RIO DE JANEIRO PRESERVADO, MUITO PRAZER

Livre do pesadelo da violência, o carioca agora percorre a cidade esquecida’.
Joaquim F. dos Santos na crônica Muito Prazer, O Globo, 15/10/2012.


Casa na Rua do Jogo da Bola – Saúde
Foto: Fábio Carvalho
Blog Azulejos Antigos no Rio de Janeiro
O cronista nos fala sobre um tipo de resgate que a nossa cidade vem conquistando. Turistas cariocas passeiam por lugares  e recantos antes esquecidos, e descobrem  a história. Nas suas palavras “O carioca ficou orgulhoso de si mesmo”. Atribui as visitas ao fim do medo de ‘levar uma bala perdida’.
Em que pese a afirmação ser ou não verdadeira em todas as situações lembradas pelo escritor, a diminuição da violência não é o único nem o principal motivo da mudança: muito antes das recentes ‘pacificações’, professores, historiadores e arquitetos já promoviam visitas e aulas ao vivo no Centro do Rio, onde a cidade nasceu – pela segunda vez, diga-se, transferida que foi dois anos depois de Estácio de Sá tê-la fundado na Urca. Copacabana também está nos circuitos.


Não obstante a presença do órgão federal encarregado da proteção de bens culturais de interesse nacional desde 1937 – o IPHAN – os trabalhos pela valorização, preservação e divulgação do patrimônio cultural, desenvolvidos na esfera de governo municipal, foram significativos nas últimas décadas. Deram destaque a conjuntos urbanos com valor cultural de natureza primordialmente local.

Avenida Mem de Sá
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A Área de Proteção dos bairros da Saúde, Santo Cristo, Gamboa e Centro, criada em 1988, foi a primeira das futuras Áreas de Proteção do Ambiente Cultural, as APACs. Hoje somam mais de 30 bairros,  parte de bairros ou ruas protegidos.  Não fora aquela iniciativa, talvez não se pudesse hoje conhecer e citar o Morro da Conceição e a Rua do Jogo da Bola. O conjunto habitacional da Rua Salvador de Sá – feito por Pereira Passos – que, infelizmente, encontra-se em estado lastimável -, pertence à APAC do Catumbi e Cidade Nova, de 1991, assim como, provavelmente, a vila da Rua Correia Vasques que encantou o cronista .


Edifício Itahy, Lido, Copacabana
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Em 1992 os prédios art-deco do Posto 2, em Copacabana, foram protegidos pela APAC do Lido; outro “Sá” – a Avenida Mem de Sá – vive ladeada por belos sobrados da virada dos séculos XIX-XX graças à APAC da Cruz Vermelha, também de 1992.

As casas onde morou Carmem Miranda certamente estão lá porque outras leis de proteção do patrimônio cultural evitaram sua demolição.


O ‘Buraco do Lume’ existe devido a um tombamento emergencial que garantiu a permanência da praça, um dos raros espaços livres no Centro junto com o Largo da Carioca, a Cinelândia e o entorno dos Arcos da Lapa. Lá seria erguido um prédio de 40 andares. O subsolo foi escavado, por isso o nome estranho: Lume era a construtora; Buraco, o que ela cavou e foi depois coberto para a construção da praça.

O que faz o Arco de Martim de Sá no Jardim Botânico, pergunta o escritor? O blog não sabe, embora saiba que pertence à APAC do bairro, decretada em 2001.


Morros da Urca e Pão de Açúcar, aproximadamente 1893/1894
Imagem: Museu Histórico Nacional


Na ausência de tais iniciativas, quem sabe os franceses não mais subiriam o Corcovado nem os americanos adorariam o Pão de Açúcar! Poderiam ter sido desmontados em pedreiras, tal qual muitas que se espalhavam pelo Rio até serem proibidas por lei urbanística radical.




“Sobrevivemos”, gritam o cronista e os cariocas!


Sim, sobrevivemos. Não foi possível salvar nem o Palácio Monroe, nem tantos outros bens culturais e marcos históricos importantes. Mas, ainda assim, ‘A César o que é de César’: se algo ficou o mérito é de historiadores, pesquisadores, arquitetos, sociólogos e professores – servidores públicos dedicados -, da sociedade civil através dos moradores que lutaram pela preservação dos seus bairros, e, sobretudo, dos administradores que se sensibilizaram aos pedidos e propostas apresentados.


Todos se anteciparam às escavadeiras implacáveis para impedir mais desaparecimentos indiscriminados e irreparáveis.


Jornal O Globo

Nos últimos quatro anos a política não prevaleceu. Surgirá uma torre na Lapa, no meio do Corredor Cultural; outra está a caminho no que restou do Morro de Santo Antônio. Para satisfazer ao Banco Central mudou-se gabarito de altura na APAC da GamboaE, finalmente, houve pelo menos dois tombamentos questionáveis: a antiga Fábrica Bhering de Chocolatese a Gafieira Estudantina, ambos no período pré-eleitoral, ambos com dívidas tributárias e objeto de litígio entre particulares. Ambos os casos comentados em Tombamento, A Panaceia do Momento.


Ao autor de Muito Prazer, parabéns por ter chamado a atenção para tema da maior relevância. Ao Executivo, que um pouco da história do patrimônio cultural carioca inspire a próxima gestão quanto à proteção de bens culturais de interesse público, considerada e respeitada por vários administradores.

Há muito a fazer, permanentemente, pela manutenção adequada  dos bens culturais. Sua preservação ou tombamento são a base, o primeiro passo. 

Quanto às balas perdidas, só nos resta esperar que cessem de vez.

Blog Mundi

  1. Caro Anônimo,
    Obrigada pelo comentário. A possibilidade de opinar pela defesa da cidade e, em especial, do patrimônio cultural carioca, é feita através do Blog. Só os leitores interessados poderão divulgar os textos a quem acharem por bem, se quiserem, é claro!
    Um abraço e peço que se identifique quando fizer novos comentários.

  2. Seu texto deve ser encaminhado ao Prefeito, ao Governador e às suas equipes, especialmente àquelas que, ou lutam pela preservação e conservação, ou licenciam e aprovam a desfiguração da nossa Cidade. São os "comedores de floresta" e "comedores de história".

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