MANCHETE, REPORTAGEM O GLOBO E OPINIÃO DO MOVIMENTO GOLFE PARA QUEM?

Hoje, 30/11/2014, o principal jornal da urbe carioca traz entre suas principais manchetes: Tacada Olímpica: O campo de golfe olímpico, às margens da Lagoa de Marapendi, ganha os primeiros contornos (…) O Prefeito Eduardo Paes anunciou que o local será administrado pela iniciativa privada após os Jogos.



A reportagem Prefeitura prepara modelo de concessão do campo de golfe, na Barra, para depois da Olimpíada descreve alguns aspectos do caso essencialmente o ponto de vista da Prefeitura, com declarações repetitivas do Prefeito que, infelizmente, carecem de credibilidade e servem àqueles que não conhecem o assunto em profundidade como, por exemplo, usar a figura do “Parque das Benesses” para justificar a obra do campo, entre outros sofismas.



A seguir transcrevemos dois textos: o primeiro, divulgado pelo Movimento Golfe para Quem? nas redes sociais, comenta a reportagem citada; o segundo é o artigo de nossa autoria publicado na coluna Opinião daquele jornal, em 24/02/2013, intitulado INTERESSE PRIVADO, ao qual se contrapôs o editorial BOM PARA A CIDADE, que expressa a visão do periódico, e, por conseguinte, o apoio ao empreendimento imobiliário e à supressão da reserva ambiental e da via Parque, verdadeiras faces do projeto.

E você, caro leitor, o que pensa a respeito? Certamente os muitos que apoiaram a ideia levada ao Desafio Ágora – PRESERVAR O PARQUE MUNICIPAL ECOLÓGICO MARAPENDI ÍNTEGRO concordam com a ‘nossa opinião’. Boa leitura.

NOTA: No último dia 27 o vereador Renato Cinco requereu à Mesa Diretora da Câmara Municipal a instalação de comissão parlamentar de inquérito destinada a investigar o processo de licenciamento ambiental e implantação do campo de golfe olímpico. Vários artigos neste blog podem ser de interesse para os ilustres edis.

Urbe CaRioca


INFORMAÇÃO


DEU (E NÃO DEU) NO O GLOBO!
Golfe para Quem?
30/11/2014
Qualquer cidadão brasileiro sabe que as organizações “Globo” são detentoras de um poder avassalador, capaz de influenciar a opinião pública e provocar reações na sociedade, sobretudo pela abrangência dos canais de comunicação que explora. Não é novidade também que as organizações Globo, de acordo com a conveniência de seus negócios, alinha-se a tal ou qual corrente política.

No caso de Campo de Golfe Olímpico é importante destacar que o Jornal O Globo reluta em publicar os fatos com isenção e correção, obviamente, para não comprometer os interesses do grupo político que tem ao seu ao lado na cidade do Rio de Janeiro e, sobretudo, para não prejudicar os interesses econômicos de seus grandes anunciantes, que no caso do Campo de Golfe, são as construtoras que gastarão milhões e milhões de reais com anúncios dos empreendimentos imobiliários (lembra-te que serão construídos 22 prédios de luxo de 23 andares).

Assim, fica evidente que o Jornal O Globo do dia 30/11/2014, ao tratar da questão do Campo de Golfe, omite informações importantíssimas que detém sobre o fato, deixando de informar à sociedade, por exemplo, as repercussões de ordem econômica e política.

Com efeito, a construção do Campo de Golfe não é combatida apenas pelos crimes ambientais praticados pela Prefeitura do Rio de Janeiro em associação com seus “parceiros” econômicos, cúmplices de um esquema denunciado há mais de um ano pelo movimento social “Golfe para Quem?” e outros grupos que se levantam contra os prejuízos ao erário sob falaciosos pretextos olímpicos.

Cumpre-nos lembrar o que O Globo deliberadamente omite:

1 – O prejuízo de mais de 1 bilhão de reais para a Cidade do Rio de Janeiro:

Para a execução do Campo de Golfe, o Prefeito do Rio de Janeiro propôs a doação de uma parte do Parque Marapendi, uma área de 58.000m2 de mata atlântica nativa situada na margem da Lagoa de Marapendi, avaliada em mais de 300 milhões de reais; Além da doação de uma parte do Parque Natural Municipal Marapendi, por inciativa do Prefeito, foi concedido um aumento de gabarito para construção de prédios no local, o que proporcionou uma vantagem econômica para o “parceiro privado” de mais de 1 bilhão de reais! Não bastassem as duas vantagens econômicas acima estimadas, o Prefeito do Rio de Janeiro concedeu para construtora Fiori (Pasquale Mauro) uma isenção de pagamento de uma taxa municipal no valor de R$ 1.860.000,00! Além das vantagens concedidas e perdão da dívida fiscal, o Prefeito do Rio de Janeiro negligencia sobre a arrecadação do IPTU da área, pois, o terreno de mais de 1 milhão de metros quadrados na Barra da Tijuca, isto é, uma área correspondente a 100 campos de futebol, não tinha inscrição municipal e não arrecadava IPTU! Some-se então as vantagens concedidas ao particular e conclua você, se o Prefeito do Rio de Janeiro está “limpo” neste projeto e veja se O Globo está “inocente” na divulgação de apenas uma faceta do problema.

