Andréa Albuquerque G. Redondo
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Encantei-me pelas palavras. Quando, não sei dizer. Só sei que cedo soaram sons sedutores… – isto é um tipo de rima, não sei qual -, … antes de conhecer a escrita. O som das palavras. Para ser agradável, deveria soar baixo, suave, grave. Passar serenidade. Aos ouvidos, com firmeza e doçura. Gritos e agudos, jamais.
Mais adiante, as letras do jornal. ‘O’, ‘G’, ‘L’… e por aí seguia.
Praia do Flamengo, 1951 – Imagem: Internet |
Fora o colégio, livrinhos, revistas em quadrinhos – gostava de Luluzinha, Bolinha, Pato Donald e Cia. Tinham uns livretos no jornaleiro que se chamavam Historinhas Semanais. O padrinho do meu irmão sempre levava de presente. Hoje ninguém fala “Vou ao jornaleiro”. Diz-se “Vou à banca”. Certo, é mais certo, mas quando eu ia ‘ao jornaleiro’ as ‘bancas eram pequenas, não os trambolhos que invadiram as calçadas da Urbe CaRioca.
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A Mãe Carioca dava livros. Monteiro Lobato infantil, uma paixão, muitos ensinamentos, viagens pelo Reino das Águas Claras, medo da Onça, os quitutes e o carinho da Tia Nastácia, a doçura de Dona Benta, que adotei por minha avó virtual, sem saber o que era virtual. E as fantásticas Caçadas de Pedrinho, que querem censurar, onde já se viu! Que bobagem!
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Depois de Monteiro Lobato, já adolescente, a Mãe Carioca me apresentou aos romances de Cronin. Ganhei uma coleção de biografias resumidas e outra sobre Arte. Comecei a xeretar as estantes: Emily Brontë, Charlotte Brontë. Machado de Assis só resgatei adulta. Veríssimo, Joaquim Manoel de Macedo e alguns outros, conheci graças ao colégio e também à minha madrinha que me emprestou a saga O Tempo e o Vento e apresentou-me a Stefan Zweig. Os Cambará e Amok são vagas lembranças. Paixão e Medo.
Palavras podem ser tão belas! Juntá-las, que difícil! Esforço-me, juro que me esforço, mas desisti de acertar o lugar das vírgulas e escolher entre mesóclise ou ênclise, ou… Como se chama mesmo o terceiro? Depois daquele ‘mas’ deveria entrar outra vírgula?
Houve uma reforma ortográfica. Década de 1970, talvez. Tiraram o acento diferencial, nunca entendi. Ora, se ele estava ali justamente para mostrar a diferença era mais do que necessário, na minha modesta visão. Era e não seria como escrevem o tempo todo no jornal, sempre no condicional. Explicaram que existia um pássaro chamado toda– ninguém conhecia -, e que, por isso, toda não precisava do acento. Sim, escrevia-se toda com acento circunflexo no ‘o’ – assim ‘ô’. Este sistema moderno em que digito e não ‘bato’ tira o ‘chapéuzinho’ automaticamente, não permite que eu escreva toda com acento… Ou seja, se não existisse o tal pássaro, toda ainda teria acento, quem saberá? Acho que raciocinaram pelo lado avesso.
Mexeram nos hifens, que horror! E na palavra hífens, também? O computador diz que não tem acento. Vou deixar assim. Sublinhei o que gostaria de ter escrito à moda antiga. Queria entender por que pôr, o verbo, ficou com o acento se é diferente de por, a preposição. Por que? Ou, Por quê? Para, per, perante, por.
Gosto da palavra ‘água’, é linda. Lembra vida, desde que não seja em excesso, é claro. Nada de enchentes na Serra, no Rio de Janeiro, em lugar nenhum, e maremotos que agora só chamam de ‘tsunami’. Gosto mais de ‘maremoto’, acho que porque era provocado pelo Celacanto, no tempo da Dona Amélia. Era inofensivo, acontecia só na televisão na série pré-adolescente do National Kid, o super-herói japonês. Hoje todo mundo fala ‘TV’ e National Kid é “cult”.
NATIONAL KID – Internet |
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Outra reforma ortográfica e lá se foram mais acentos! Ainda bem que meu nome não tem ‘i’ ou teriam confiscado o acento dele. Pelo que entendi Andreia com ‘i’ não leva mais o agudo. Que grave! Novas mudanças para ficar tudo igual aqui e em Portugal. Façam-me o favor, ora pois! A pronúncia é diferente e são tantas palavras com sentidos outros que seria possível fazer um dicionário português-português!
Fiquei em dúvida sobre que nome dar ao Blog.
Amanhã, 07 de setembro, seria aniversário Pai CaRioca. Na semana da Bienal do Livro, a CrôniCaRioca é uma homenagem a quem me ensinou os plurais, e dizer ‘privilégio’ sem trocar o primeiro ‘i’ por ‘e’, e à Mãe Carioca que não poupou esforços para despertar em mim o interesse pela leitura. Tê-los foi um privilégio. A homenagem não é excessiva.
Obrigada, Susan.
A gente dá o maior duro para aprender e, de repente, mudam tudo! Bj
Adorei! Também tenho saudades de alguns acentos, com excessão do trema!
Susan
Obrigada, Pat querida. Você me ensina muito mais!
bj
Andréa
Obrigada, Pat querida. Você me ensina muito mais!
bj
Andréa
Mais um texto delicioso! Homenageando meus queridos avós, que através de você propagaram a paixão pelo português a pelo menos mais uma geração!!!
Mil beijos,
Pat
Obrigada, Táti. Feliz por você ter gostado. POEME-SE está na minha lista de leituras agradáveis, interessantes, e instrutivas, é claro! Bj. Andréa
Amei sua experiência pelas letras e histórias.
Bjs,
Tati