Quando eu era criança – No Rio de Janeiro, um Parque de Diversões e a Praça do Congresso

Uma CrôniCaRioca no Dia das Crianças

Carrossel Parque Shangai, Penha, Rio de Janeiro. Imagem: Internet

Com uma postagem sobre um Parque de Diversões que fica na Zona Norte e intitula-se “O parque mais tradicional do Rio de Janeiro”, o geógrafo Hugo Costa – autor de vários estudos e artigos sobre a Zona da Leopoldina, transportou muitos, e a mim, à infância.

O Parque Shangai fica no Largo da Penha, bairro da Penha, nas proximidades da Igreja com o mesmo nome, famosa por sua escadaria com 382 degraus, que fiéis sobem de joelhos, pagando promessas. Ao ler sobre a história do Shangai, disponível no site Wikipedia*, descobri, com agradável surpresa, que o parque é muito antigo, e que eu era assídua frequentadora quando funcionava na Quinta da Boa Vista!

*Fundado em julho de 1919[2] (a empresa fundadora existe desde 1910)[2] como um parque itinerante, é considerado um dos primeiros parques temáticos do Brasil. Em 1934, o parque criou raízes e ocupou, por alguns anos, parte do terreno onde, hoje, está instalado o Aeroporto Santos Dumont. No início da década de 1940, mudou-se para a Quinta da Boa Vista, no bairro de São Cristóvão.[1] Em 1966, nova mudança, agora para o local em que se encontra atualmente. Em 1968, o parque foi desativado por um curto período devido à construção de três viadutos na região.[2] A sua melhor fase, ou os seus “anos dourados”, ocorreu na década de 1950. O declínio da sua clientela ocorreu na década de 2000 por causa do aumento da violência na região, em função de o parque estar localizado entre os complexos de favelas do Alemão e Penha. A partir de 2012, com a implantação das unidades de polícia pacificadora na região e a consequente diminuição da violência na região,[2] houve o retorno em massa dos frequentadores,[5] muitos deles turistas que visitam a cidade.[1] Em 2014, após a inauguração do BRT Transcarioca,[6] O Parque Shanguai passou a contar com mais esta opção de transporte às suas portas com a Estação Penha 2, conectando através da integração com o Metro RIo na Estação Vicente de Carvalho e da Integração com o Ramal Gramacho / Saracuruna na Estação Olaria com outras regiões do Rio de Janeiro.

Curiosa e já antevendo uma CrôniCaRioca para o Dia das Crianças, procurei nas fotografias antigas aquela onde – eu tinha certeza! – eu aparecia feliz com meu irmão em um carrinho, depois das brigas para saber quem ficaria ao volante. Adivinhem quem “dirigiu”? Encontrei a foto, mas a letra da Mãe CaRioca dizia que eu estava na Praça do Congresso! Seria na Quinta da Boa Vista?

Parque de Diversões na Praça do Congresso, Centro do Rio de Janeiro, em 1957. Urbe CaRioca, Acervo de família.

Intrigada, após buscas na mágica internet descobri que a Praça do Congresso ficava no Centro do Rio, resultado de um aterro construído entre a Rua Santa Luzia e o Passeio Público, conforme reportagem obtida no Acervo do Jornal O Globo com o título Em 1955, 36º Congresso Eucarístico fez do Rio a capital mundial do catolicismo / Prefeitura aterrou área da Santa Luzia ao Passeio Público para criar praça do evento. Futuramente seria parte do atual Parque do Flamengo. Portanto, o Congresso do título não era o que hoje frequenta as páginas policiais, e, sim, o 36º Congresso Eucarístico Internacional, realizado em julho de 1955. Eu era bem criança e dele só ouvi falar maiorzinha.

O encontro, como a reportagem destacava “disputadíssimo em todo o mundo”, motivou a realização de grandes obras, como a ampliação da adutora do Guandu e parte do aterramento do Flamengo, onde futuramente surgiriam o Parque do Flamengo e o Monumento aos PracinhasA primeira fase do aterramento, entre a Rua Santa Luzia e o Passeio Público, foi transformada na Praça do Congresso. Ali, em confessionários improvisados, fiéis de todo mundo podiam contar seus pecados e receber a absolvição. Para o Congresso, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida veio do Santuário de Aparecida do Norte de trem. (grifos nossos)

 

36º Congresso Eucarístico Internacional. Imagem: Internet

Do Parque no Centro surgiram algumas lembranças sobre passeios e churros deliciosos. Mas… E o Parque da Quinta da Boa Vista? Qual seria o Shangai que conheci? As datas encontradas são imprecisas: se o parque fora mesmo transferido para a Quinta na década de 1940 e para a Penha em 1966 (Wikipedia), em 1957 não poderia estar na Praça do Congresso! Teria que ser outro o dos churros, perto ou no local onde já estava sendo construído o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Anúncio Parque Shangai – Jornal Correio da Manhã, 15/12/1957

Mais uma vez a magia da internet pode ter solucionado o mistério.

No final do ano de 1957 o Parque Shangai promoveu atividades durante as festas do Natal e do Ano Novo tanto na Praça do Congresso quanto na Quinta da Boa Vista! Quando eu era criança, provavelmente fui aos dois! E não poderia imaginar que um dia memórias reavivadas juntariam o Centro, São Cristóvão e a Penha: o primeiro que me cativa desde menina; o segundo da Quinta e do Jardim Zoológico, Bairro Imperial onde caminharia décadas depois durante os estudos para criar a Área de Proteção do Patrimônio Cultural; o terceiro onde morava uma tia e onde, bem pequena, subia escadas da igreja, na imaginação, quando cantava “Ondina, Tá Chegando a Hora!”.

Não encontrei outras fotografias, mas achei o blog teldomar onde Tel Moreira conta sobre a chegada ao Rio com sua família na década de 1950 . No post Germinando 2 – Chegando ao Rio de Janeiro, fartamente ilustrado, passeios ao Parque Shangai, na Quinta da Boa Vista, em 1954.

Mais de um Shangai no Rio? Ou os brinquedos eram itinerantes, característica comum à atividade?

A verdade é que aquele parque fazia parte de uma infância longe de televisões e telefones celulares. Bem dizia a propaganda no Correio da Manhã em 15/12/1957: “O Parque Shangai dá ao povo a diversão que ele tanto necessita”. Bons tempos, com mais simplicidade e menos violência em uma cidade um pouco menos partida. A resgatar!

Urbe CaRioca

 

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