O recorde da remoção de árvores no Rio e as incoerências urbano-cariocas

Em 2023, houve aumento significativo de 180% no número de autorizações para remoção de árvores em comparação com o ano anterior. No Rio de Janeiro, as 11.730 árvores retiradas marcam o maior índice em oito anos, sendo as Zonas Norte e Oeste as áreas mais impactadas, conforme levantamento feito pelo noticiário RJ-1.

A escassez de cobertura vegetal contribui para o aumento da sensação térmica, resultando na formação de áreas com temperaturas mais elevadas dentro da cidade como um todo, em cada região, bairro e rua. Fatores como poluição, superfícies de concreto, e construções a impedir a circulação dos ventos, e até o excesso de veículos, intensificam esse efeito. O carioca poderia prescindir das estatísticas e análises científicas. Sente a mudança na pele a cada ano.

Conforme destacado diversas vezes neste blog, nos últimos anos, sobretudo no Rio de Janeiro, o Chefe do Executivo e nossos parlamentares têm se dedicado intensamente a legislar para criar índices construtivos invariavelmente a maior, que resultam em mais adensamento ocupacional nos bairros e maior demanda por serviços e equipamentos públicos, entre outros impactos nem sempre positivos. A construção desenfreada é possivelmente fator preponderante.

A política de benesses com o aumento dos índices construtivos – que beneficia alguns poucos agraciados – vai no caminho oposto ao do progresso, da busca pela boa cidade, e do anunciado combate aos efeitos do aquecimento global. É virar as costas para a realidade e contribuir para a degradação da cidade.

É o planejamento urbano pelo avesso. Exemplos recentes são o projeto Reviver Centro, baseado no aumento dos gabaritos de altura especialmente nos outros bairros do Rio, as construções a caminho dentro da belíssima praça chamada Jardim de Alah, e o anúncio de um conjunto habitacional com 35 edifícios a ser erguido no terreno da antiga Estação Ferroviária Leopoldina. Nestes, por que não árvores, um parque, um bosque? É a história recontada sem limites nas últimas décadas.

Urbe CaRioca

Autorizações para remoção quase triplicam, e Rio derruba 32 árvores por dia em 2023

Portal G1 – Link original

Um levantamento exclusivo do RJ1 revela que, no ano passado, o número de autorizações para remoção de árvores na cidade do Rio cresceu 180%. Em 2023, foram retiradas 11.730 árvores em toda a capital, o maior número dos últimos 8 anos.

Com menos cobertura vegetal, regiões tendem a registrar temperaturas ainda maiores. Especialistas afirmam que o avanço do desmatamento e a urbanização acelerada têm provocado um fenômeno conhecido como ilhas de calor.

Os espaços de comunidade, das favelas, têm se destacado com temperaturas muito elevadas. São áreas geralmente com grupos sociais mais vulneráveis, com menos recursos financeiros.

Professor de geografia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Andrews Lucena monitora as transformações do clima no Rio de Janeiro há 25 anos.

“No caso aqui da cidade do Rio de Janeiro, poderíamos comparar a Zona Norte do Rio, que é uma área mais urbanizada, consolidada, e a Zona Oeste da cidade, que é uma área mais em processo de expansão urbana”, diz o especialista.

“Os bairros mais quentes são aqueles que estão margeando a Avenida Brasil, como a Penha, Ramos e Bonsucesso. Um outro grupo de bairros da Zona Norte, como Honório Gurgel, Rocha Miranda, Coelho Neto e Pavuna, também registrou um aumento.”

Zona Oeste: recorde de remoções

Nos últimos tempos, a Zona Oeste também entrou no radar de quem pesquisa o aquecimento da cidade. No ano passado, foi a região com o maior número de processos de remoção e de árvores derrubadas legalmente.

Rodrigo Bertoli, advogado e morador da Barra da Tijuca, faz parte de um grupo que tem se mobilizado para cobrar na Justiça mais transparência sobre os processos de licenciamento ambiental dos empreendimentos da região.

“O que me chamou a atenção foram esses processos de licenciamentos ambientais que foram expedidos aqui na região da Barra de uma maneira desordenada, com o crescimento de obras sem que se tenha observado a legislação ambiental em determinados pontos específicos da Zona Oeste”, fala Bertoli.

Licenciamento ambiental

O licenciamento ambiental é o instrumento pelo qual técnicos avaliam os impactos de uma obra na fauna, flora e no bem-estar das comunidades do entorno. É uma ferramenta essencial para aquilo que é definido como desenvolvimento sustentável.

A maior liberação registrada na região, ano passado, foi para a construtora Cyrela Empreendimentos, que foi autorizada a derrubar quase 1.200 árvores.

A planilha de controle da prefeitura, no entanto, não registra o endereço da obra.

“Queremos questionar como que está sendo feito esse processo de supressão e remoção de vegetação. Quais são os critérios? Para onde estão indo essas compensações? Por que determinadas leis não estão sendo observadas?”, questiona o vereador William Siri (PSOL), que tem o bairro de Campo Grande como o principal reduto eleitoral.

Em 2021, a forma como o processo de licenciamento ambiental é feito na cidade mudou: a subsecretaria responsável pelo assunto deixou a pasta do Meio Ambiente e passou a integrar a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Econômico.

Essa mudança foi e continua sendo muito criticada por moradores, ativistas e por quem acompanha as questões ambientais do município.

O que dizem os citados

A Prefeitura do Rio afirmou que as medidas compensatórias e as licenças são emitidas dentro da lei e que a compensação de árvores é maior que a remoção.

A prefeitura explicou, ainda, que é natural que o número de liberações para construções legalizadas aumente, por conta do combate às construções irregulares e da recuperação econômica da cidade. Segundo a prefeitura, o calor nada tem a ver com licenças ambientais emitidas dentro da lei.

A Cyrela Empreendimentos afirmou que fará três prédios no endereço que não aparece na planilha da prefeitura. Disse ainda que tanto as autorizações para derrubar árvores e vegetação quanto as licenças para as construções foram emitidas pelos órgãos do município. A construtora, porém, não explicou onde fica esse lugar.

Comentários:

  1. Um suicídio, uma vergonha, um descaso, uma tragédia anunciada. O prefeito, os vereadores e a quem mais pudermos sensibilizar, por favor, parem de permitir essa agressão ao meio-ambiente. A Natureza não merece, nós não merecemos.

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