CAMPO DE GOLFE E APA MARAPENDI, DUAS OPINIÕES: do JORNAL O GLOBO e de ANDRÉA REDONDO

Desenho: Urbe CaRioca
Ontem, 24/02/2014 o Jornal O Globo, no espaço dedicado a apresentar duas visões sobre um tema escolhido, sempre às segundas-feiras, levou ao grande público o caso do Campo de Golfe que está em construção na Barra da Tijuca. O contraponto à opinião do importante veículo de comunicação foi feito pela responsável por este blog. Divulgamos a seguir os dois artigos na mesma ordem em que foram publicados no jornal. Primeiro, a opinião do O Globo e, em seguida, a nossa.

O caso foi analisado pelo Urbe CaRioca em vários posts que detalham os aspectos mencionados no nosso artigo-síntese no qual devido ao espaço limitado pela diagramação não foram mencionados, por exemplo, o desrespeito ao Plano Diretor da Cidade, nem as divergências que levaram à dispensa de funcionários da Secretaria de Meio Ambiente, comentadas no blog e divulgadas pelo jornal Folha de São Paulo.

Por óbvio não há mapas e fotos que esclareçam a localização e mostrem a área de reserva protegida às margens da Lagoa de Marapendi, imagens apresentadas nos artigos, necessárias aos esclarecimentos e fundamentais para a melhor compreensão do que fez a administração municipal.

Segundo divulgou o movimento Golfe para Quem? hoje haverá reunião no Ministério Público para tratar do assunto. O grupo convidou os interessados para comparecerem ao local às 14h. A notícia no Globo Esporte menciona outros aspectos. Para lembar: o Prefeito do Rio é presidente do C40, que reúne os representantes de 63 cidades para estudar propostas de medidas mitigadoras das mudanças climáticas.

E você, caro leitor, que opinião tem a respeito? Afinal, o debate continua.

Urbe CaRioca

NOTA – NOTÍCIA DIVULGADA  PELO GLOBO ESPORTE ON LINE NO FINAL DO DIA DE HOJE: REUNIÃO QUE PODERIA SUSPENDER OBRAS DO CAMPO DE GOLFE OLÍMPICO É ADIADA.

E agora, caro leitor?

Urbe CaRioca

TEMA EM DISCUSSÃO: Campo de Golfe da Barra da Tijuca
Jornal O Globo 24/02/2014



NOSSA OPINIÃO (do Jornal O Globo)

Ainda que com certa irregularidade, principalmente em razão das características específicas das demandas de cada obra, o Rio vem cumprindo o cronograma de intervenções urbanísticas com o qual se comprometeu ao reivindicar o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016. O programa de obras normalmente complexo para adequar uma cidade às exigências do Comitê Olímpico Internacional é uma questão irrecorrível para os municípios que se apresentam como candidatos a promover o evento.

No caso da candidatura carioca, a essa premissa geral juntou-se uma particularidade — a necessidade de o Rio, independentemente de ter sido escolhido como sede das Olimpíadas, enfrentar o problema de uma rede de infraestrutura deficiente, defasada, já insuficiente para dar conta de históricas demandas.

A isso, acrescentou-se um agravante: a escolha da Barra da Tijuca para concentrar competições e equipamentos olímpicos — por decorrência, a fim de receber a parte substancial dos investimentos previstos para preparar a cidade com vistas a 2016 — potencializou o desafio da infraestrutura.

A região ainda se ressente de um modo de ocupação que, em geral, passou ao largo de um planejamento bem estruturado. Com isso, ao lado de problemas como uma deficiente rede de transporte de alta frequência, convivem outros como agravos ambientais, rede sanitária insatisfatória etc.

Por óbvio, são grandes questões urbanísticas, complexas em si, agravadas por anos de leniência do poder público. A oportunidade olímpica deu grande impulso ao enfrentamento de tais demandas, e é por esse viés que a população do Rio recebe a maior parte dos benefícios que vêm sendo incorporados à malha urbana, e que ficarão para a cidade como legado dos Jogos de 2016. Outras intervenções, no entanto, ainda são objeto de questionamentos, mesmo diante da evidência de que, ao fim, o saldo será positivo para o Rio.

Caso da construção do campo de golfe numa área entre a Avenida das Américas e a Lagoa de Marapendi. Esse equipamento, que marcará a reincorporação dessa modalidade esportiva às Olimpíadas, 112 anos depois de sua última inclusão no programa de competições (em 1904, nos Jogos de Saint Louis), será um dos mais cristalinos legados do evento: a partir de 2016, funcionará como uma instalação pública para incrementar o desenvolvimento do esporte não só no Brasil, bem como incentivar o turismo nacional e internacional associado ao golfe.

A contrapartida do município para fazer frente ao investimento de R$ 60 milhões, pela iniciativa privada, o orçamento do campo, foi a liberação de uma área para a construção de um empreendimento imobiliário e um hotel.

Não houve atropelos legais nesse processo, uma vez que a Câmara de Vereadores aprovou legislação específica para uma ação integrada em que, de uma só tacada, a cidade ganha um campo de golfe de padrão internacional e amplia a oferta hoteleira.


Internet

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OUTRA OPINIÃO – ANDRÉA REDONDO

As ações recentes do poder público no Rio de Janeiro têm sido qualificadas como “para Olimpíada”, mesmo que não o sejam, conforme declarado pelo prefeito! Os Jogos são pretexto para todo projeto, apropriado ou indevido. Nesse âmbito sobressaem-se as questões relativas ao uso do solo, objeto de inúmeros desmandos.

O caso do campo de golfe na Barra da Tijuca é recordista em aspectos danosos à cidade. O local eleito pelo Executivo, um terreno situado entre a Avenida das Américas e a Lagoa de Marapendi, destinava-se em parte à construção de casas e edifícios, englobava uma reserva ambiental e uma via projetada. Essa via foi idealizada por Lúcio Costa para resguardar a Reserva Biológica de Jacarepaguá, instituída em 1959, atual Área de Proteção Ambiental — APA Marapendi.

O proprietário construtor dos primeiros prédios deveria tê-la implantado, mas, a seu pedido, a obrigação de fazer o trecho da rua foi cancelada em 2006 para que pudesse construir um campo de golfe pequeno. Se ruim do ponto de vista urbanístico, ao menos a APA ficaria íntegra!

Em 2013, para garantir a enorme área necessária às tacadas olímpicas, o prefeito e seus vereadores mudaram a lei vigente. O zoneamento ambiental foi alterado e a APA, mutilada; uma área pública que compunha a reserva, doada à cidade por exigência legal, foi excluída do Parque Natural Municipal de Marapendi e incorporada ao campo. Liberados de doar terras — que também seriam públicas — e construir a via, os empresários do mercado imobiliário conseguiram ainda mais privilégios e favores, como tantos feitos em nome dos Jogos de 2016. A lei nova aumentou a área de construção permitida e a transferiu para a Avenida das Américas, que receberá prédios mais altos.

As benesses urbanísticas que circundam o golfe olímpico apresentam sua pior face na prevalência do interesse particular sobre o público e no descaso com aspectos urbanísticos e ambientais relevantes para o Rio. Sacrificar parte da reserva ambiental concebida há mais de meio século; bloquear o livre contorno da Lagoa de Marapendi; suprimir uma rua necessária; e aumentar gabaritos em troca de um equipamento esportivo privado, para a elite (mesmo se aberto ao público), cuja necessidade não é clara (há outros locais dispostos a receber a modalidade), será um legado nocivo das Olimpíadas.

O incentivo do governo aos empresários em detrimento do respeito ao bem comum e ao interesse coletivo é indefensável. Lamentavelmente os abusos da administração municipal só encontram obstáculo nas diligentes ações do Ministério Público pelos direitos da sociedade, que, no caso, estão em curso! O prefeito do Rio pode reverter o jogo, manter a reserva e o caminho que a contorna. Seria uma boa notícia para levar ao C40, grupo mundial em ações climáticas que preside. Por coerência e por obrigação inerente ao cargo que ocupa.

Andréa Redondo é arquiteta


Local do Campo Olímpico de Golf Rio 2016 (Foto: Divulgação)
Note-se a indicação da área sobre a Reserva Ambiental. A imagem de outubro/2011.
A lei que mudou o zoneamento ambiental em tramitação relâmpago ao findar o ano de
2012 – o Pacote Olímpico 2 – foi sancionada em janeiro de 2013.
Obs: O Pacote foi aprovado Sem o Bode.


Comentários:

  1. Prezada Débora Almeida,
    Obrigada pelo comentário, muito generoso, diga-se, para comigo e para com meus escritos. Quanto à sua análise sobre o texto do O Globo, concordo com tudo. Infelizmente não devo rebatê-lo item a item, o que seria muito fácil, tal a falta de consistência. Para tanto, há os milhares de leitores do jornal – como foi o seu caso com esta colocação firme e corajosa – que têm escrito nas redes sociais condenando a "Nossa Opinião" e criticado no "boca-a-boca". Meu papel já foi feito ao tentar explicar os muitos aspectos nocivos ao Rio – e a nós – trazidos por esse projeto. Mais uma vez, obrigada.

