Domingos Peixoto / Agência O Globo Fonte: Pesquisa Globo on Line |
QUARTEL DA PM, A ENORME PEQUENEZ
Para tratar de Aquartelamento, Segurança e meandros jurídico-administrativos existem a Polícia, os juristas e o Ministério Público. Ao Urbe Carioca só cabe analisar a polêmica sobre o Quartel da PM sob o ponto de vista urbanístico. Por isso qualquer comentário parte da premissa de que o Quartel será efetivamente desativado, ou seja, prédio e terreno ficarão sem uso.
Fica a curiosidade sobre quem nasceu primeiro: saber se a saída da polícia foi decisão anterior e gerou a ideia milionária, ou se o desejo de vender a área expulsará a PM.
O caso do Batalhão é tão simples que uma frase basta para dar início a qualquer debate: LUGAR, TERRENO E PRÉDIO NÃO SÃO COMUNS.
Historiadores já repudiaram a proposta do governo para o LUGAR que há quase duzentos anos recebeu um quartel; protestos contra a demolição do PRÉDIO centenário explodem nas redes sociais; o TERRENO é um espaço único no Centro da Cidade: construções baixas no seu enorme perímetro formam o pátio interno para onde se volta uma capela. A falta do tombamento não elimina a História e a Memória. Visualmente o Rio respira no percurso entre os Arcos da Lapa e o Teatro Municipal.
No Rio de Janeiro o proprietário de um terreno vazio ou edificado que queira nele construir deve ir aos órgãos públicos aprovar um projeto de arquitetura e obter licença para demolir. Obedecida a lei urbanística, demolição e construção serão autorizadas.
O Estado, porém, não é um proprietário qualquer. Ao propor um negócio imobiliário para o Terreno do Batalhão o Governo Estadual mostra, de novo, sua enorme pequenez*, já notória com o caso do Metrô, entre outros exemplos. Reduzir o Patrimônio Cultural do Rio a escombros para que nasça mais um prédio comercial – que poderia ser construído em outro lugar – em troca de dinheiro que ninguém sabe para onde vai, é perder a oportunidade única de integrar aquele espaço à Urbe CaRioca e abri-lo para a população. É mesquinho* (coincidência: v. acepção 5).
Por outro lado, é chocante o apoio do Governo Municipal, sem voz ativa, embora seja o único responsável pelas decisões em relação ao uso do solo por determinação constitucional.
Para a Petrobrás há o Porto Maravilha, que implora por empreendimentos. Se a questão é proximidade com a Sede, há outros terrenos vazios no Centro, há prédios do Governo Federal abandonados e até os muitos imóveis igualmente abandonados pela Prefeitura, disponíveis conforme decreto anunciado há uma semana. A própria Petrobrás, além de sua sede modernosa, usa edifícios novos, como a Torre Almirante, e adaptados, como o Edifício Nilomex, exemplar Art-Decó objeto de restauração e reforma.
Para combater a pequenez dos nossos administradores e considerando ser verdade que o imóvel da Rua Evaristo da Veiga não será mais usado como quartel, o Urbe CaRiocaconvidou todos que têm apreço pelo Rio – não apenas urbanistas e arquitetos – a apresentarem sugestões em relação ao uso do Terreno do Batalhão.
· Premissa: O Batalhão será desativado.
· Condições: Ser o melhor para cidade e população sob o ponto de vista urbanístico. // Respeitar, valorizar e divulgar a Memória do Rio e o Patrimônio Cultural CaRioca.
Recebemos várias sugestões que serão apresentadas em seguida.
*PEQUENEZ – Dicionário Houaiss
substantivo feminino
1 qualidade de pequeno
2 período da infância; meninice
3 pequena altura, estatura reduzida
4 Derivação: sentido figurado.
qualidade de insignificante, de mesquinho
Ex.: a p. daquele ato deixou-o chocado
5 Derivação: sentido figurado.
falta de elevação, de estatura moral ou intelectual
Ex.: a característica principal de seu espírito era a p.
*MESQUINHO – Dicionário Houaiss
adjetivo
1 demasiadamente agarrado a bens materiais; avaro, sovina
Ex.: velho m.
2 desprezível, parco, parcimonioso
Exs.: esmola m.
presente m.
3 escasso de recursos; pobre, medíocre
Exs.: vida m.
discurso m.
4 falto de grandeza, de magnanimidade
Ex.: sentimentos m.
5 que demonstra estreiteza de espírito e de visão
Exs.: atitude m.
política m.
dirigentes m.
6 insignificante, ordinário, reles
Exs.: moradia m.
jovem de aspecto sombrio, m.
