Astrogilda vê, Astrogilda diz

Sabe-se que no Brasil o ano começa depois do Carnaval. Com vocês, as previsões e conselhos para 2024. Urbe CaRioca ASTROGILDA VÊ, ASTROGILDA DIZ Andréa Albuquerque G. Redondo Doc. 1 Queridos assinantes desta página iluminada por estrelas, farol que clareia a mais nebulosa das noites e aponta o caminho a trilhar. Segue inbox o número pix para o pagamento semanal. Atravesso as nuvens por vocês com os pés no chão, pois sustento não cai do céu. Em seguida, a signatária liberará o documento que guiará seus passos felizes durante os próximos sete dias. Com amor, Astrogilda Estrela Doc. 2 ÁRIES – Pense antes de falar, sem ímpetos. Entusiasmo sem excessos é perfeição. Há hora para ouvir, há tempo de calar. Reflita antes de agir, evite buscar lã por impulso e voltar tosquiado ou, o pior, ser sacrificado ou virar guisado(Leia mais)

As batatas

Crônica originalmente publicada na Página Oficinas Literárias Eduardo Affonso em 20/11/2023. As batatas “Ao vencedor, as batatas”(frase do personagem Quincas Borba no romance de mesmo nome) Machado de Assis (1839-1908) O homem saiu em disparada porta afora. Em uma das mãos levava um pacote, a outra apertava algo com força, nas costas a mochila surrada implorava por água e sabão. Ao ouvir o vendedor resmungar, para ela o inusitado passara a ser lugar comum. “De novo, de novo”, o empregado repetia. Resignado, a consolava, a mulher com os olhos arregalados frente ao inesperado. Ela estava acostumada aos pedintes que perambulavam pelas ruas do bairro, a cada dia mais numerosos. Alguns eram figuras permanentes incorporadas à paisagem humano-urbana há anos. Melhor seria dizer desumana. Outros sumiam durante algum tempo e ressurgiam asseados, cabelos aparados, roupas novas, para novamente se entregarem à(Leia mais)

Rio ordenado fora de ordem

Andréa Albuquerque G. Redondo, setembro/2023 Urbe CaRioca Rio ordenado fora de ordem “Adoro a Humanidade. O que não suporto são as pessoas” (Charles Schultz) “Cidade Maravilha, purgatório da beleza e do caos” (Em Rio 40 graus, música de Fernanda Abreu, Fausto Fawcett e Claudio Laufer, 1992) Baseado em estudos sobre a evolução urbana do Rio de Janeiro, o artista Carlos Gustavo Nunes Pereira, conhecido por Guta (1952-2012), criou imagens da cidade, um passeio no tempo que começa com a natureza quase intocada, habitada por índios, descoberta pelos portugueses e cobiçada pelos franceses. Belos quadros nos transportam para o século XVI e nos trazem de volta ao início dos anos 2000. As telas coloridas do ilustrador chamam à reflexão. Mostram construções já demolidas, substituídas por outras que seriam postas abaixo para dar espaço a novas erguidas em seu lugar, e que(Leia mais)

Cisnes

A calmaria no lago que ficava ao Norte do bosque era incomum. A algazarra dos bichos desaparecera. Pássaros não trinavam, sapos sem coaxar, abelhas sem zoar, zumbido sumido. Faltava o canto dos cisnes, o som metálico, ora rouco, ora agudo, melancolia ou felicidade? A gritaria do bando incomodava o resto da bicharada. Naquele dia, só silêncio. Patos que dormiam embalados pelo canto dos cisnes, habituados à baderna diária, acordaram assustados com a ausência ensurdecedora entrando pelos ouvidos sem pedir licença. Havia algo errado. Procuraram o guardião do bosque, um lobo que fora mau. Convertido e vegetariano, o algoz era agora protetor dos animais. Nada a temer de garras e dentes antes mortais. O mistério alimentou a curiosidade. O grupo crescia a cada passo rumo ao lago guiado pelo amigo lobo à frente da caravana. Encontraram os cisnes perto da área(Leia mais)

