Em continuidade à série de postagens sobre questões, curiosidades e o histórico do Metrô do Rio, publicadas pela página “Metrô que o Rio Precisa”, temos neste capítulo o início das obras e a sua inauguração.
Parte I – Pré História do Metrô do Rio
Urbe CaRioca
Início das obras e inauguração do Metrô
Publicado originalmente na página “Metrô que o Rio Precisa”
A Linha Prioritária (Saens Peña – Nossa Senhora da Paz), segundo o Estudo de Viabilidade (1968), deveria estar concluída em 1975, mas, devido a dificuldades, a Companhia do Metropolitano – METRÔ, decidiu construir só o trecho central, ligando a Praça Onze até a Glória, com 4,5 km de extensão. A conclusão desse trecho visava a integração com os trens metropolitanos (hoje chamado de Supervia) e também a eliminação de milhares de ônibus que entupiam o Centro. Uma das preocupações do METRÔ era a integração dos passageiros da Rede Ferroviária para o restante da cidade. O METRÔ projetou, no traçado de 1968, pontos de integração do metrô com os trens metropolitanos (Central e Méier na Linha 1 e Pavuna, Triagem, Maracanã e São Cristóvão na Linha 2). A Linha 2 ainda se integraria nas Barcas, através da estação Castelo. Nessa época as barcas Rio x Niterói eram o maior sistema hidroviário do mundo, transportando cerca de 190 mil passageiros por dia (hoje levam menos de 90 mil por dia).
1969 – Foi um período de assinatura de contratos e sondagens.
1970 – O METRÔ, decide pelo início da construção do trecho inicial (Central – Glória). Finalmente em 23 de junho de 1970, no Largo da Glória (Lote 6), inicia se as obras do metrô, pelo governador da Guanabara, Francisco Negrão de Lima. Após essa etapa começou outra frente de trabalhos na Central. Porém, ainda em 1970, por motivo de dificuldades financeiras, as obras praticamente pararam. O governo anterior iniciou a obra sem um plano financeiro definido, decidindo garantir que o metrô saísse do papel começando as obras mesmo sem um orçamento.
1971 – Iniciada a primeira concretagem do metrô. As obras seguiam em ritmos tão lentos, que se convenciona falar que nesse período (1970 a 1974) estavam praticamente paradas. O metrô caiu em desgraça pela população, os buracos abertos atrapalhavam a cidade e o modal estava desacreditado.
1973 – É contratada a francesa Société Française des Etudes e Realisations de Transports Urbans – SOFRETU, para a elaboração do plano operacional da linha, bem como auxilio nas especificações dos trens. Em dezembro de 1973, só haviam 450 metros de tuneis concluídos e nenhuma estação pronta.
Em março de 1974 é inaugurada a Ponte Rio Niterói e em 14 de setembro de 1974 é inaugurado o metrô de São Paulo, ligando Jabaquara até Vila Mariana.
1975 – Finalmente as obras do metrô do Rio engrenam de vez, passando a seguir um novo cronograma, que previa a conclusão das linhas 1 (Botafogo-Saens Peña), 2 (Estácio-Maria da Graça) e Pré-Metrô 1 (Maria da Graça-São Mateus). Em março de 1975 o Governo do Estado do Rio de Janeiro decide construir simultaneamente a Linha 1 (Botafogo-Sáenz Peña) em conjunto com a linha 2 (Estácio-Maria da Graça). O ritmo das obras aumenta velozmente e o Rio vira um grande canteiro de obras. Em abril começa as obras da estação Carioca, a maior do sistema.
Temos então um marco histórico, o fim do Estado da Guanabara e a transformação da cidade do Rio em capital do Estado do Rio de Janeiro. O governador Faria Lima assume o estado e tem no metrô, a sua “obra da fusão”. Segundo matéria da Revista Manchete, no período da administração de Faria Lima, até dezembro de 1978, foram gastos Cr$ 15,8 bilhões no metrô, dos quais Cr$ 12,5 bilhões assegurados pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, cabendo à União Cr$ 2 bilhões, e ao município Cr$ 800 milhões.
