Notícias sobre o projeto para o Palacete Modesto Leal

Há alguns dias publicamos o post “Associações de moradores de Laranjeiras promovem abaixo-assinado pelo tombamento definitivo da Chácara Modesto Leal”. Na ocasião não obtivemos informações sobre a proposta para construção de um condomínio no terreno onde se situa o belo palacete chamado Modesto Leal, em Laranjeiras.

Neste sábado,  a empresa responsável pelo futuro empreendimento divulgou informe de página inteira no jornal O Globo com texto explicativo e um desenho do terreno com os respectivos setores e usos planejados.

Sem entrar em juízo de valor nem em análises sobre a questão, reproduzimos abaixo a matéria publicitária com o citado desenho, que mostra a futura divisão do imóvel e a parte dos jardins que poderá ser usada pelo público em geral prevista na proposta, a qual, segundo a empresa, já foi aprovada pelos órgãos de proteção do Patrimônio Cultural.

Urbe CaRioca

Restauro entregará espaços de casarão a cariocas

Por Bait Inc. – O Globo, 14 de maio de 2022

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Palacete Modesto Leal,na Zona Sul do Rio — Foto: Foto: Divulgação

Palacete Modesto Leal, na Zona Sul do Rio, terá área externa visitável pelo público pela primeira vez na História

Ruas arborizadas , atmosfera interiorana, praticidade e um clima acolhedor fazem de Laranjeiras um dos bairros mais charmosos do Rio de Janeiro. Em meio ao comércio farto, prédios modernos e cultura pulsante, é possível encontrar construções que guardam a história da cidade. No futuro, um desses espaços vai abrir as portas para visitação, oferecendo aos moradores da região mais opções de lazer. Construído no fim do século XIX, o Palacete Modesto Leal ganhará um projeto de restauro e recuperação de áreas internas e externas. A iniciativa faz parte do compromisso da incorporadora Bait, que vai construir no terreno de 34 mil metros quadrados um empreendimento residencial com 130 apartamentos. O público vai poder aproveitar o jardim que fica na frente da casa, além de um jardim histórico romântico, que serão recuperados e poderão ser frequentados como espaços de descanso, piqueniques e outras atividades ao ar livre.

— Vamos cuidar desse bem  histórico, antes fechado, e entregar parte dele ao Rio de Janeiro totalmente recuperado. Será mais uma área de lazer e resgate histórico para o carioca, vinda do setor privado, e essa iniciativa vai ao encontro de um antigo desejo dos moradores do bairro. De poder acessar os espaços históricos e entregar ao bairro o prédio histórico — explica Henrique Blecher, CEO da Bait.

O projeto, além de recuperar as áreas verdes, vai preservar a construção histórica, onde parte dela terá uso comercial. O palacete é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e também faz parte da área da APAC Laranjeiras, e se encontra na área de entorno das Casas Casadas, ambos de responsabilidade do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). Os dois órgãos se manifestaram favoravelmente, aprovando o projeto, e irão acompanhar as obras de restauro. O desenho original da área inclui a casa — isolada no centro do terreno —, um jardim amplo à frente, entradas laterais, viveiro, cavalariça e o Jardim Romântico, além de arcadas nas laterais e uma área de Mata Atlântica preservada ao fundo. O palacete possui dois andares, com amplos salões e uma capela.

— Queremos dar vida a esse bem. As intervenções vão ser feitas seguindo as orientações do Patrimônio, com cuidado para preservar a memória do lugar — conta Jorge Astorga, arquiteto e restaurador responsável pela reforma.

— Foto: Arte/G.Lab

As construções possuem pisos e forros de madeira, pinturas artísticas em telas, pedras portuguesas e já receberam pelo menos uma reforma. O período de obras, acredita Jorge Astorga, vai ser também um tempo de descobertas importantes:

— Na hora do restauro, vamos ver as camadas das pinturas antigas. Pode ser que sejam encontrados elementos do projeto original, como pinturas que foram recobertas.

O compromisso com o Patrimônio Histórico incentiva que obras de restauração tenham acessibilidade. O palacete já conta com um elevador que liga o primeiro ao segundo piso, mas deve receber outras adaptações para acessibilidade. As varandas, telhados, a cavalariça, o viveiro e as arcadas receberão restauros de acordo com suas especificidades, enquanto a pintura em tela que decora a casa, obra do artista Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo, também vai ser restaurada e ganhará iluminação especial.

Replantio de espécies nativas

O restauro vai causar impacto em quem circula pelo bairro diariamente. As chapas de metal que hoje impedem a vista do prédio histórico serão retiradas, dando ao morador de Laranjeiras a chance de ver o jardim e o palacete desde o lado de fora. A área interna do projeto residencial vai ganhar um novo paisagismo, pensado para combinar História e contemporaneidade no mesmo ambiente.

