VERDE, QUALIDADE DE QUÊ?

Um Post.zitivo, Mil ressalvas.

Incentivar empreendimentos que contemplam ações e práticas sustentáveis destinadas à redução dos impactos ambientais”
Decreto nº 35745 de 06/6/2102,
ou, Decretando o carro antes dos bois.
Semana da Rio + 20
Sustentável? Inegável, é louvável. Um Post.zitivo quando a notícia é lida de repente,  superficialmente. Estudamos atentamente e esperamos, sinceramente, não seja outra lei urbanística… que mente”. Urbe CaRioca
Verde: natureza, primavera, fertilidade, juventude, desenvolvimento, riqueza, dinheiro, boa sorte, ciúmes, ganância, esperança.”

Significado das cores na cultura
 ocidental – Wikepedia, Psicologia das cores.­­

ONTEM foi publicado decreto que lista características de modelo construtivo que, uma vez utilizado, permitirá a empreendedores e futuros proprietários usufruir de benefícios urbanísticos, e também fiscais –  redução de ISS e IPTU –, relativos a construções ditas “sustentáveis”, novas ou reformadas.
www.estudiopirata.com
A criação dos benefícios depende de aprovação na Câmara Municipal de uma Lei que, portanto, ainda não existe.
Ou seja, até aqui o decreto é só mais uma atuação midiática: fogos de artifício da Rio + 20. É inútil. 
Por enquanto existe apenas uma tabela intrincada que concederá pontos conforme cada item da construção seja considerado “prática sustentável”. Uma espécie de gincana.

www.joseailtonpedra.blogspot.com.br

   Por exemplo, uma janela no hall dos elevadores vale 5 pontos; aquecimento solar da água, 10; lâmpadas de Led, 4 pontos; reuso de águas servidas, 1 pontinho.

   Depois de ganhar o prêmio não vale trocar as Leds por lâmpadas mais baratas, nem fechar varandas: quem o fizer perderá o prêmio e será eliminado do jogo.

Aquele que fizer 70 pontos ganhará o Selo Verde. Se não fizer estará desclassificado. Se alcançar 100 pontos ganhará o Selo Verde Total.

Em meio a tantos Verdes, algo incomoda, se contradiz. As cores não combinam: é visível a diferença permanente entre discursos e práticas voltadas para a Cidade nos tempos recentes, no tocante ao conteúdo das novas leis urbanísticas.
RIO DO FUTURO
Nos últimos anos o Rio de Janeiro tem sido objeto de inúmeras leis que aumentaram expressivamente o potencial construtivo de bairros e regiões sob o discurso da revitalização urbana daquelas áreas. São, em si, medidas altamente questionáveis por considerarem que a eventual degradação de um lugar será resolvida apenas mediante o interesse da Construção Civil.

Os novos índices urbanísticos, sempre para maior, têm o dom de estimular a renovação urbana, isto é, a substituição de casas e prédios antigos por construções novas e mais altas. Isso nada tem de Política Verde.

Há outro aspecto igual ou até mais significativamente preocupante: a expansão do território oferecido à ocupação urbana.
Vargem Grande, 2010
“Rua Capitão Pedro Afonso. Bombeiros resgatando as pessoas com barco. A Estrada Capitão Pedro Afonso virou rio para as águas vindas dos morros. O assoremento dos rios e canais aliados à contretagem, construção de muros e aterro de terrenos estão causando sérios problemas para o presente e principalmente para o futuro do bairro”.
www.enchentedavargemgrande.fotosblogue.com

As leis que aumentaram gabaritos e áreas de construção não só se dirigiram a bairros consolidados como a Penha, mas também a regiões onde a densidade ocupacional era baixa ou até proibida, mantendo-se as características de áreas rurais, agrícolas e residencial: por exemplo, na Baixada de Jacarepaguá conforme um ponto positivo do plano urbanístico de Lucio Costa. Foi o caso dos bairros de Vargem Grande, Vargem Pequena, Camorim, parte do Recreio dos Bandeirantes e da Barra da Tijuca, com a aprovação do PEU Vargens.