Uma nova administração assume o METRÔ, temos a frente o presidente Noel de Almeida e como diretor de planejamento o engenheiro Fernando Mac Dowell.
Em julho são entregues os estudos preliminares de implantação da Linha 2 ao Consórcio SOFRETU/Etep responsável pelo Projeto Básico. Na elaboração do Projeto Básico, modificando a diretriz do Estudo de Viabilidade de 1968, a estação terminal (da etapa 1) que seria em Triagem, é transferida para Maria da Graça. Mais tarde o Consórcio é incumbido de estudar a viabilidade de uma rede complementar de Pré-Metrô (VLT), surgindo o plano de implantação de duas linhas de Pré-Metrô, a primeira (PM-1) com 15,5 km de extensão, entre Maria da Graça e São Mateus (um pouco depois da Pavuna) , e a segunda (PM-2), entre Niterói e São Gonçalo (que depois iria dar origem a Linha 3). Com a decisão de implantação imediata do Pré-Metrô 1, o Consórcio foi encarregado da elaboração do Projeto Básico e do estudo dos equipamentos.
Em abril, recebimento de proposta das empresas interessadas no fornecimento de trens de metrô, que são analisadas e julgadas entre maio e setembro.
Vejam esse vídeo de apresentação do metrô e obras em 1975:
1976 – Ao longo de 1976 as obras atingem ritmo frenético, todo o trecho entre Triagem e Estácio além da Tijuca até a região da Rua Farani, em Botafogo, viraram um enorme canteiro de obras. O método adotado é o VCA-Vala a céu aberto, onde as ruas são escavadas, os tuneis e estações do metrô são construídos, por meio de paredes diafragma para contenção do solo, e após a conclusão, as ruas são novamente refeitas e reurbanizadas. Apesar de ser um método destruidor, deu oportunidade do Rio modernizar diversas redes de agua e esgoto, além de remodelar ruas e calçadas.
Também em 1976, o diretor de planejamento Prof. Mac Dowell apresenta pela primeira vez os desenhos dos carros do metrô do Rio.
1977 – Temos primeira atualização dos traçados de 1968, com o PIT- Plano Integrado de Transportes, realizado pela equipe de pesquisas do METRÔ, sob comando do prof. Fernando Mac Dowell (que foi considerado na França como o mais jovem diretor de metrô do mundo, com cerca de 30 anos de idade na época)
Levando se em consideração toda a região metropolitana, nessa época a população era em torno de 7 milhões de pessoas (hoje são 12 milhões). O PIT faz uma analise de todo o trafego de veículos, passageiros dos trens, barcas e dos ônibus, para propor uma atualização do projeto do metrô. (Veja fotos dos traçados propostos abaixo)
1978 – São assinados contratos para a construção do trecho Estácio – Maria da Graça do metrô.
Temos a entrega dos primeiros carros do metrô, fabricados pela Mafersa (Material Ferroviário S.A.) na fabrica de São Paulo, com parceria da Budd, Villares e Westinghouse.
Veja nesse vídeo de 1978 a entrega dos carros:
Abaixo uma propaganda de jornal com os carros do metrô ” os mais modernos do mundo” (Vide imagem)
05 de março de 1979 – Após um atraso de 4 anos em relação ao cronograma de 1968, finalmente o primeiro trecho do metrô do Rio é inaugurado (Gloria – Praça Onze – sem parar na Carioca ainda em obras). O metrô do Rio é considerado o mais moderno do mundo nessa época, sendo o segundo a possuir uma frota 100% com ar condicionado, o primeiro do hemisfério sul. (Apenas o metrô de Washington, inaugurado em 1974 possuía todos os carros com ar).
O metrô carioca possui também portas de vão mais largo, com 1,90 m, enquanto nessa época os metrôs possuíam portas de 1,30m, como o de SP.
Na próxima postagem, tentarei sintetizar a inauguração da Linha 2 e o período dos anos 1980 também.
Fonte utilizada: memoria722.blogspot.com
Resumo feito por Atilio Flegner em 02 de setembro de 2019 com base em acervo pessoal, nas pesquisas de Marcelo Almirante e em mais de 7 anos de convivência com o prof. Mac Dowell