Na semana passada mostramos uma inaceitável ocupação de área pública na orla da Baia de Guanabara. Agora, o jornal O Globo nos dá ciência de que um posto para guarda-vidas foi construído na areia da Praia Vermelha. Segundo a reportagem, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN autorizou e, também, a Secretaria municipal de Infraestrutura, Habitação e Conservação.
A primeira autorização é incompreensível, partindo do órgão que cuida de proteger o Patrimônio Cultural. A segunda escapa à atribuições da secretaria. Evidentemente haveria alguma solução adequada. Prevalecem a ofensa e o pouco caso para com a paisagem carioca. Passo a passo com a construção de um museu e um obelisco no Mirante do Pasmado, e as imensas bancas de jornal – verdadeiras lojas ocupando as calçadas da cidade – as areias da Praia Vermelha receberam a construção de uma palafita oficial.
Curiosamente, dois frequentadores chamaram o trambolho de casinha. Pode ter sido um ato falho. “Casinha” também é como se chamam as latrinas ou compartimentos construídos fora das casas a título de banheiros. De fato, o Rio tem sido muitas vezes tratado como lugar de despejo, tal a irresponsabilidade de vários gestores públicos.
Urbe CaRioca
Posto para guarda-vidas estilo ‘BayWatch’ na Urca gera polêmica entre moradores
Frequentadores reclamam que construção na Praia Vermelha atrapalha vista do Pão de Açúcar
Maíra Rubim – O Globo – 20 de outubro de 2020
A estrutura é familiar para quem já esteve na Califórnia ou assistiu a séries do tipo “BayWatch”: uma casinha de madeira, com direito a deque, fincada na areia, garante sombra e visibilidade para salva-vidas. Mas, transportado para a Praia Vermelha, na Urca, um mobiliário parecido tem causado estranheza e gerado polêmica. Moradores do bairro reclamam que o posto de salvamento, ainda interditado, atrapalha a visão do mar e do vizinho Pão de Açúcar, cujo entorno é tombado.
— A obra começou há três meses. Achei que, pela área ser tombada, não poderia haver construções desse tipo. Parece uma casa de pombo, está mal posicionada e ainda acaba com o visual da praia — reclama o aposentado José Mauro Rodrigues, morador do bairro.
A empreendedora Lívia Maurício, que mora em Niterói e passeava pelo local no fim de semana, também estranhou a obra:
— Polui a paisagem. Poderia estar em outro lugar, ser uma estrutura menor. Aqui é um ponto histórico.
O advogado Hélio Mizrahi, por sua vez, achou a construção harmônica:
— A casinha me lembra a Califórnia. Para mim, o pior do bairro é a desordem urbana.
O aposentado e esportista José Carlos Almeida, que frequenta a praia, também está entre os que aprovaram a “casinha”.
— Acho necessário o posto porque, embora tenha dias de tranquilidade, o mar da Praia Vermelha é perigoso. É uma das poucas praias de tombo do Rio, que fica na virada da boca da barra e sofre muito a influência de ventos. Tem muitas crianças lá, e é um mar que pode surpreender quem não sabe nadar — diz.
Iphan deu aval
A Urca é tombada pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), da prefeitura, que foi procurada pelo Globo e não respondeu. Já o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou que o projeto tem sua aprovação, necessária porque o local fica no entorno do Complexo do Pão de Açúcar, que tem tombamento federal.
O Corpo de Bombeiros saiu em defesa da construção e alega que os salva-vidas não têm qualquer estrutura fixa no local, apenas uma tenda na praia. A corporação afirma ainda que o novo posto de salvamento marítimo, além de abrigo para os guarda-vidas, vai garantir maior visibilidade da área de serviço e servir de ponto de referência aos banhistas no próximo verão.
“O posto conta com madeira e materiais que não agridem o meio ambiente”, afirma o Corpo de Bombeiros, dizendo que o projeto arquitetônico e a execução da obra têm autorização não só do Iphan, mas também da Secretaria municipal de Infraestrutura, Habitação e Conservação.
A localização é péssima, poderiam ter feito uma construção mais discreta à esquerda, perto das pedras, até mais alta, abrangendo visualmente toda a praia. Construíram um trambolho, feio e inoportuno, mas como o Brasil atual nos surpreende diariamente, pelo mau gosto, pela falta de ética, pelo absurdo e até pela ousadia dos ignorantes, parece claro que vamos ter que aceitar esse Cavalo de Troia…