Artigo: MARINA DA GLÓRIA, SANEAMENTO E OLIMPÍADAS – CARTA AO PREFEITO E OUTRAS AUTORIDADES, de Antonio Guedes


Com a palavra, o CaRioca

ENSEADA DA GLÓRIA
Foto: Antonio Guedes, julho 2014

O projeto para ‘revitalização da Marina da Glória’ foi analisado em diversas postagens e artigos neste blog por ocasião da proposta então apresentada pela EBX-REX – um projeto impossível do empresário Eike Batista -, a qual não foi adiante por ferir os conceitos de ocupação do Parque do Flamengo – entre outras questões polêmicas de natureza jurídica e ambiental,.

O tema retornou com a anunciada transferência da dita “concessão” para a empresa BR Marinas, como divulgado pela imprensa* e comentado aqui em NOTÍCIAS URBANO-CARIOCAS – VARANDAS, RUA DA CARIOCA, ZONA PORTUÁRIA, GOLFE, HOTÉIS E IAB, e MARINA DA GLÓRIA. Ainda reproduzimos artigo de Sonia Rabello AS NOVAS SUGESTÕES PARA A MARINA DA GLÓRIA, NO PARQUE DO FLAMENGO -, e sua análise sobre relatório elaborado pela Comissão Especial da Marina da Glória, criada em jul/2013.

O Engenheiro de Operação Antonio Carlos Guedes, interessado em Saneamento e no que chamou de “a região do Vale do Rio da Carioca”, a partir dos conhecidos problemas relacionados à Marina da Glória e à proximidade dos Jogos Olímpicos 2016, em maio último enviou carta ao Prefeito do Rio e a outras autoridades, na qual apresenta reflexões sobre a Educação Ambiental e a poluição da Baía de Guanabara – com foco sobre a Enseada da Glória e o Parque do Flamengo.

Além da carta o engenheiro deixou à disposição do blog outros documentos que retratam preocupações, as mesmas de moradores e visitantes do Rio de Janeiro, inclusive dois vídeos que mostram a retirada das estacas construídas para receber uma garagem de barcos sobre o espelho d’água da baía, que foi vetada.

Agradecemos pelo envio do material, que inaugura coluna Com a palavra, o CaRioca.

Boa leitura.

Urbe CaRioca


MARINA DA GLÓRIA – Diário Oficial do Município 21/03/2014
MENSAGEM ENVIADA POR ANTONIO CARLOS GUEDES PARA O PREFEITO EDUARDO PAES E OUTROS**.

Caros,

Se o atual projeto da Marina Publica da Glória, do arquiteto Amaro Machado está dentro dos preceitos que fundamentaram a construção do Parque do Flamengo – necessitando, talvez, de alguns complementos náuticos -, porque a Marina não funciona corretamente?
  
Façamos juntos uma reflexão sobre esse tema, não nos esquecendo de que o que fazemos hoje – ou deixamos de fazer – interfere no nosso Legado às futuras gerações!

É o caso de se liberar uma área de 10.000 metros quadrados, às costas do prédio principal, e, em sua projeção, a construção de 12 metros de altura sem sequer dizer a finalidade?  Para que  a criação de  novos 30.000 metros quadrados negociáveis?  O Parque não foi criado por “modismos”,  sendo em si mesmo Projeto Social Olímpico –  Obrigado Lota! –  onde todo o cidadão comum pode “competir”! Transformar sua Marina em “marina para brasileiro ver”, administrando-a de forma plutocrática, não é também, de forma alguma, o caso!   

Lazer e Educação são as máximas do Parque! Talvez possamos  agregar  algum espaço dedicado à Educação Ambiental, sobretudo visando preparar crianças e jovens para lidar com as radicais transformações do meio ambiente e tormentas previstas, muitas das quais já estamos hoje enfrentando! Teremos muitos problemas “vindos pelo mar”, pense nisso, caro Fajardo! A Marina não é um bom lugar para “trabalhar” o tema?

O Mundo Econômico já contabiliza os prejuízos que teremos por conta dos desequilíbrios humanos e ambientais! A curto, médio e longo prazos,  o que será mais “rentável”, a aplicação em Educação ou em  desfiles de moda ou espetáculos circenses que podem ser realizados em outros locais?

