A CIDADE CRESCE PARA… GUARATIBA

                                                                                                   Andréa Albuquerque G. Redondo


Recreio dos Bandeirantes, Serra da Grota Funda e Guaratiba
Diário do Rio, 2007

Urbanistas têm repetido: a expansão desenfreada do território resulta em cidades inviáveis porque a execução desse modelo urbano demanda a aplicação constante de recursos públicos para infraestrutura: novas ruas, serviços e equipamentos – transporte, escolas, hospitais, etc. – e cria mais gastos permanentes devido à necessária manutenção das áreas recém-urbanizadas e construções de apoio.

No caso do Rio de Janeiro recomenda-se que a cidade cresça “para dentro”, isto é, com o aproveitamento de regiões dotadas de infraestrutura que estejam subutilizadas ou abandonadas. Porém, isto somente acontecerá se, ao mesmo tempo, houver estímulo à ocupação dessas regiões dando-lhes qualidade, e a expansão do território urbano for contida, tanto quanto possível, através de leis e fiscalização.

Na primeira hipótese, infelizmente e salvo exceções, o único viés adotado tem sido despertar o interesse da indústria da construção civil mediante o aumento de índices construtivos. Foi o que aconteceu, por exemplo, ao longo da Avenida Brasil, e no bairro da Penha, onde os gabaritos de altura cresceram e foi eliminada área que protegia a visibilidade da famosa Igreja.

Mas, os recursos da construção civil, como os de qualquer outro empreendimento, correm apenas para onde há retorno garantido. O investidor não irá para locais degradados, abandonados ou inseguros, mesmo que as áreas de construção tripliquem.


rioforpartiers.com



O melhor incentivo é dotar os lugares escolhidos com boas condições para habitar – infraestrutura, segurança adequada e serviços públicos -, o que explica os enormes investimentos de verba pública em obras de urbanização na Zona Portuária, simultaneamente à lei nova que prevê prédios com até 50 andares, isto talvez desnecessário, certamente um exagero.

Ainda assim, a concorrência com a Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá, até aqui, tem sido perdida (v. PEU Taquara – Antes que Seja Tarde Demais!): o apelo do novo é muito forte; o expressivo aumento de índices urbanísticos é feito sob medida para os interesses imobiliários; para medo e insegurança, cancelas e condomínios fechados; para a falta de transporte enfrentam-se os engarrafamentos; quanto à infraestrutura invariavelmente precária, o governante de plantão costuma deixar para o futuro.

Nos anos 1970 a cidade cresceu para a Baixada de Jacarepaguá. O Plano Piloto de Lúcio Costa, por mais criticado que seja, teve o mérito de preservar as áreas agrícolas a noroeste, Zona Rural do antigo Distrito Federal, o que pode ser visto e comprovado no premiado filme curta-metragem ‘A Cidade Cresce Para a Barra’. As leis e as invasões – ocupações irregulares – têm decretado o fim das áreas agrícolas.



A CIDADE CRESCE PARA A BARRA – 1970
Totem Filmes
Direção: Paulo Roberto Martins
Texto Original: Lucio Costa


As palavras de Lucio Costa, narradas, dizem: “Durante muito tempo ainda deixe-se a várzea tal como está, com gado solto pastando, e só quando a urbanização da parte restante,… se adensar, quando a infraestrutura, organizada nas bases civilizadas e generosas que se impõem existir, e a força viva da expansão o impuser,… terá chegado o momento de implantar o novo centro…”.

Não houve adensamento populacional: ao contrário, a cidade foi espraiada, prédios e casas afastados uns dos outros em outra escala, pelos longos percursos da Barra e de Jacarepaguá. Nem se vê infraestrutura em bases generosas ou civilizadas. Quanto à força viva… esta foi o interesse econômico.


Internet / Google Maps

Abrir território gigantesco foi pouco. Em 2009, outra lei – o Projeto de Estruturação Urbana para Vargem Grande, Vargem Pequena, Camorim e parte do Recreio dos Bandeirantes, Barra da Tijuca e Jacarepaguá -, concedeu novos índices urbanísticos, a maior, é claro.

Ainda foi pouco. Em 2011 o polêmico Plano Diretor definiu que o município do Rio de Janeiro é integralmente urbano. Foi sutil ao preparar o caminho: as normas das áreas agrícolas e de ocupação residencial restrita que sobraram já podem ser modificadas, promovendo-se mais uma expansão do território.

Assim é que já se anunciou o PEU Guaratiba para breve, uma nova lei – mais uma – que avançará sobre o último reduto carioca com características de área rural e verde, quem sabe o futuro filé mignon da construção civil pós-olimpíadas.

O Plano Diretor não foi aprovado às pressas impune ou inocentemente. Os caminhos para a especulação em Guaratiba foram abertos duas vezes: pelo túnel da Grota Funda e por leis urbanísticas recentes e discretas.

Já estão pavimentados.
GUARATIBA

  1. Caro Anônimo,
    Entendi que se o valor pedido correspondesse aos 360m² do terreno seria razoável, mas, como refere-se à metade, você considerou caro. Quanto ao resto confesso que não compreendi bem. O que é incorporação fechada com projeto padrão? Oferecem o projeto de graça como um chamariz, é isso? Peço a gentileza de assinar seu nome no comentário. Um abraço.

  2. Andréa em Guaratiba existe um condomínio fechado chamado Reserva das Garças no qual tentei comprar um terreno. Não havia ainda o túnel Grota Funda. O terreno estava por um valor até que acessível só que o valor não era para um lote de 360,00 m²Era para um lote bifamiliar. cada um de 180,00 m². As incorporações são todas fechadas com os projetos padrões de Kuertnez, Brezinski e outros que têm assentos na ADEMI.Os projetos são oferecidos de graça na incorporação e o padrão definido na convenção. O que você acha, o que o Janot pensa?

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