2 – A ilegalidade da licença dada pela Prefeitura a partir de uma decisão pessoal do Prefeito, contrariando pareceres técnicos da própria Secretaria de Meio Ambiente e da Procuradoria Geral do Município.

3 – A aprovação da Lei Complementar n.º 125/2013 no “apagar das luzes” de 2012, violando as Constituições Federal e Estadual, além de toda a legislação federal ambiental.

A matéria produzida pelo “O Globo” se apresenta como uma fajuta explicação pública do Prefeito, dando voz somente a ele e calando todos os argumentos que são colocados contra a construção desse campo de golfe.

Por este motivo, é extramente importante compartilharmos a verdade dos fatos pelas redes sociais e promover a repercussão de que a grande mídia, comercial e rasa, não faz.

Nossa luta pela preservação da Reserva Marapendi não é apenas por um meio ambiente melhor, mas por um país melhor, mais digno e menos sujeito à ação de políticos e empresários que se associam para saquear seus bens. Por isso, contamos com vocês na campanha pela instalação da CPI do Campo de Golfe, pois, nossa obstinação será levar este caso até as últimas instâncias, pois a nosso ver, há muito se transformou em uma questão de Estado.


INTERESSE PRIVADO
Andréa Redondo
Outra opinião, O Globo, 24/02/2014
As ações recentes do poder público no Rio de Janeiro têm sido qualificadas como “para Olimpíada”, mesmo que não o sejam, conforme declarado pelo prefeito! Os Jogos são pretexto para todo projeto, apropriado ou indevido. Nesse âmbito sobressaem-se as questões relativas ao uso do solo, objeto de inúmeros desmandos.

O caso do campo de golfe na Barra da Tijuca é recordista em aspectos danosos à cidade. O local eleito pelo Executivo, um terreno situado entre a Avenida das Américas e a Lagoa de Marapendi, destinava-se em parte à construção de casas e edifícios, englobava uma reserva ambiental e uma via projetada. Essa via foi idealizada por Lúcio Costa para resguardar a Reserva Biológica de Jacarepaguá, instituída em 1959, atual Área de Proteção Ambiental — APA Marapendi.

O proprietário construtor dos primeiros prédios deveria tê-la implantado, mas, a seu pedido, a obrigação de fazer o trecho da rua foi cancelada em 2006 para que pudesse construir um campo de golfe pequeno. Se ruim do ponto de vista urbanístico, ao menos a APA ficaria íntegra!

Em 2013, para garantir a enorme área necessária às tacadas olímpicas, o prefeito e seus vereadores mudaram a lei vigente. O zoneamento ambiental foi alterado e a APA, mutilada; uma área pública que compunha a reserva, doada à cidade por exigência legal, foi excluída do Parque Natural Municipal de Marapendi e incorporada ao campo. Liberados de doar terras — que também seriam públicas — e construir a via, os empresários do mercado imobiliário conseguiram ainda mais privilégios e favores, como tantos feitos em nome dos Jogos de 2016. A lei nova aumentou a área de construção permitida e a transferiu para a Avenida das Américas, que receberá prédios mais altos.

As benesses urbanísticas que circundam o golfe olímpico apresentam sua pior face na prevalência do interesse particular sobre o público e no descaso com aspectos urbanísticos e ambientais relevantes para o Rio. Sacrificar parte da reserva ambiental concebida há mais de meio século; bloquear o livre contorno da Lagoa de Marapendi; suprimir uma rua necessária; e aumentar gabaritos em troca de um equipamento esportivo privado, para a elite (mesmo se aberto ao público), cuja necessidade não é clara (há outros locais dispostos a receber a modalidade), será um legado nocivo das Olimpíadas.

O incentivo do governo aos empresários em detrimento do respeito ao bem comum e ao interesse coletivo é indefensável. Lamentavelmente os abusos da administração municipal só encontram obstáculo nas diligentes ações do Ministério Público pelos direitos da sociedade, que, no caso, estão em curso!

O prefeito do Rio pode reverter o jogo, manter a reserva e o caminho que a contorna. Seria uma boa notícia para levar ao C40, grupo mundial em ações climáticas que preside. Por coerência e por obrigação inerente ao cargo que ocupa.

Andréa Redondo é arquiteta

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