“Defendi a concentração da maior parte possível dos equipamentos olímpicos no Porto do Rio. Lá, caberia tudo”.
“Na zona portuária há inúmeros prédios gigantescos desocupados. São áreas públicas ou de irmandades religiosas, de quando o Rio era capital federal. Há também uma infinidade de pequenos imóveis abandonados. Um imóvel abandonado deteriora a vizinhança. É uma contaminação, uma doença. Ele acaba com seu entorno. Se forem vários, pior ainda. É preciso reocupar os centros das cidades. Para que um lugar tenha vida, é preciso que algo funcione quando o comércio e os serviços são interrompidos. É a habitação que faz isso”.
SFM
Na entrevista concedida à Revista Época pelo arquiteto, urbanista e professor Sérgio F. Magalhães divulgada neste espaço em 29/10/2012, entre os aspectos urbanos analisados um dos assuntos foi a questão da Zona Portuária. Abrem este post os dois trechos da entrevista, referidos.
Blog Nova Centelha |
Em 2011, a advogada e professora Sonia Rabello escreveu ‘Índices Construtivos Públicos Serão Mercadorias Monopolizadas’ e questionou a compra das CEPACS em ‘Negócios no Porto Maravilha: Publicizando os Riscos’.
Em 22/10/2012 a imprensa informou que não houve muito interesse pelas CEPACs. Neste Blog, demos destaque para o caso do Banco Central, cuja lei especial foi aprovada posteriormente à divulgação do texto.
Ontem, a newsletter Ex-Blog publicou análise específica sobre o destino traçado recentemente para a região: há um histórico sobre as intervenções que lá ocorreram nas últimas décadas e questiona-se o atual abandono do viés habitacional, antes predominante (Obs. Os parâmetros urbanísticos para a Zona Portuária foram modificados pela Lei Complementar nº 101/2009). É tema da maior importância para a Urbe CaRioca. Boa leitura, bons debates!
Henry Chamberlain – Vista do lado oeste do porto do Rio de Janeiro – 1822 – Gravura e aquarela sobre papel.Pinacoteca do Estado de São Paulo
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REVITALIZAÇÃO ATUAL DA ÁREA PORTUÁRIA DO
RIO: UM ERRO ESTRATÉGICO!
1. Os Planos de Revitalização da Área Portuária do Rio vêm desde 1978 por iniciativa da Associação Comercial e liderança do Sr. Amauri Temporal, vice e depois presidente da ACRJ. Naquele momento se via a revitalização associada à recuperação do Porto do Rio.
2. Em seguida, a partir da segunda metade dos anos 80, passou-se a ver a revitalização como um projeto comercial, uma nova área do Centro do Rio, para a localização de escritórios comerciais.
3. Nos anos 90, essa visão foi alterada, para uma área de uso misto e de base residencial. Um projeto residencial de referência foi aprovado e executado. Junto a este, o programa Novas Alternativas, de restauração para fins residenciais de imóveis abandonados e tombados na região. Prefeitura e CEF se associaram nesse programa, que teve enorme sucesso.
4. Do final dos anos 90 ao final da primeira década do ano 2000, se ajustou a visão residencial, para agregá-la a enclaves culturais com efeito multiplicador sobre a área e a integração com o histórico morro da Providencia, o morro da Favela. Veio a Cidade do Samba, o favela-bairro / eco-museu do Morro da Providência e sua Vila Olímpica. No final do governo FHC, um decreto separou a área portuária da área urbana, abrindo espaço para a revitalização sustentada.
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5. Com a prefeitura do Rio, que assumiu em 2009 e, com todo o apoio do governo federal que transferiu poder decisório sobre uma área que é basicamente sua e com recursos bilionários do FGTS, foram finalmente criadas as condições para um processo sequencial de revitalização.
6. Mas uma visão negocial e especulativo-imobiliária cometeu um ERRO estratégico que terá graves consequências para a região e para a cidade. No afã de se criar atrativos a escritórios (a derrubada da Perimetral e a construção do Túnel são exemplos), se eliminou a componente residencial como eixo. O vetor cultural definido será de baixo multiplicador.
7. A insistência em recriar o Centro da Cidade na área portuária terá três desdobramentos: a) ajudará a esvaziar o Centro histórico. b) concorrerá com recursos limitados aos investimentos na região da Barra para onde se expandem polos comerciais, incluindo, claro, condomínios de escritórios. c) se funcionar, mesmo que parcialmente, agravará o caos do trânsito, com mais deslocamentos radiais e com mais uso de automóveis de passeio.
8. Um erro estratégico gravíssimo, recebido com aplausos por muitos, na busca de boas notícias. Mas um mico ou um problema sem solução em médio e longo prazo. E a primeira conta já foi lançada no bolso dos trabalhadores, a quem pertence o FGTS. Outras contas maiores virão, como cobrança de tais erros de visão. Alguns poucos ganharão muito e muitos/todos e o Rio perderão demais.
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