  2. Prezado Urbe Carioca.
    Fiquei espantada ao ler o "nossa opinião" do jornal O Globo. Primeiramente um texto evasivo, genérico, que poderia ter sido feito por qualquer pessoa, sem nenhum conhecimento técnico, ao contrário da excelente "outra opinião", redigida brilhantemente por Andréa Redondo. O texto "Interesse Privado" é justo, apropriado, coerente, e redigido sob a óptica de uma autora que se preocupa com o bem do Rio de Janeiro, do patrimônio público, do meio ambiente, do uso dos espaços públicos pela população. Tais alvos de preocupação da autora são os que a Prefeitura do Rio de Janeiro -através de seu chefe do executivo e seus parlamentares- deveria ter como preocupação e prioridade: a cidade e a população. Mas, como apontado no título, o interesse privado (e os eleitoreiros/políticos) parece ser o único atendido por estes servidores públicos pagos com o salário do contribuinte e que gastam a renda do contribuinte para atender aos interesses privados: das empresas beneficiadas e dos políticos tomadores dessas decisões. Quantos absurdos. Perde a cidade, perde a reserva, bens intangíveis, perdas irreparáveis.
    Em tempo, deixo abaixo minha crítica, nada elegante como os textos da autora, sobre a opinião do manipulador O Globo. Não é uma visão com tão apurado grau de conhecimento técnico, mas certamente é representativa da visão de centenas de cidadãos cansados dos desmandos e prejuízos que este prefeito traz a nosso amado e querido Rio de Janeiro.

    "
    ???BOM PARA A CIDADE???
    http://oglobo.globo.com/opiniao/bom-para-cidade-1-11680044
    Isso é uma piada, né? Quem escreveu? O Paes?

    "ficarão para a cidade como legado dos Jogos de 2016. Outras intervenções, no entanto, ainda são objeto de questionamentos, mesmo diante da evidência de que, ao fim, o saldo será positivo para o Rio."

    Legado de 2016??? Mesmo diante da evidência de que o saldo será positivo? Tipo essas evidências?? http://www.pinterest.com/scoutthrasher/abandoned-olympics/

    "um dos mais cristalinos legados do evento: a partir de 2016, funcionará como uma instalação pública para incrementar o desenvolvimento do esporte não só no Brasil"

    Golfe público? Pra quem???? Taco de golfe é barato? Equipamento é baratinho? Carrinho para se deslocar lá do buraco 1 para o buraco 80, uma pechincha??? Desenvolvimento público do esporte … golfe? Piada pronta. Não poderiam sei lá, alugar aquele Golfe Clube que já tem ali pertinho e ocupa um espaço gigantesco? Se é assim poderíamos pedir desenvolvimento social com esportes através de fórmula 1, velejar, desses esportes baratinhos que há pelo mundo!

    E a cereja do bolo:
    "a Câmara de Vereadores aprovou legislação específica para uma ação integrada em que, de uma só tacada, a cidade ganha um campo de golfe de padrão internacional e amplia a oferta hoteleira."

    A Câmara, composta por maioria esmagadora dos coligados deste corrupto Paes, uma base governista majoritária, q aprova qq coisa que ele peça. Noooosssa, que ótimo, a cidade inteira ganha um campo de golfe, para não usar! Amplia a oferta hoteleira… algo realmente "necessário", hotel de luxo, com coberturinhas de 61 milhões garantida para o malllllandro Huck, Luciano Huck , aquele que contrata a esposa do Cabral como advoagada para conseguir alterar legislação estadual para legalizar a casa ilegal dele lá em Angra, feita em área de proteção ambiental.
    http://www.diariodorio.com/um-apartamento-na-barra-por-r-61-milhoes/
    http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,decreto-de-cabral-favoreceu-cliente-de-sua-mulher-em-angra,502671,0.htm

    Tudo isso a que preço? Com a destruição de uma área de preservação ambiental, essa sim era de todos!! Arrancando aquelas lindas árvores. "

    Debora Almeida

  3. Obrigada, Monica. Fico espantada com a falta de respeito para com a coisa pública, neste caso de modo cristalino verdadeiro (e, de jeito nenhum conforme O Globo entende por cristalino). Perdemos todos. Pelo menos que fique registrado. Pela repercussão mais pessoas concordam conosco. Ab.

  4. Parabéns, Andrea, pelo texto fundamentado nas consequencias da não obediência da lei vigente em virtude de interesses privados.
    Como sempre, quem sai perdendo são os moradores da cidade.

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