Sérgio Besserman,  vendo por este ângulo, você não concorda comigo?  

E o saneamento da Enseada da Glória, sede náutica da Olimpíada de 2016, já não deveria nesse momento ser questão resolvida ou prioridade número 1 de todos os segmentos da sociedade? 




Ironia é  que  essa enseada, uma das mais belas do planeta, está localizada a 500 metros das instalações da  Estação de Bombeamento e Tratamento de Esgotos,  implantada em 1862 por ordem do Imperador Pedro II. Essa foi a segunda Estação desse tipo implantada numa grande capital (a primeira foi instalada em Londres ). 

Com bombas a vapor, fabricadas não menos que pela  James Watt & Co.,  ainda podem ser vistas no local, hoje sede da SEAERJ – Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro.

Infelizmente, quantos brasileiros sabem deste nosso pioneirismo em saneamento ambiental?   Em que momento nos perdermos e passamos a lançar  esgotos junto ao Monumento aos Heróis da  Segunda Guerra Mundial?  Que bela homenagem aos heróis da Pátria!  




Caro Osório,  você  que na Prefeitura trabalhou na modificação de vários caminhos da Cidade,  não poderia ajudar a traçar um novo rumo para o saneamento no Rio de Janeiro?  Trabalhar em conjunto com a CEDAE, não é mesmo Wagner Victer? Ou vamos é “deixar de legado Olímpico”  o resultado da “digestão” de mega-bactérias, consumidoras de dejetos/gorduras, como foi feito nos Jogos Pan-americanos?  Serviço, aliás, que ouvi falar que ainda nem foi inteiramente pago…  

Caro Velejador Vinícius Roriz,  de que forma podemos ajuda-lo junto à COMLURB???  Também os ecobarcos não dão conta de  recolher o “lixo” da Baía da Guanabara. Será que valem  os investimentos de suas próprias construções e os de manutenção/funcionamento?  Ou seria melhor aplicar diretamente no serviço de coleta em terra? Agora, quando pensamos em Educação, sim, www.projetograel.org.br – ecobarco é válido! Mas, decerto com outros custos.

José Carlos Barbosa, teríamos a possibilidade de obter recursos para Projetos Perenes na área de Educação Ambiental, na Marina da Glória?

Joaquim Levi, sempre muito respeitado, e grande velejador também, não seria uma marina, bem gerida, auto sustentável?  

Haveria, cara Sonia Rabello, alguma saída legal para agilizar o redirecionamento deste bem público à sua função social?   

Caro Prefeito Paes, não percamos mais oportunidades de  revitalizarmos a Marina Pública da Glória, a hora é agora, às vésperas das Olimpíadas!!!  O Rio não se candidatou a um “Mico Olímpico”, não é mesmo?  

Caros Lars  e  Torben,   não há momentos nos quais o comandante deve bradar em alto e bom tom : __cambar!!! __cambar!!!!!!!  ?

Ainda há tempo de mudar, de passar de um bordo para outro:  há que se querer!!!!! 

É hora de unirmos todos os esforços em prol da Marina da Glória, do Parque do Flamengo, da Baía da Guanabara; da nossa Querida Cidade Maravilhosa!

Abraço a todos, 

Antonio Guedes





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VÍDEOS

ENSEADA DA GLÓRIA
Foto: Antonio Guedes, julho 2014
ENSEADA DA GLÓRIA
Foto: Antonio Guedes, julho 2014
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*NOTÍCIA Jornal O GLOBO – Coluna Gente Boa BOA 30/03/2014

NOVA MARINA DA GLÓRIA – “A Marina da Glória passará a ser aberta ao público após as Olimpíadas. A revitalização, que deve ser concluída em 2017, inclui uma esplanada gramada até a ponta da enseada, aproveitando a área asfaltada usada hoje em eventos. Nos jogos, o espaço abrigará estruturas provisórias das provas de vela. Depois, vai ser liberada à circulação a pé ou de bicicleta.
NOVA MARINA DA GLÓRIA/2 –  A esplanada poderá continuar a receber eventos, mas sua aprovação por órgãos de patrimônio ficará ainda mais restrita. “A ideia é que o espaço seja público, pois tem uma das vistas mais lindas do Rio”, diz Washington Fajardo, presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. Essa é uma das decisões da comissão coordenada por Fajardo para dar as diretrizes da reforma da Marina.

