O que mudanças climáticas e planejamento urbano têm em comum? A professora Andressa Muñoz revela neste artigo como as cidades podem contribuir para reduzir os impactos das mudanças climáticas em seus ambientes.
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Planejamento urbano é a saída para enfrentar as mudanças climáticas
Andressa Muñoz Slompo
As mudanças climáticas provocadas pelo homem ocorrem de forma cada vez mais intensa em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, passamos por ondas de calor, fortes chuvas e outras questões climáticas que causam consequências negativas para a população das cidades. No ano de 2023, os efeitos do El Niño intensificaram os problemas ambientais, e estudiosos relatam que no ano de 2024 é possível que ocorra o fenômeno La Niña, ampliando os efeitos negativos do clima.
Existem acordos internacionais que buscam ações para amenizar os impactos das mudanças do clima, como a diminuição da emissão de poluentes, um dos temas da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que ocorreu em 2023. Porém, estas grandes ações por si só não são suficientes. É necessário um conjunto de ações, de diversas esferas, para que o problema consiga ser amenizado de forma efetiva.
O planejamento urbano é um caminho para tornar as cidades mais resilientes, ou seja, com maior capacidade para se recuperar rapidamente frente aos efeitos do clima. Atualmente, principalmente nas regiões sul e sudeste do país, estão ocorrendo fortes chuvas que causam alagamentos, prejudicam a população e em alguns casos afetam a distribuição de serviços, como a distribuição de água ou energia.
Alguns dos principais problemas das cidades com relação às chuvas é a poluição dos rios, a deficiência da coleta de lixo e de esgoto, a falta de educação ambiental da população e problemas de habitações irregulares localizadas em morros ou em proximidade de rios, o que dificulta a absorção de água por meio da terra e da vegetação natural, pois a mata ciliar e a mata dos morros auxiliam a drenagem natural.
A construção de edificações não regulares nestes locais prejudica ainda mais a absorção de água do terreno e coloca famílias em risco. Levantamento deste mês feito pela Casa Civil do Governo Federal e pelo Ministério das Cidades aponta que hoje 1942 municípios têm parte da população em regiões suscetíveis a deslizamentos, enxurradas e enchentes, 136% maior do que o levantamento feito pelos mesmos órgãos em 2012. São quase 9 milhões de pessoas morando nesses locais de maior vulnerabilidade.
O planejamento urbano deve considerar os sistemas da cidade, como as galerias pluviais e a captação de esgoto, que devem funcionar de maneira eficiente, através de adequações necessárias e frequentes manutenções. Além disso, as áreas permeáveis na cidade devem existir para ampliar a capacidade de absorção de água na terra e desafogar o sistema pluvial. É papel do cidadão manter sua porcentagem permeável no terreno, não poluir e não jogar lixo em locais incorretos; em conjunto com políticas públicas para manutenção dos sistemas e garantia da aplicação da legislação.
Além disso, o poder público pode utilizar de estratégias de planejamento urbano para garantir a segurança da população, através do cumprimento do zoneamento urbano e remanejamento da população situada em locais de risco, com a criação de “jardins de chuva” – que são áreas permeáveis (parques, por exemplo) para garantir a absorção da água, com a criação de áreas próprias de alagamento (lagos criados para conter as cheias), entre outros. Desta forma, as cidades se tornariam mais resilientes e mais fortes frente as mudanças climáticas.
Para que o planejamento urbano seja efetivo nas mudanças, além da atuação ativa das esferas responsáveis, a população deve realizar o controle social, acompanhando e cobrando do poder público, colocando em prática a educação ambiental e o respeito da legislação.
*Andressa Muñoz Slompo é Arquiteta e Urbanista, Especialista em Arquitetura Sustentável.
Coordenadora dos cursos de pós-graduação das áreas de Arquitetura e Design no Centro Universitário Internacional Uninter.