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A discussão sobre o Jardim Botânico está longe de acabar. O Metrô parece causa perdida: a notícia diz que ‘Leblon já tem um canteiro para obras do Metrô’; o aspecto primordial – a escolha do trajeto – foi trocado pelo salvamento de árvores, cujo corte é inevitável, e escolha do lugar para as saídas… Como este blog já afirmou e reafirmou em vários textos (marcadores Metrô) ampliar a Linha 1 é prioridade equivocada.
Mas, nem tudo está perdido: no último dia 12 um famoso colunista informou que a Defensoria Pública da União oficiou a Fifa a não permitir a demolição do antigo Museu do Índio. Salvo o fato que o prédio histórico está em processo de autodemolição há décadas, parece que há esperança, muito embora a demolição tenha sido anunciada pelo governo estadual.
METRÔ DO RIO: LINHA 4 FALSA E LINHA 4 VERDADEIRACurso primário: o menor caminho entre dois pontos é uma reta. |
Enquanto isso, candidatos à vereança, de todos os partidos, usam como bandeira justamente… o urbanismo – leia-se: pretendem cuidar de aprovar leis que tratam da construção e da expansão urbana.
É hora de divulgar o último “poeminha” da série criada em 2010 em função das mudanças significativas que ocorreram na quantidade, forma e conteúdo das leis urbanísticas da cidade desde início de 2009, já publicadas em VENDO O RIO –POEMINHA DA ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA, e VENDO O RIO, 2 – POEMINHA DA ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA.
Cabe lembrar que a forma do texto não retira a seriedade com a qual o tema vem sendo analisado. O ‘Pacote Olímpico’ foi tratado no artigo Benefícios Duvidosos, publicado no jornal O Globo em outubro/2010 e também no post recente O HOTEL NACIONAL E O PACOTE OLÍMPICO.
SOTHEBY’S IN RIO Ilustração: NELSON POLZIN |
VENDO O RIO, EMBRULHADO
por Andréa Redondo em 24/10/2010
Vendo o Rio, Especulo,
Preservar? Nunca, jamais!
Gabarito agora é pouco,
Taxas, uso e muito mais!
Nossa Copa é a desculpa,
Nossos Jogos, o pretexto.
Como o Plano não deu certo,
Preparei um novo texto.
Vou do Centro à Zona Sul,
São Conrado a Guaratiba.
Tem a Ilha, tem o Porto,
Só não fui a Sepetiba.
De um salto chego ao Alto,
Mais um pulo é Realengo.
Rio fértil, meu quintal,
Planto prédios, não molengo.
Ofereço embrulhado,
Para hotel, Pacote à parte.
Autorizo benefícios,
Ressuscito o Apart.
Nacional tem bônus extra,
Que importa a torre em riste?
No terreno mais um prédio,
O cilindro não existe.
Catumbi, na Passarela,
Nova torre, mais bondade.
Sai a Brahma, entra grana,
Em outra modalidade.
Zona Oeste, Deodoro,
Vendo a terra sem projeto.
Que importa? Não é minha…
O que vale é o concreto.
Mudar índice é bobagem
É problema “prá você”.
Dou mais área, mais volume,
É discreto, ninguém vê.
Tiro dívida e imposto,
Não importa o besteirol*.
Carioca é solidário,
Tudo pode, é futebol.
Foi votado apressado,
Maratona, há razão.
Não podia esperar,
Novo turno de eleição.
Afinal, nada acontece,
Aparece no porvir.
Adiante já está pronto,
Impossível demolir.
NOTAS:
1 – *Besteirol (Dic. Houaiss) – Substantivo masculino
Rubrica: teatro. Regionalismo: Brasil.
Gênero de espetáculo leve e humorístico, que extrai sua comicidade do absurdo, do ridículo, do grotesco, da troça e da crítica social, sem compromisso com teses
2 – Os versos referem-se à venda de gabaritos de altura aumentados em relação aos parâmetros anteriores, na região da Barra, Recreio, Vargens, Zona Portuária, e à lei chamada Pacote Olímpico que liberou benesses específicas para hotéis, entre outras. O “Plano” mencionado é o Plano Diretor, principal instrumento que rege a ocupação do solo, aprovado em 2011 com falta de transparência, manobras, apresentação de emendas anônimas sem autoria, e rapidez na tramitação, que fugiu às regras conforme vários questionamentos apontaram.