NOVA MARINA DA GLÓRIA/3 – Boa parte do estacionamento deixará de existir. A área será retirada da concessão, assumida pela BR Marinas das mãos do empresário Eike Batista. Prefeitura e Iphan querem a retomada do projeto original de Afonso Eduardo Reidy. A planta, de 1965, previa ali um bosque e um lugar para piqueniques. A reforma deve ser feita até julho de 2015.”

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**NOTA SOBRE AS AUTORIDADES E PERSONALIDADES MENCIONADAS (elaborada pelo autor):

Lota – Maria Carlota Costallat de Macedo Soares (1910-1967), arquiteta, idealizou o Parque do Flamengo.
Washington Menezes Fajardo – Presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural, arquiteto e urbanista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Sérgio Besserman – economista, Ambientalista, é membro do conselho diretor da WWF-Brasil e trabalha no tema Mudanças Climáticas desde 1992, tendo sido membro da missão diplomática brasileira em duas Conferencia das Partes da ONU. Foi presidente do Instituto Pereira Passos da cidade do Rio de Janeiro e preside a Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e de Governança Metropolitana da cidade. É professor de economia brasileira na PUC-Rio, comentarista de sustentabilidade na Globonews e da cidade na rádio CBN. 
Carlos Roberto Osório – Ex-membro do Comitê Olímpico Brasileiro, ex- secretário Municipal de Conservação e Serviços Públicos, ex- Secretário Municipal de Transportes. 
Wagner Victer – Presidente da CEDAE – Companhia de Aguas e Esgotos do RJ.
Vinícius Roriz – Ex-gerente Geral de Entretenimento da EBX na Marina da Glória, atual Presidente da Comlurb, Velejador.
José Carlos Barbosa – Gestor de Projetos Culturais, ex-diretor do Theatro Municipal, ex-diretor da Fundação Roberto Marinho, Engenheiro Naval.
Joaquim Levi – Economista, Ex-secretário Estadual de Fazenda do Rio de Janeiro, Engenheiro Naval, Velejador.
Sonia Rabello  jurista e professora, atualmente é Presidente da Federação das Associações de Moradores do Município do Rio de Janeiro (FAM-RIO). É também professora colaboradora do Lincoln Institute of Land Policy (Mass. EUA) no Programa de Capacitação para América Latina, e professora do quadro permanente do Mestrado Profissional do PEP (Programa de Especialização em Preservação) do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Exerceu o cargo de vereadora da cidade do Rio de Janeiro no período de fevereiro de 2011 a dezembro de 2012, tendo começado sua carreira pública em 2008, depois de quase trinta anos de carreira no magistério, e na advocacia pública.
Eduardo Paes – Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro,  Ex-secretário Municipal do Meio-Ambiente do Rio de Janeiro em 2010.
Lars e Torben  Grael – Expoentes da Vela Nacional e Internacional, Campeões Olímpicos – Velejadores.
Amaro Machado – Nasceu em 1930, no Rio de Janeiro, formou-se arquiteto pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, em 1955. Autor de obra qualificada e numerosa, além de sua produção individual, Machado associou-se a arquitetos de renome, Oscar Niemeyer e Sérgio Bernardes e também e a outros de sua geração, Marcos de Vasconcellos e Ivan Oest de Carvalho. Homem viajado e de grande cultura, era sensível à tecnologia, à natureza e à arte. Idealista, via na arquitetura uma maneira de contribuir para o bem comum. Conceituado no meio profissional, respeitado por seus colegas e colaboradores, era também um esportista da vela. (9º Seminário Docomomo Brasil – Interdisciplinaridade e Experiências em Documentação e Preservação do Patrimônio Recente –Brasília, junho de 2011 www.docomomobsb.org). Por esses atributos, principalmente profissionais e marítimos, foi indicado para realizar o projeto da Marina da Glória. A iniciativa da Prefeitura objetivava dotar a cidade de um equipamento até então inexistente, e visava fomentar atividades náuticas esportivas e de lazer em benefício da população em geral, especialmente a de menor poder aquisitivo (Extraído de ‘Marina da Glória, sobre a constituição do lugar e sua transformação em gueto’ – Luiz Felipe M. C. DE SOUZA, Maria Cristina CABRAL).

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