Um leitor do Urbe CaRioca, residente há duas décadas na confluência das ruas General Cristóvão Barcelos e General Glicério, no bairro de Laranjeiras, relata que sempre ouviu falar que os jardins da “Cidade Jardim” (como foi denominada no lançamento dos prédios) são tombados. E questiona a respeito de dados históricos sobre esse tombamento pela antiga Prefeitura do Distrito Federal.
De acordo com os levantamentos feitos pelo nosso site, incidem sobre o bairro várias leis e decretos que tratam da proteção do ambiente natural e do ambiente cultural.
Em relação ao questionamento, de fato não encontramos informação específica sobre o possível tombamento dos jardins da Rua General Glicério. Todavia, os jardins estão preservados conforme o que consta no artigo primeiro e respectivo Inciso I da Resolução nº 27 de 04/11/1997 da Secretaria Municipal de Cultura, Cidade do Rio de Janeiro.
Além disso, o artigo 4º do Decreto n. 20.611/2001, que criou a APAC de Laranjeiras, dispõe que
Quanto a dados históricos, sugerimos consultar publicações da própria Prefeitura do Rio, os livros de autoria do arquiteto Nireu Cavalcanti, profundo conhecedor do bairro em questão, além do livro acima citado, “A evolução urbana do Rio de Janeiro”, de Maurício Abreu.
Curiosidade: O conjunto de edifícios da Rua General Glicério foi “o novo bairro residencial carioca”, chamado Cidade Jardim, erguido no local onde existiu a Fábrica Fiação e Tecelagem Aliança.
Fábrica Aliança
Fonte: Blog Saudades do Rio
As fotos de hoje mostram a Fábrica Aliança, construída na década de 80 do século XIX e que foi desativada em 1937. Ficava em Laranjeiras, na região da atual Rua General Glicério. Contava com mais de mil funcionários.
Com a desativação da fábrica toda a região foi loteada, se transformando num dos melhores recantos da cidade, com um urbanismo muito interessante. Como já contou o Decourt, com o fechamento da fábrica o enorme terreno foi transformado num loteamento conhecido como Jardim Laranjeiras, sendo o responsável por isso o último proprietário da manufatura, Severino Pereira da Silva, que vislumbrando o alto valor fundiário das terras onde a fábrica se encontrava achou melhor negócio encerrar as atividades industriais e iniciar as imobiliárias.
O conjunto edificado mais marcante do novo loteamento é o conjunto de prédios ao longo da Rua General Glicério após a Praça Jardim Laranjeiras. São edifícios altos afastados um dos outros, deslocados de junto da via pública por jardins e acessos para carros e já com forte flerte no modernismo.
A lembrança deixada da enorme fábrica que existia no local é o conjunto edificado na Rua Cardoso Júnior, com casas que faziam parte da vila operária da Companhia Fiação e Tecidos Aliança, como aliás acontece em vários lugares da Zona Sul, onde as vilas operárias são as guardiãs de um pouco conhecido passado industrial de vários caros endereços.
As últimas fotos, enviadas pela tia Nalu, mostram o anúncio do lançamento da Cidade-Jardim Laranjeiras, publicado n´O Globo em 15/01/1945: “Mande construir a sua casa na verdadeira cidade que está surgindo em Laranjeiras – o bairro mais pitoresco do Rio! Adquira um dos terrenos que a Cia. Textil Aliança Industrial está loteando na Cidade Jardim Laranjeiras. Excelente situação entre a montanha e o mar. Clima saudável como o de Petrópolis. Próximo à Praia do Flamengo, permitindo a frequência diária aos banhos de mar e nas imediações do Largo do Machado onde se encontram bons estabelecimentos comerciais e casas de diversões.
A Cidade Jardim Laranjeiras será ligada a Botafogo – através do futuro Túnel Aliança – pela rua General Glicério, a nova artéria carioca, o que representa uma valorização crescente para todos os lotes localizados nessa área e uma sólida garantia para o capital empregado. Aproveite a grande facilidade de pagamento que a Cia. está oferecendo a todos os compradores e estabeleça a sua moradia num lugar aprazível, futuroso e dotado de todas as comodidades.”
Tia Nalu também enviou trechos de um texto publicado na Folha da Laranjeira (junho 1980), de autoria de Jorge Tadeu B. Leal.
E foi assim até o século XIX, mais precisamente em 1886, quando os sintomas da revolução industrial aqui se faziam sentir – foi instalada, no atual Jardim Laranjeiras, a Fábrica de Tecidos Aliança. A fábrica funcionou quase cinquenta anos (de 1886 a 1937)”. E o autor se serve da memória de um antigo morador, o Sr. Ciro de Farina, para “percorrer” o antigo panorama do local: “Entrando-se pelo portão de ferro da fábrica, localizado a 80m do início da Gal. Glicério, tinha-se à direita um muro que seguia monotonamente até hoje onde começa a Belizário Távora. Na área atrás do muro havia uma cocheira, onde nos fins do século passado funcionava o Hotel Metrópole.
(…)
No lado esquerdo da chamada Rua Aliança, moravam em grande maioria os chefes de serviço da fábrica, em casas reforçadas de alvenaria.”
Esperamos ter colaborado para esclarecer as dúvidas do leitor.
Urbe CaRioca
Nossa morei lá e não sabia dessa história fantástica ! A GGG é um dos melhores lugares do Rio , muitas lembranças
Simplesmente espetacular. Ainda mais para quem morou lá por 24 anos uma infância e adolescência num lugar que mais parecia uma próspera cidade do interior.