Isso também não é Verde. É Cinza como o cimento.

Para Guaratiba, após os resorts já permitidos pelo o Pacote Olímpico, a imprensa anuncia que nova lei está em estudos. É certo que a abertura do Túnel da Grota Funda vai além das questões de mobilidade urbana. Resta saber se os planos da administração para a região serão também expansionistas, ou… verdadeiramente Verdes.

O Arquiteto Verde
Ilustração: Nelson Polzin
 
A lei que ainda virá promete benesses urbanísticas: conquistados os pontos haverá mais prêmios: andares de cobertura e “play” serão ampliados – como sempre, os gabaritos, sempre eles; vagas de garagem poderão ser menores.

Parece mais um adendo, um “estranho no ninho” para usarmos um termo que homenageia a propalada vertente ecológica da proposta. Um aposto específico sobre a forma das construções, matéria do código de edificações, inexplicavelmente presente, em lei destinada a diminuir impostos.

Estes aspectos chegam às raias do absurdo dentro de uma proposta que se anuncia em prol da sustentabilidade: mais área = mais ocupação = mais cimento = menos espaços livres; permitir vagas menores = caberão mais automóveis, oficialmente.

Tais atitudes estão na contramão de teorias urbanas nem tão recentes que defendem a cidade compacta como mais sustentável, tema abordado no programa Cidades e Soluções há cerca de um mês. Expandir o território aumenta a demanda por transporte, energia, água, esgoto, asfalto, escolas, hospitais e postos de saúde, coleta de lixo…

Jogo de Tabuleiro – pesquisa internet
A Construção Civil gera empregos e impostos, e realiza uma função importante. Aí termina o seu papel. Ficam as marcas na paisagem urbana e a necessidade dos inúmeros serviços públicos na urbe ocupada – ações e recursos públicos nem sempre possíveis e disponíveis.
Uma proposta “Verde” ou “Sustentável” jamais deveria se restringir às construções em si. A Cidade precisa estar na frente. Ou tudo será apenas uma brincadeira.

Uma gincana.

Dicionário Houaiss
Sustentabilidadesubstantivo feminino – característica ou condição do que é sustentável
Sustentáveladjetivo de dois gêneros – que pode ser sustentado; passível de sustentação
Sustentarverbo

 transitivo direto e pronominal
1       evitar a queda, manter o equilíbrio de; suster(-se), apoiar(-se)

 transitivo direto e pronominal

3       dar ou receber alimentação; alimentar(-se), nutrir(-se) 
 transitivo direto e pronominal
4       dar ou obter os recursos necessários à sobrevivência ou à manutenção; manter(-se), conservar(-se) 
 transitivo direto
5       garantir e fornecer os meios necessários para a realização e continuação de (uma atividade)

  1. Obrigada, Maria, pelo comentário gentil e que incentiva! Você e o Nelson têm sido ótimos parceiros também do Blog. Os desenhos são sempre elogiados. E como são importantes para ajudar a explicar essa coisa intrincada que é a lei de uso do solo!
    Muito obrigada aos dois. A equipe de colaboradores do Blog cresce!
    bj.
    Andréa

  2. Mineira e curiosa, agora quase carioca, tenho a mania de andar pelo Rio com os olhos de turista, apreciando a sua Arquitetura, e invocando sua História. Tenho como parceiro nestas andanças o Nelson Polzin, conhecedor da City, crítico lúcido e mordaz, que sempre me apresenta parâmetros para motivar ótimas discursões sobre o tema focado acima. O Blog da Andréa Redondo dá-me subsídios para melhor entender a Urbe. Leio-o com muito prazer, e sou brindada com aspectos das leis urbanas do Rio. É bom aprender! Bjks

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