ELOGILDA, RECLAMILDA, E O METRÔ REBATIZADO

CrôniCaRioca

Andréa A. G. Redondo


As amigas se encontraram de novo no Metrô. Lotado. “Oi, que saudade!”, dois beijinhos cariocas, e, conversa vai, conversa vem…

ELOGILDA – Amiga, ontem fiquei muito triste, parecia que nossa vida nesse Metrô ia melhorar e, de repente, nada feito, vai continuar o mesmo sufoco porque eles não têm dinheiro para cuidar de tanta coisa… É o que eles dizem, né?

RECLAMILDA – Só você prá achar que isso aqui não dá dinheiro, Elô. O que falta é vergonha, não é grana! E melhorar de que jeito, se a cada dia a coisa tá mais feia, daqui a pouco vai chegar o pessoal da Barra, Recreio, Guaratiba, Santa Cruz… Mais aperto, sem falar no pessoal da Linha 2 tudo junto até a Barra! Falta, sim, é o povo reclamar, essa história de dizer que brasileiro é bonzinho só atrapalha, estamos sempre sendo feitos de bobos!

ELOGILDA – Pôxa, a solução era salvadora, a empresa que administra o Metrô tá, sim, precisando de dinheiro, coitados… Ganha pouquinho, mesmo com milhares de passageiros se espremendo todo dia feito a gente. Então resolveram vender os nomes das Estações, com a grana tudo ia melhorar, aposto que nós íamos viajar sentadas!

RECLAMILDA – Como é que é, vender o quê? Vão vender passagem mais cara, de novo? Misericórdia!


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ELOGILDA – Rê, você só reclama, escuta só. Eles queriam vender os nomes de batismo das estações para alguém rico que ia poder rebatizar as escolhidas. Aí, o dono do nome novo ia pagar uma nota preta para o Metrô e o Metrô ia melhorar a nossa vida, entendeu?

RECLAMILDA – Olha, Elô, essa tá difícil de entender…

ELOGILDA – Por exemplo, sabe o nosso amigo português rico, dono das padarias? Então, ele já tinha até escolhido a Estação Carioca prá batizar. “Estação Pão Fresco Carioca”, um charme.
RECLAMILDA – Amiga, explica de novo.

ELOGILDA – Nas placas, nas setas, nos mapinhas, nos guias de turismo, tudo com o nome novo. E aquela voz sedosa dentro dos vagões dizendo “Próxima estação, Pão Fresco, portas abrindo à esquerda…”. E o Metrô maravilhoso, tudo melhor com o dinheiro do Seu Manoel das padarias.


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RECLAMILDA – Elogilda, diz que você sonhou com essa besteira, não pode ser verdade! E os bairros, as referências, as praças, a memória da cidade, Elô! Nome de Estação é o nome do lugar. Se quero ir ao Largo do Machado salto na Estação Largo do Machado e pronto, vou lá comer a minha Esfiha Carioca.

ELOGILDA – Que bobagem, amiga, que mania de cidade! Foi ideia daquele homem que põe um X em tudo, o cara mais rico do mundo. Olha, já tinha até uma listinha de interessados. A Pão Fresco queria a Carioca, o Açougue Boi de Piranha queria a Praça Onze, o Aviário Penosas queria a Cantagalo, o Fluminense queria comprar a estação Flamengo, e o Vasco queria Botafogo. Ah! Esqueci, a Glória ia virar REX-Marina da Glória, essa eu não entendi.

RECLAMILDA – Que loucura, Elô! Onde já se viu, imagina se o dono daquela rede de lanchonetes famosa resolve comprar uma? Alguém me pergunta aonde vou saltar e eu digo, ‘Logo ali na Só Croquete’!

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ELOGILDA – O que é que tem? Mas como implica! Teve até uma briga. Duas empresas queriam aquela perto da Prefeitura, a Estação Estácio, nome do fundador do Rio, sabe, né? Foram a Construtora Mais Gabarito e a Imobiliária O Céu é o Limite! Pena que não deu certo, ia ficar bonitinho…

RECLAMILDA – Amiga, vou, relevar porque sei que você fala de boa-fé, mas não dá. Chega de tanta propaganda, já não bastam os quiosques novos na orla, eram lindos, leves, e agora cheio de chapeuzinhos e penduricalhos, parecendo barraca de festa junina o ano todo! No Metrô já tem bastante anúncio, tem loja, tem até faculdade onde devia ter a plataforma da Linha 2 que ninguém acaba de fazer! Querem vender agora os nomes dos nossos bairros, a história do Rio! É demais! Caso de polícia!

ELOGILDA – É, não sei… pensando bem… Talvez você tenha razão. Mas, fica tranquila, foi tanta gente a reclamar que o governador já disse que não vai deixar, não!

RECLAMILDA – Ai, que alívio! Que susto você me deu! Pede licença aí que a nossa estação tá chegando, a Carioca.

ELOGILDA – Puxa, é mesmo, o nome do nosso povo é bem melhor do que ter que saltar na Estação Pão Fresco!

E saíram as duas do Metrô para tomar um cafezinho carioca antes da labuta!


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  1. Caro Daruiz,
    A crônica já estava alinhavada quando veio a notícia de que o governador não autorizaria. Fiz a adaptação para assunto 'passado' com o lamento da pobre Elogilda… Mais adiante soube que usaram desse expediente em estações no Teleférico do Morro do Alemão e talvez em uma estação de trem…
    Obrigada pelo comentário. Para placa sugerida eu teria só uma palavra: vergonha.
    Ab.

  2. Prezada Andréa Redondo,

    Sugiro, uma "placa de propaganda" (da própria IMX) na fachada da residência particular do Sr. governador cabralino. Afinal, a "finalidade" é, no fundo, a mesma…

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