Por Hugo Costa, geógrafo
Como muitos cariocas, seja na TV em horário nobre ou na internet, fui impactado pelo novo comercial da Prefeitura do Rio de Janeiro falando sobre os novos Parques Urbanos da Cidade do Rio de Janeiro. Se você por um acaso tenha sido um dos poucos cariocas que ainda não viu a peça publicitária, a Prefeitura do Rio montou um endereço na web exclusivamente para falar sobre isso, incluindo o vídeo de ampla divulgação:
parquescariocas.prefeitura.rio
Neste endereço e no vídeo, a mensagem é bem clara:
“Onde tem mais parque, tem mais vida.
Os novos parques do Rio estão mudando a vida de muitos cariocas. É mais verde, mais lazer e segurança para as famílias curtirem pertinho de casa, com ocupação de espaços vazios e preservação ambiental.”
E cita onde foram construídos os novos Parques do Rio:
1. PARQUE REALENGO SUSANA NASPOLINI, Local: Realengo;
2. PARQUE OLÍMPICO RITA LEE, Local: Barra Olímpica;
3. PARQUE OESTE; Local: Inhoaíba;
4. PARQUE MADUREIRA MESTRE MONARCO; Local: Madureira;
5. PARQUE CARIOCA PAVUNA, Área: Comunidade do Chapadão.
Assim como onde serão os próximos Parques da Cidade do Rio de Janeiro:
6. PARQUE PIEDADE, Local: Piedade;
7. PARQUE TERRA PROMETIDA, Local: Santa Cruz.
Esta peça publicitária é um desdobramento do esforço da Prefeitura em divulgar o que tem feito pelo meio ambiente e pela qualidade de vida na Cidade do Rio de Janeiro, principalmente na Gestão entre 2021 e 2024, como pode ser observado neste descritivo no site da Prefeitura:
“Nos últimos anos, o Rio de Janeiro ganhou novos parques e a população, espaços ao ar livre de lazer, esporte, cultura, educação e diversão em diferentes regiões da cidade. Essas áreas verdes ampliam a cobertura de vegetação e oferecem conforto térmico aos frequentadores, e melhoram a qualidade de vida dos cariocas. Na gestão 2021-2024 foram entregues ao público quatro grandes novos parques: Oeste, em Inhoaíba; Pavuna; Rita Lee, no Parque Olímpico, na Barra da Tijuca; e Realengo. Eles se juntaram ao já icônico Parque Madureira, inaugurado em 2012, e ao Parque Radical de Deodoro, construído para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.”
No ano de 2021, coincidentemente, também foi publicado um importantíssimo diagnóstico da Cidade do Rio de Janeiro que teve muito menos divulgação que o tema da construção dos Parques: o PDS – Plano de Desenvolvimento Sustentável e Ação Climática da Cidade do Rio de Janeiro. Apesar deste plano estar diretamente ligado ao tema de áreas verdes e de qualidade de vida dos cariocas, em momento nenhum ele foi vinculado na campanha sobre os Parques do Rio de Janeiro.
No diagnóstico do PDS, no que tange ao tema de Áreas Verdes, ele é taxativo sobre onde a Cidade do Rio de Janeiro deve se desenvolver. Consta no endereço eletrônico do documento, sem vídeos ou outras firulas, a seguinte frase:
“As RA’s com os menores percentuais de áreas verdes estão localizadas, majoritariamente, na Zona Norte da Cidade. Destaque para Pavuna, Penha, Ramos e Irajá.”
Fonte: areas-verdes | Plano de Desenvolvimento Sustentável e Ação Climática da Cidade do Rio de Janeiro
Fiz um esforço de montar um mapa conciliando a informação do diagnóstico do PDS de 2021 e o georreferenciamento dos Parques da gestão de 2021 a 2024 constantes na propaganda do governo, e este foi o resultado:
Sobre o mapa do diagnóstico de falta de áreas verdes do próprio PDS, marcadas em vermelho, estão as Regiões Administrativas da Cidade com menos áreas verdes do Rio. Já em laranja, estão os parques construídos pela gestão Eduardo Paes e amplamente divulgados na peça publicitária.
Não é necessário ser geógrafo para observar neste mapa que quase todos os Parques foram construídos nas Regiões Administrativas menos críticas em necessidade de construção de novas áreas verdes, de acordo com o próprio diagnóstico da Prefeitura do Rio. A única exceção é o Parque Pavuna, que podemos explorar um pouco mais:
O Parque Pavuna foi construído sobre uma antiga praça já existente na região, que apresentava sinais de abandono, como pode ser observado no Google Maps. Não representa assim uma “nova área verde”, mas sim uma reforma (muito necessária dito de passagem) da antiga Praça Rio das Ostras.
Mas no final das contas: é um Parque ou uma Praça? Segundo informações da própria Prefeitura, o novo Parque Pavuna tem 17 mil metros quadrados (Prefeitura do Rio inicia as obras do Parque Pavuna – Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro – prefeitura.rio). Uma praça, como por exemplo a Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, tem 23 mil metros quadrados. Então, o Parque, que era uma praça e foi reformada, é menor que uma praça de referência. Teoricamente não criou uma nova área verde, mas reformou uma existente e rebatizou de Parque.
Voltemos a um trecho muito interessante e importante divulgado pela Prefeitura do Rio e supracitado:
“Essas áreas verdes ampliam a cobertura de vegetação e oferecem conforto térmico aos frequentadores, e melhoram a qualidade de vida dos cariocas.”
E vamos também georreferenciar estes temas de calor e qualidade de vida na cidade do Rio de Janeiro:
É possível observar-se mais uma vez a urgência ambiental em dois bairros: Irajá, na região administrativa de Irajá, e Manguinhos, na região administrativa de Ramos.
Se há tantos diagnósticos tão precisos sobre o tema, o que move a estratégia ambiental da Gestão Eduardo Paes?