CrôniCaRioca
por AAGR
UOL |
Choque. Tristeza. Luto. Choramos as perdas em Santa Maria.
Se faltaram a licença de obras ou a fiscalização,
a irresponsabilidade das autoridades – imperdoável -,
é falta que não elide o dever de cumprir a boa norma
de construção e segurança, por parte de todo cidadão.
Às famílias e amigos das jovens vítimas de Santa Maria,
nossas orações e irrestrita solidariedade, silenciosas, sem palavras.
Porque nenhuma consola.*
Blog Urbe CaRioca
Sexta-feira, dia de CrôniCaRioca. Dia de textos leves para fazer rir, sorrir, emocionar-se com alegria… É a proposta.
Não hoje. Por Santa Maria, ainda não dá. Hoje, não.
Santa Maria por si nos emociona, de outro jeito, em outra dimensão, infeliz medida. Dispensa palavras – fora as de revolta. Muitas já foram ditas, nenhuma explica, nenhuma consolará.
Para um blog que se pretende urbano-carioca, após o choque, a tristeza, a indignação e o medo, a tragédia remete a espaços arquitetônicos e seus acessórios: portas e janelas, entradas e saídas, corredores, larguras, alturas, escadas, materiais, extintores, placas, avisos… Tudo é estabelecido em lei. Tudo, já disseram os especialistas em segurança. Nossas normas são completas e rígidas. Nelas, parece que nada falta. Falta, então, a responsabilidade.
Em todas as ocorrências dessa natureza emerge o discurso da falta de fiscalização governamental. Verdade. A fiscalização invariavelmente é precária. No entanto, o discurso ficará ‘capenga’ se junto com ele não nos lembrarmos de que existe a responsabilidade de cada um por suas ações e omissões. Somos cidadãos para que? Exigir direitos e cumprir deveres, um chavão, por certo, mas, oportuno.
O fato de não haver um guarda de trânsito em cada esquina não nos desobriga de respeitar o sinal. A falta do fiscal de obras não nos desobriga de consultar um engenheiro antes de cortar uma viga ou substituir um pilar, nem de manter um imóvel em bom estado para que a fachada não desmorone sobre a rua e leve mais vidas.
No último exemplo enquadram-se os próprios gestores públicos que abandonam seu patrimônio, caso do antigo Museu do Índio, e o do sobrado no Centro do Rio que foi ao chão há pouco, sem deixar vítimas por puro acaso.
Paulo DAuria – UOL blog |
Educação e cidadania, o segundo não existe sem o primeiro. Sem ambos não andaremos para frente, seremos para sempre o ‘País do Futuro’ de Stefan Zweig, expressão que me incomoda – o futuro nunca chega. Quisera fossemos o país ‘do Presente’!
Em tempos de premiação do “Oscar” ontem assisti a ‘Os Miseráveis’, emoção da primeira à última cena: estória e história, fotografia, cenografia – reprodução de cidades francesas na primeira metade do século XIX – o fantástico desempenho dos atores… Mesmo para quem dispensa os musicais e a cantoria vale a pena abstrair-se e encantar-se com o filme. As letras das músicas – que formam os diálogos, os monólogos e a narrativa – são lindas: a miséria, a dor e a esperança de Vitor Hugo são transformadas pelos autores e pela magia do cinema em pura poesia.
Nesta semana que começou tão triste, uma parte de ‘Os Miseráveis’ adquiriu outro contorno: a morte dos jovens que tombam sob as armas dos soldados do rei. Primeiro sem vida na barricada que montaram para a resistência, depois lado a lado, no chão… Impossível não se lembrar das vítimas que tombaram no Sul do Brasil.
June Rebellion – An 1870 illustration depicting the rebellion Wikipedia |
Os jovens franceses lá estavam defendendo seus ideais. Arriscaram-se. Voluntariamente ofereceram a vida que, sabiam, poderia acabar a qualquer momento. Nossos rapazes e moças também tinham ideais. A formatura, um diploma, um trabalho, constituir família. Mas, não ofereceram suas vidas. Tinham sonhos que lhes foram tomados.
De um lado, a falha imperdoável das autoridades. De outro, a irresponsabilidade, o descaso e a ganância dos muitos atores dessa terrível tragédia. Não dos jovens, de modo algum, que a juventude é tempo curto que ainda não garante tanto aprendizado, afasta os receios e a prudência.
Um somatório de erros e desvios inadmissíveis. Criminosos. As consequências, terríveis e irreversíveis. Irreparáveis.
Que Nossa Senhora console as famílias da cidade que leva seu nome.
NOTAS:
1 – *Abertura do post A Semana – 21/01/2013 a 25/01/2013, publicado em 27/01/2013, um dia após a tragédia que ocorreu na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul.
2 – Manchete no Jornal O Globo de ontem – Rio tem 49 espaços culturais sem alvará. Segundo o jornal são “Espetáculos de Risco”.
Outras notícias:
3 – Paes eleva multa para quem não tem alvará. – A notícia não esclarece se a Prefeitura multará a si própria no caso de seus estabelecimentos apresentarem irregularidades. Poderia começar informando se o Centro Administrativo São Sebastião do Rio de Janeiro e o prédio anexo apresentam condições de segurança. Além dos funcionários é local que recebe público imenso diariamente.
4 – O governador não falou sobre a fiscalização no estado.
Notas acrescentadas em 02/02/2013:
5 – Depois da porta arrombada, portas lacradas. Prefeitura fez mutirão de vistorias e fechou sua própria rede de teatros e similares. Diz o povo: “Casa de ferreiro, espeto de pau”, “É o roto falando do remendado”, ou “O porco falando do toucinho”. Vergonha é pouco. Se não for exagero ou mais confete para a mídia, é a mea-culpa imperdoável.
Prefeitura antecipa fechamento de teatros.
6 – Recomendo a leitura do artigo de Rosiska Darcy de Oliveira publicado no O Globo de hoje: Cultura da Irresponsabilidade.
Notas acrescentadas em 02/02/2013:
5 – Depois da porta arrombada, portas lacradas. Prefeitura fez mutirão de vistorias e fechou sua própria rede de teatros e similares. Diz o povo: “Casa de ferreiro, espeto de pau”, “É o roto falando do remendado”, ou “O porco falando do toucinho”. Vergonha é pouco. Se não for exagero ou mais confete para a mídia, é a mea-culpa imperdoável.
Prefeitura antecipa fechamento de teatros.
6 – Recomendo a leitura do artigo de Rosiska Darcy de Oliveira publicado no O Globo de hoje: Cultura da Irresponsabilidade.