Noite carioca, de Pedro Jorgensen Jr

Uma opinião sobre o destino do Edifício A Noite

O edifício ‘A Noite’ foi o primeiro arranha-céu da América Latina – Imagem: Beth Santos/Prefeitura do Rio

Conforme noticiado na mídia, na última sexta-feira, dia 31 de março, o prefeito Eduardo Paes oficializou com a Superintendência de Patrimônio da União a compra do Edifício A Noite, na Praça Mauá, por R$ 28, 9 milhões. O imóvel será incorporado ao Fundo Imobiliário da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos, que irá buscar um investidor privado interessado no imóvel.

O arquiteto Pedro Jorgensen Jr. apresenta a sua visão sobre o futuro do Edifício no artigo publicado originalmente no Blog À Beira do Urbanismo.

Urbe CaRioca

Noite carioca

Por Pedro Jorgensen Jr – Link original

Ed. A Noite será leiloado neste semestre

Inaugurado em 1929, o edifício, de 22 andares e 102 metros de altura, tem projeto do arquiteto francês Joseph Gire, também criador do Hotel Copacabana Palace, e do brasileiro Elisário Bahiana. Foi o primeiro arranha-céu da América Latina e primeiro mirante do Rio de Janeiro.

A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) ocupava quatro dos 22 andares e foi o último órgão público a deixar as instalações, em 2012. O prédio abrigou a pioneira Rádio Nacional desde a sua criação, em 1936. O nome A Noite é uma referência ao jornal homônimo que teve sede no local.

Durante a Era do Rádio, nos anos 1940 e 1950, a Rádio Nacional transmitia para todo o país notícias, músicas e novelas. Celebridades da época, como Dolores Duran, Cauby Peixoto, Emilinha Borba e Marlene Alves, atraíam multidões para os shows de auditório.

Os demais andares do prédio eram ocupados pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e também já abrigou consulados. Para o Ministério da Economia, o prédio, que tem vista panorâmica da Baía de Guanabara, tem potencial para diversas utilizações, como um grande hotel ou até a adaptação para uso residencial. A fachada e a escadaria em caracol deverão ser preservadas em razão de seu tombamento.

Comentário

O edifício A Noite me inspira juízos contraditórios: entendo o seu tombamento como bem do patrimônio histórico, arquitetônico e cultural, mas o considero um estrupício urbanístico.

Nos dias de hoje, mais exatamente de ontem, sua construção seria muito provavelmente repudiada pela cidadania por bloquear catastroficamente a linha de visão entre o Morro da Conceição e a Praça Mauá e fazer da Travessa do Liceu, de onde parte a escada de acesso à Ladeira do João Homem, a sua área de serviço – para não dizer de despejos. Sem falar que, com o alargamento da ligação entre as avenidas Rio Branco e Venezuela para a passagem do intenso tráfego de ônibus, a calçada da Praça Mauá tornou-se mera formalidade.

Cheguei a suspeitar da origem do lote que ocupa, mas um pouco de pesquisa esclareceu a questão: seu antecessor foi o Liceu Literário Português, escola de ensino noturno fundada em 1868 e transferida em 1883 para um palacete na Rua da Saúde, no Largo da Prainha (hoje Travessa do Liceu e Praça Mauá), onde havia funcionado a Academia de Marinha.

Largo da Prainha 1885 – Fonte: ImagineRio.Org

Como a demolição do A Noite está, por vários motivos, fora de questão, eu contorno o dilema e concluo dizendo que a melhor solução é um enxerto arquitetônico: transformá-lo, na medida do estruturalmente possível, num edifício decô com galerias agacheanas, ou até mesmo um pilotis pseudo-modernista, de grande altura, que permita a ampla circulação de pessoas e perspectivas urbanas entre o venerando Morro da Conceição e o futurológico Pier Mauá. Com uma pequena exposição permanente sobre o projeto original e o histórico do lugar.

Quanto ao uso, creio que um grande albergue de turismo econômico ficaria bem a caráter. Mas isso caberá ao Doutor Mercado decidir.

Com a palavra os especialistas.

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