CrôniCaRioca de Cleia Schiavo Weyrauch
Dia do Mestre, 2020
Na Semana dos Professores o depoimento emocionante da socióloga e professora Cleia Schiavo Weyrauch, que já brindou este espaço com belas crônicas e memórias sobre o Rio de Janeiro.
Urbe CaRioca
Cleia, uma professora carioca!
Nos arranjos que a vida faz sem que deles tenhamos consciência prévia, quantas vezes nos perguntamos: COMO VIM PARAR AQUI? Que peça o destino me pregou para me arrastar até esse lugar?
Cheguei a uma sala de aula por um convite imprevisto do meu Professor sem que nunca o tenha desejado. Aliás, eu havia jurado que não o faria. Sala de aula xô, xô! Eu queria mesmo era ser Jornalista, de frente de guerra, aquela jornalista radical que vê a parte mais cruel dos acontecimentos. Porém, o fiz!
Como Professora decidi contar histórias sobre aquilo que era o conteúdo obrigatório. Todos gostam de ouvir histórias, se possível encenadas de maneira ótica. Soltei minha veia de artista, posei de revolucionária, levei meus alunos à Roma dos Césares – no teatro em sala de aula os alunos interpretavam os diversos personagens, até mesmo o cavalo do Imperador, e participavam do processo decisório! Vivenciamos o surto de cidades na Idade Moderna em pleno Século XX. Andamos pelas ruas de Paris seguindo os passos de Baudelaire. Embalei meus alunos em aventuras histórico-sociológicas.
Anunciei, em sala, que não tinha nenhum interesse em estudantes Nota 10 – de modo geral chatos porque obedientes, o que omiti, é claro. Meu objetivo era instigar, despertar a curiosidade e criatividade que poderiam forjar futuros mestres e doutores, ou apenas – e já seria muito, vidas frutíferas pessoal e profissionalmente. Era o sentimento de dever a cumprir, vontade de acertar, sem presunção alguma.
Fiz as teorias baixarem à Terra, saírem da redoma de onde os intelectuais as tiram quando as exibem como conhecimento diferencial. A ficção foi o meu forte, a audácia da imaginação era o convite através do qual os alunos rebeldes me aceitavam. E os conquistei.
Certa vez encontrei uma turma de candidatos à marginalidade. Não tive dúvidas: passei a andar de capa preta e bengala, acompanhadas de histórias e biografia sobre minha atuação de militante. A indumentária intrigava. E atraía. Olhares e perguntas. Avisei a todos que eu era uma professora destrambelhada e que nesse quesito ninguém me ganharia. Deu certo! Deixei virem a mim os difíceis, os amigos de turbulências. Avisei-os de que tinham que contar suas próprias histórias, cavadas na ousadia da vida. Ensinei a eles, aprendi com eles.
HOJE TENHO MUITOS ALUNOS AMIGOS, AMIZADE CONSTRUÍDA NO FERVOR DA VIDA.
SOU PROFESSORA, SIM SENHOR!