O silêncio do som

Andréa Redondo Crônica escrita no escopo da Oficina Literária Eduardo Affonso “A música, essa linguagem sublime, opera como o incenso e o perfume — entra em nós, só Deus sabe que pedaço do nosso ser ela tocará”. (Em a diferença entre amar e gostar, Roberto DaMatta, Antropólogo – O Globo, 02/08/2023) “Você pode ouvir a música?” Bohr pergunta a Oppenheimer em um ponto, referindo-se aos sons imaginados de partículas invisíveis realizando seus negócios. (Em Oppenheimer – filme, 2023) O radicalismo dos homens de branco acendeu uma fogueira, nela reduziu instrumentos musicais a cinzas, substituiu o som de melodias criadas pelo homem por estalos de madeiras que se despedem, crepitação. Chamas dançam em direção ao céu. Notas caladas. Acordes tolhidos. Para aqueles intolerantes a música é imoral. Eliminá-la é condição para merecer o Reino Eterno. A notícia me desnorteia. Diz-se que(Leia mais)

Maratona

Criança tem cada uma… _ Vovô, por que coxa de gente velha balança quando anda? _ É assim mesmo, meu bem, se a gente comer direito e fizer bastante exercício, melhora. Depois dessa tive que me aprumar, fiz a mim mesmo o desafio, agora estou aqui, ansioso, espero o início. A última faz tempo. Hei de conseguir. Nada de ficar pelo meio do caminho. Quero tudo, completar, até o final como nos áureos tempos de atleta! Sinto a adrenalina percorrer o meu corpo, estou pronto para dar a partida. Agora! Preciso ir com calma, paciência, devagar se vai ao longe, a lebre se cansa, a tartaruga vence. Acelero devagar, bom oximoro, deve-se ganhar velocidade aos poucos. O calção me aperta, comprei o tamanho errado? Coração dispara, recuo. Respirar, respirar. O segredo é controlar o ritmo, falta muito, se correr demais(Leia mais)

Parker

Rio de Janeiro, 05 de julho de 2023. A Papelaria tem um Café ou o Café tem uma Papelaria, tanto faz. Estão juntos, um sempre me leva ao outro. Sento-me à mesa ao lado da vitrine. Atrás da transparência, a profusão de cores lembra fogos de artifício sem fogo e barulho. A explosão silenciosa espalha o arco-íris feito de canetas, lápis, papéis e enfeites. No meio do mosaico que vejo em movimento como se através de um caleidoscópio, algo quase sem cor rouba meus olhos. Os reflexos no vidro me confundem. Sim, é ela! Ainda existe! Está quieta, repousa no veludo vestida de preto e dourado à espera de um dono. Sem se mexer me empurra para mais de meio século atrás. No Curso Primário havia um ano em que passávamos da escrita com lápis para o uso da caneta,(Leia mais)

Livros e um cafezinho

Andréa A. G. Redondo Livraria e Café. Combinação irresistível. Conheci-as em Boston, início dos 1990. Encantei-me. Cidade antiga, espírito jovem, universitários alegres, livrarias lotadas. Passei a desejar o mesmo para o Rio de Janeiro. Preces atendidas, logo surgiram, uma após a outra. Várias na área central, coração da cidade, e nos centros de compras, templos do consumo, os nossos shoppings. Nas ruas atraíam movimento: Letras e Expressões, Saraiva, Travessa, Galileu, Fnac, Cultura, muito tempo depois das veteranas Leonardo da Vinci e, sem o cafezinho nos primórdios, por certo, a tradicional Argumento. Nas pequenas cheias de charme o dono amante dos livros papeava e mostrava as novidades, como se vê nos filmes. Para assuntos técnicos havia que ir ao Centro. No meu Rio de altos e baixos o ciclo das livrarias foi um respirar de esperança, incentivos à leitura disseminados junto(Leia mais)