— Os novos jardins precisam refletir o modo de vida da sociedade atual. A relação com o verde está cada vez mais presente dentro dos espaços. Precisamos destacar a história da construção, mas dando a ela uma nova identidade — comenta Gustavo Leivas, arquiteto e paisagista do Escritório de Paisagismo Burle Marx.

O projeto paisagístico é pensado para que os moradores conheçam o terreno aos poucos. Os caminhos para circular pela área ganharão formas orgânicas, com espaços dinâmicos que podem ser usados para a contemplação.

— Os novos edifícios serão baixos e ainda será possível circular pelos pilotis. Entre a cavalariça e o palacete, vamos preservar o espaço gramado. Será um local de muita liberdade, de relaxamento, bom para as crianças brincarem. No fundo, o caminho para a mata descortina paisagens. É uma joia do Rio, possui uma riqueza de experiências que o jardim irá “costurar” — detalha Gustavo.

Um estudo feito por Marcelo Carvalho, engenheiro florestal e responsável pela recuperação da área verde, apontou que o espaço existente de Mata Atlântica aos fundos do terreno possui mais de 40 espécies nativas. No entanto, com o tempo, espécies exóticas invasoras tomaram conta da vegetação do local. Além do replantio da mata nativa e da vegetação paisagística, a recuperação prevê repavimentação da rede de drenagem no espaço verde.

— Vamos reintroduzir espécies do passado que desapareceram com o tempo, como pau-brasil, palmito-juçara e jacarandá. Isso garante perpetuidade da vegetação para gerações futuras. Com isso, aves e mamíferos devem voltar a circular pelo local. É uma recuperação da História — avalia ele.

No Jardim Romântico, ao lado do casarão, os moradores e o público vão poder aproveitar o espaço que conta com torreão, gruta de pedras artificiais e quiosque elevado sobre a gruta, além de quatro pontes e um lago que estava enterrado. O trabalho de restauro vai respeitar as características originais, resgatando esteticamente os elementos. O lugar também inclui abrigos para animais. As pesquisas que norteiam o projeto indicam que a família que, originalmente, morava na casa tinha fascinação por bichos.

— Eles tinham pavão, faisão, cotia. Quando o lago for recuperado, a água vai atrair uma fauna muito grande. Eles também serão “chamados” pela vegetação e pelo novo ambiente — aposta Eduardo Barra, arquiteto responsável pela pesquisa histórica e pelo restauro desse importante jardim.

A intenção de Barra é que o local seja muito aproveitado. O Jardim Romântico vai ganhar acessibilidade, bancos e pavimentação que seja fácil para caminhada.

— Será mais um espaço de lazer. O morador da região poderá levar os filhos para um banho de sol, passear com os pais, sentar para ler um livro ou bater papo. É um oásis no meio do bairro — comenta ele.

Palacete guarda elementos que marcaram época

Transformação do uso do terreno oferece ganhos para a cidade do Rio, avalia arquiteto

O Palacete Modesto Leal, que ocupa o número 304 da Rua das Laranjeiras, é uma construção do fim do século XIX. Comprada em 1892 pelo Conde João Leopoldo Modesto Leal, guarda no seu projeto original semelhanças com outros palacetes da cidade, como os locais onde hoje funcionam a Casa de Rui Barbosa e o Museu da República.

Reformada pelo arquiteto italiano Antonio Januzzi, que deu ao espaço um estilo eclético, ela é considerada hoje uma das únicas chácaras urbanas ainda existentes na cidade. A casa foi decorada pelo próprio Modesto Leal, com mobiliário e peças da belle époque francesa e telas do pintor Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo, que assina a pintura do teto da sala principal.

— Podemos ver que a casa guarda os padrões e hábitos de um grupo social da época. A construção de chácaras como essa marcou a expansão da cidade na metade do século XIX. Muita coisa permeou o bairro de Laranjeiras — explica Jorge Astorga.

No início do século XX, o Conde Modesto Leal era considerado um dos homens mais ricos do Brasil. Foi fazendeiro, ex-seminarista e banqueiro, além de senador. Pelos corredores e salões do palacete já figuraram personagens como o presidente Getúlio Vargas, o diplomata Afrânio de Melo Franco e Joaquim Osório Duque-Estrada, autor da letra do Hino Nacional. Recentemente, a casa sediou a edição da Casa Cor de 2010 e serviu de cenário para as novelas “Império”, “Amor à vida”, “A dona do pedaço” e “Amor de mãe”.

O Rio possui outras construções semelhantes ao palacete que ganharam novo uso. A mudança na função tem um ganho importante para a cidade, afirma Aníbal Sabrosa Gomes da Costa, sócio fundador da RAF Arquitetura e autor do projeto arquitetônico.

— Esse conceito é fantástico, porque você mantém a história do bairro, da arquitetura e traz a solução de que a cidade precisa. Temos, hoje, muitos casarões requalificados. Você constrói algo melhor, valoriza o bem tombado, que fica como um presente para a cidade.

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