Prezado Coronel,
Pretendo divulgar hoje ou amanhã um texto com opiniões sobre o assunto Terreno do Batalhão. Gostaria de pedir autorização para publicar também a sua opinião, que pode ser o texto acima ou parte dele, como preferir. Considero importante mostar visões diferentes a respeito, como foi a enviada a este blog por outro membro da corporação.
Cordialmente.
Andréa Redondo
Caro Blog Urbe Carioca,
Autorização concedida. Grato, mais uma vez.Cel Wilton
Prezado Coronel,
Agradeço pelo comentário e informações sobre a nossa História e a forte identidade do lugar. Aproveito para esclarecer que nosso entendimento foi de que o Batalhão será transferido de lugar, pois, é claro, não deixará de existir.
Peço autorização para incluir suas ponderações no próximo texto a ser divulgado, que apenas reunirá algumas sugestões recebidas pelo Blog a respeito do uso do terreno, caso o Batalhão venha a ser, de fato, transferido.
Sua opinião – pela permanência da instituição no local – é um contraponto.
Cordialmente.
Andréa Redondo
Caro Urbe Carioca.
Lamento informar que a premissa inicial carece de fundamento ,tendo em vista que o "Batalhão" isto é o QGPMERJ não deixará de existir, apenas seus integrantes serão de uma hora para outra considerados "sem teto". O que choca, e aí não vai saudosismo algum, apenas desejo de entender, de acordo com principios logicos de administração, aliados a um espirito de corpo sadio, por que vender nosso bastião maior, nossa maior referencia fisica e espiritual, nosso "castelo", sim castelo, com muita honra, erigido com os tijolos feitos das carnes feridas e com a argamassa amalgamada com o sangue derramado de nossos bicentenarios herois, em nome de uma "modernidade" e de busca de recursos extra-orçamentarios para atender as necessidades logisticas da Corporação. Que historia é essa? que conversa fiada é essa? Onde estão os argumentos lógicos capazes de alicerçar em um científico Estudo de Situação ou Estudo de Estado Maior tal decisão.Se se quer um QG moderno, que se, com muitas LÁGRIMAS, destrua o atual, e se construa , NO MESMO LOCAL, um predio novo,mais funcional, inteligente, mais uma vez torno a dizer, no mesmo bicentenario terreno, onde estão entrincheirados e vagueantes,os espiritos de Vidigal, Castrioto, Assunção, Caxias,Portugal, João José de Brito, Pardal, Vidal,Carlos Magno Nazaret Cerqueira , Hermes da Fonseca, Fonseca Ramos, D. João VI, D. Pedro I, D. Pedro II e tantos outros brasileiros ilustres,e principalmente,por lá também vagueiam os ensanguentados espíritos e/ou as memorias ou ainda as claudicantes presenças fisicas dos mais de 5.000 policiais militares mortos ou feridos,amputados,tetraplegicos, loucos, arruinados fisicas e/ou mentalmente. É por isso, que queremos também que nosso espiritos por lá vagueim, quando nossa hora chegar,até a eternidade,junto com nossos bicentenarios heróis, temos esse direito.
O Quartel General da Rua Evaristo da Veiga n 78 tem que continuar com a sua vocação de eternidade, para o bem de toda população fluminense.
O inimigo do valoroso Co-irmaõ o Exercito Brasileiro, é outro , no momento está na Amazônia,dai seus quarteis estarem ao longo do tempo sendo tranferidos para aquela Zona Estratégica de nossa Pátria.Nosso inimigo, o criminoso, está aqui, ao nosso lado, durante todo tempo. Que haja Quarteis, mais Quarteis.
Poderiamos esmiuçar à cata de mais argumentos ditos lógico, seria perda de tempo. Simplesmente não existem, existe sim cada vez mais evidenciada a lógica das 400, alis 360, aliás outra vez, 336 moedas.
Existe sim a lógica do desamor institucional, da vaidade, da arrogancia desmedida, da prepotencia desmesurada e do desconhecimento total e absoluto a respeito dos 204 anos de luta e sacrificio da propia vida em defesa de homens, mulheres e crianças de nossa sociedade.
Para encerrar, registro que a prevalecer essa estratégia de venda do propio patrimonio para obter recursos extra-orçamentarios,para manutenir-se e modernizar-se, abre campo para que outros orgão públicos também o faça, ex:a Secretaria de Educação poderia vender 5 escolas por mes, a secretaria de Saude 1 hospital, a Petrobras, 1 poço de petroleo a cada 6 meses, O Instituto Chico Mendes, 1 seringal a cada bimestre, etc.
PS. Nossos irmãos da Gloriosa Irmandade N. S. Das Dores( portanto, não é capelinha….) estão esquecendo que só são fortes porque o QG existe, é a "Igreja do QG", a hora que o QG não mais lá existir, sua IDENTIDADE fatalmente começará a perder substancia, até, ai sim, virar um capelinha.
