ESPAÇO DE PEDESTRES SOBRE TEMPO DE VEÍCULOS, de Eduardo Cotrim Guimarães

                                          

     Internet – Youtube – Indicação: Acervo Jean Manzon

Eduardo Cotrim é colaborador deste blog e tem nos brindado com vários artigos, dos quais VIDA CARIOCA N° 13: UM DIA NA CENTRAL DO BRASIL DOS ANOS 50 e RIO DE JANEIRO, BÚSSOLA, TERRITÓRIO E PROJETO tiveram grande repercussão.

Desta vez o autor apresenta de forma peculiar a difícil relação entre pedestres e veículos nas ruas da Cidade Maravilhosa. Esperamos que a crítica construtiva colabore para que as condições do trânsito no Rio de Janeiro fiquem melhores e, acima de tudo, que haja mais conscientização por parte dos motoristas e respeito pelos pedestres.


Nota: Os filmes selecionados por Cotrim mostram que os problemas com a mobilidade urbana, a falta de transporte público adequado e suficiente, e a insegurança de pedestres e passageiros são antigos. As soluções que se sucedem desde então ainda não satisfazem ao Rio e à Região Metropolitana. O primeiro filme é da década de 1950; o segundo, de 1976. Quarenta anos depois deste, o quadro é cada vez mais grave.
Boa leitura.
Urbe CaRioca


Internet

Espaço de pedestres sobre Tempo de veículos

Eduardo Cotrim Guimarães
22/11/2015
Em São Paulo, a velocidade máxima permitida na grande maioria das suas vias é de 50 Km/h, o que resultou de um simples Decreto, ou Lei Municipal. Mas está funcionando: placas indicam, policiais param os veículos, pardais multam, e alguns destemidos podem mesmo ir à falência, pois a multa é alta.

No Rio de Janeiro a situação é caótica. Para ilustrar, um ser imaginário (SI) responderá a algumas indagações de um curioso imaginário (CI):

CI: _Como vão as empresas de ônibus e frotas veiculares concedidas ou privadas, em geral, na Cidade do Rio de Janeiro?
 
SI: _Causando mortes, pagando o ‘bifão’, furando sinais. Infelizmente.

CI: _O que se exige para que alguém se candidate a condutor?

SI: _Carteira de motorista expedida pelo Detran – RJ. É mais que suficiente.

CI: _ E como têm atuado os órgãos de trânsito?

SI: _Para responder a essa pergunta, vamos à nossa campanha histórica carioca, sempre a favor da boa fluidez do tráfego!

1.     “Pedestre, atenção, só atravesse a rua se houver faixa e quando o sinal estiver excessivamente verde para você, mesmo assim, confira bem!”

2.     “Cuidado, pedestre, ao atravessar a rua não seja uma idosa, uma criança, um embriagado, um mendigo, um deficiente ou um turista!”

3.     “Atenção, pedestre! Ao toque da biruta do edifício, os carros que saem das garagens têm total prioridade sobre você. A biruta não é para ele, entenda isso!

4.     “Pedestre, sua família te espera vivo em casa!”

5.     “Não corra, papai, você pode bater num poste!”
CI: _Então, qual a velocidade permitida na Rua Arquias Cordeiro? Na Rua Jardim Botânico? Na Praia de Botafogo? Na Avenida Dom Helder Câmara? Na Avenida…
SI: _Aquela que você sabe, ora. CI: _Como saber melhor?

SI: _ “Te vira”, vai ler o manual. CI: _Há placas?

SI: _Algumas, em alguns lugares, sim. CI: _Há pardais?

SI: _Não muitos. CI: _E por que um controle tão minguado?

SI: _Entenda que somos contra a indústria da multa. Ela nos aterroriza. Quer saber mais? Transforma-nos, por que nós cariocas temos essa aptidão para a velocidade.


Site Absurdo Brasil

O Jornal Folha de São Paulo de 22/11/2015 noticiou que “os acidentes com mortes no trânsito caíram 50% em setembro deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado.” (…) “Um dos motivos para a redução dos casos na cidade é a redução do limite de velocidade nas principais vias, a implantação de faixas e semáforos de pedestres, radares do tipo lombada eletrônica e ciclovias”.


Sabemos que São Paulo não é Helsinque que planeja eliminar carros até 2025. É possível que mesmo na Finlândia não se chegue a tanto, mas, a algo bastante próximo. 

E claro também que em São Paulo ainda se perdem muitas vidas, mas as vias paulistanas, de certo modo, sempre foram mais bem controladas que as nossas. Agora apenas o limite de velocidade foi um pouco mais reduzido.

Na mesma data o Jornal O Globo noticiou que “os dados mais recentes do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), do Ministério da Saúde, revelam o quanto é alto o número de mortes de pedestres no Rio. Em 2013, 404 pessoas morreram atropeladas na cidade, o correspondente a 68,9% do total de óbitos no trânsito, considerando-se apenas os registros em que os dados estão completos. Ou seja, os dados referentes a 2013 (sim, 2013!) revelam que no mínimo quase 70% das mortes no trânsito na capital foram de pedestres por atropelamento, fora 366 vítimas sem informação se eram pedestres, ciclistas ou ocupantes de veículos.

Assim, no mesmo dia lê-se uma notícia boa e outra ruim.

Há que se reconhecer que na mesma matéria, bem informada e oportuna, a CET-Rio sinaliza um estudo para estabelecer em 50Km/h o limite nas vias principais. Boa inspiração. Mas o interlocutor não deixa de acrescentar: “Nossos agentes fazem ainda campanhas junto a pedestres, para que atravessem nas faixas”.

Sim, ou o motorista acelera mais para aplicar um susto pedagógico ou quem sabe uma atropeladinha, afinal o que um pedestre pensa fazer no meio do asfalto?  De qualquer forma, sejamos otimistas! Desde que as iniciativas dos órgãos afetos ao trânsito não se limitem a produzir campanhas a favor (ou contra) os pedestres, a situação pode melhorar exponencialmente.

É importante que os sinais de pedestres sejam programados de modo a que o tempo de travessia atenda também às pessoas que andam em ritmo mais lento. Um exemplo entre muitos na cidade está na esquina das Avenidas Afrânio de Melo Franco e Ataulfo de Paiva. Lá, quando o sinal de pedestres abre, um idoso, mesmo com pouca dificuldade de locomoção, percorrerá um terço da pista. Os mais jovens e crianças chegam à metade. Quando o sinal começa a piscar, os motoristas se irritam, aceleram em “ponto morto” por estarem ainda parados. A ordem é causar pânico, aumentar a pressão cardíaca do idoso transeunte, e fazer com que todos os demais corram!

Um técnico em trânsito contou-me uma estória interessante: quando a velocidade permitida diminui sensivelmente, os veículos tendem a se aproximar mais uns dos outro, em função da maior segurança, e a fluidez nas vias evolui melhor.

Agora é apertar o cronômetro e esperar para ver. Com uma cidade mais calma todos terão mais chances de curtir melhor a vida e o dia a dia no Rio de Janeiro.                                               
Eduardo Cotrim Guimarães é arquiteto


Ônibus Rio de Janeiro 1976. (Imagens: Arquivo Nacional) Zappiens.br
(Old bus in Rio de Janeiro)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *