e a outra estação Gávea. Num caso único do mundo, de um metrô tão pequeno ter cinco estações abandonadas (Carioca da Linha 2, Estácio da Linha 2, Rio Sul e as duas estações Gávea), seis, se contarmos a General Osório duplicada e sem uso. É o metrô das estações fantasma. Seria essa mais uma gambiarra a vista?”, questiona.
Urbe CaRioca
Gambiarra à vista ( mais uma)
Por Atilio Flegner
A palavra gambiarra significa algo em condições precárias, mal-acabado, um jeitinho. Palavra que descreve bem o modo como o metrô do Rio vem sendo administrado e “expandido” ao longo dos últimos anos.
Neste século, até agora, tivemos um prolongamento da Linha 1 até General Osório, em 2009, de forma um tanto grotesca, com a estação feita sem uma zona de manobra em profundidade não adequada, o que acarretou na construção de uma segunda General Osório, paralela à primeira, que hoje encontra-se sem uso. Chega a ser uma afronta. Mais de R$300 milhões se foram nessa brincadeira com o dinheiro público. General Osório e Cantagalo ficaram meses fechadas por conta dessa bizarrice. Talvez o único metrô do mundo que fecha estação depois de inaugurá-las.
Também em 2009, a pior gambiarra de todas, ao colocar a Linha 2 passando dentro da Linha 1, por meio de uma ligação para acesso ao Centro de Manutenção. Essa conexão, apelidada de Pavuna – Botafogo, causa uma violenta redução de capacidade no sistema como um todo. A Linha 2 foi projetada para trens de 8 carros, mas devido a essa junção com a Linha 1, fica limitada a trens de 6 carros.
Essa gambiarra, causa ainda o aumento dos intervalos, congestionamento de tráfego e redução de mais de 70% na capacidade do metrô. Com a Linha 2 indo até Botafogo, resulta em jogar para Botafogo e Central transferências que foram projetadas para Estácio e Carioca, acarretando assim em superlotação de trens e plataformas, enquanto as estações de Estácio e Carioca, esta última, semi-pronta desde 1981, estão vazias. A Linha 2, que poderia estar ofertando 86 mil lugares/hora/sentido, oferta somente algo em torno de 25 mil. Um desrespeito com o usuário do metrô, uma afronta as boas práticas da engenharia e ao projeto original do metrô.
Em 2014, outra gambiarra. Ao invés de estenderem o túnel da Linha 1 para além da estação Uruguai, se aproveitaram do estacionamento de trens que lá existia para plantar uma estação Uruguai (que não fica na Rua Uruguai), o que prejudica a manobra dos trens, consequentemente afetando, para pior, os intervalos da Linha 1. Esta Linha foi projetada para intervalos de 90 segundos nos anos 1980 e chegou a operar com intervalos de três minutos. Hoje é comum esperar-se 6 minutos ou mais entre um trem e outro.
Em 2016, a gambiarra mais cara de todas, o estiramento Linha 1 até a Barra, chamando a de “linha 4”, num claro insulto ao projeto original do metrô e as dezenas de associações de engenheiros e moradores que se mostraram contra o traçado asqueroso que acabou sendo realizado. Além do traçado “frankstein”, aconteceram escândalos de corrupção e o abandono da estação Gávea. Que aliás só foi incluída no novo traçado por meio de pressão de técnicos, populares e do movimento Metrô que o Rio Precisa, pois a Gávea é fundamental para o resgate do projeto original da Linha 1 (fechando um anel com a ligação para Uruguai – projeto de 1980) e da Linha 4 (que deve continuar para os bairros de Jd. Botânico – Humaitá – Botafogo – Laranjeiras até o Centro- projeto de 1998)
Agora, 2024, dez anos de abandono das obras na Gávea, o governo do Estado propõe, um acordo, no mínimo esquisito, onde a Metrô Rio – a mesma que opera mal e porcamente as Linhas 1 e 2 – faça a obra de somente uma das estações Gávea (são duas ali), e somente o trecho São Conrado – Gávea (que na realidade só faltam 40m), enquanto permaneceria abandonado a máquina “tatuzão” que custou R$100 milhões, suas aduelas (largadas ao léu, na estação Leopoldina) e a outra estação Gávea. Num caso único do mundo, de um metrô tão pequeno ter cinco estações abandonadas (Carioca da Linha 2, Estácio da Linha 2, Rio Sul e as duas estações Gávea), seis, se contarmos a General Osório duplicada e sem uso.
É o metrô das estações fantasma. Seria essa mais uma gambiarra à vista?
Uma obra que tem apontamentos de mais de R$ 3 bilhões de superfaturamento, se gastar mais quase R$ 700 milhões, se estender uma concessão ruim e entregar faltando pedaço, um bom pedaço, diga-se de passagem. É um escárnio contra a população.
Quando será que o metrô, equipamento fundamental para o desenvolvimento da região metropolitana, será levado a sério e deixará de ser palco de gambiarras?