Muito obrigado e parabéns, a ciencia e a arte da Engenharia e da Arquitetura aprenderam ao longo dos séculos a aliar os desafios da modernidade colocando sempre ao lado de seus projetos e planejamentos o manto protetor da preservação da historia e das tradições.
Cel PM Wilton Soares Ribeiro
Foi Comandante Geral da Corporação
Prezado Coronel,
Agradeço pela atenção e considerações apresentadas.
Aproveito para lembrar que o texto não sugere em momento algum a permanência do Batalhão no prédio da Rua Evaristo da Veiga, como pode ser verificado logo no primeiro parágrafo: “Para tratar de Aquartelamento, Segurança e meandros jurídico-administrativos existem a Polícia, os juristas e o Ministério Público. Ao Urbe Carioca só cabe analisar a polêmica sobre o Quartel da PM sob o ponto de vista urbanístico. Por isso qualquer comentário parte da premissa de que o Quartel será efetivamente desativado, ou seja, prédio e terreno ficarão sem uso”.
Tampouco há objeção à venda do imóvel em si, discussão que não nos caberia questionar, tratando-se de um Próprio Estadual.
O texto defende tão somente a ideia de que deva ser dada utilização mais nobre à área de modo a oferecê-la à Cidade e à População em seu sentido mais amplo,e preservando-se a Memória do Lugar, ao invés de simplesmente destiná-la a um prédio comercial comum que pode ser construído em outro terreno.
O Blog acredita que o Governo Estadual poderá dispor de recursos públicos de suas próprias fontes, inclusive outros ativos imobiliários, que permitirão a construção de um Batalhão moderno conforme as necessidades impostas pela fundamental prestação dos serviços de Segurança Pública que o cidadão do Estado do Rio exige.
Temos certeza de que com vontade política e espírito público a melhor solução para todos, prevalecerá.
Cordialmente,
Andréa Redondo
Prezado Blogueiro
Não tenho exatamente a pretensão de mudar vossa opinião sobre a venda do Quartel da PM, mas conhecer a realidade através de outro olhar talvez o ajude a considerar a questão de outra fora:
O QG da Evaristo da Veiga é um prédio que pode ser considerado histórico pelos seguintes aspectos:
1. Tem referência no tempo-espaço, ou seja, já de muitos anos aquele local é utilizado como quartel. Isso cria memória histórica, cultura, e sentimentos individuais e de grupo.
2. Pelo menos por sua fachada ele remete seu observador a uma ideia de conservação ou preservação de originalidade, se preferirmos.
3. Dentro dele há uma capelinha tombada como patrimônio histórico.
Mas isso é só!
De resto o prédio é um conjunto de puxadinhos, de obras feitas até sem engenharia regular, muitas vezes com pedreiros e "arquitetos" improvisados, com problemas gravíssimos em sua parte elétrica, hidráulica, com estacionamento interno insuficiente, com uma quadra de esportes construída sobre uma de suas lajes descaracterizando qualquer tentativa de dizê-lo "romântico", pelo menos.
Suas paredes superespessas quase não permitem a passagem de cabos condutores, essenciais ao implemento de tecnologia da informação, quando não são blocos de pedra em suas partes mais baixas onde não passa nada mesmo.
Vazamentos, goteiras, ninhos de pombos, todo tipo de óbice ao conforto e ambientação sanitária "floresce" ali.
Quando visitei a Gendarmerie francesa, seu General comandante nos comunicou, feliz, que o Comando Geral da força estava se mudando para um quartel ultramoderno nos arredores de Paris. Ou seja, o que eles pensavam sua estratégia para resolver os problemas parecidos com os nossos e atender suas necessidades basicamente como pensávamos aqui.
O Exército Brasileiro está fazendo o mesmo há anos. Embora tenha sido duro ver o 3º Batalhão de Infantaria, uma unidade que integrou o contingente da FEB ir embora, pela venda do seu quartel histórico, compreendemos a ação do Exército, pois uma estratégia de espargimento da Força Terrestre pelo Brasil foi necessária.
Nós podemos, e penso mesmo que devemos ter todo cuidado com nosso patrimônio histórico, mas sem saudosismos que nos prendam ao passado e nos imobilizem. O passado, a história, nos esclarece o presente, mas não deve servir de amarras para uma instituição que é essencialmente servidora pública.
Colocar a Tradição, os Valores Simbólicos, e os Sentimentos de Classe à frente é privilegiar a “estrutura de poder” em detrimento do serviço.
Por fim esclareço que a venda foi decida em 2009, quando tratei pessoalmente disso com o Governador Sérgio Cabral. O dinheiro será suficiente para construir um quartel novo, ultramoderno, onde estaremos bem melhores, e ainda será aplicado em muitas outras áreas.
Um abraço respeitoso
O nome da koisa é ES-BU-LHO. É crime.