Neste artigo, publicado originalmente no site “A Sociedade em Busca do seu Direito”, a professora e jurista Sonia Rabello destaca, nesta semana, “com as mentes já distraídas e descontraídas pela folia”, três fatos significativos que agredirão mortal e moralmente o grau de sustentabilidade ambiental da Cidade do Rio: a demolição e a morte da Floresta de Camboatá, com suas 180 mil árvores, para construção de um hipotético autódromo de corridas de Fórmula 1 (e um enorme negócio imobiliário que o justifica).
Vale a leitura !
Urbe CaRioca
Rio de Janeiro desafia as recomendações da OCDE sobre sustentabilidade e quer derrubar a floresta urbana de Camboatá
Sonia Rabello – Link original
Nesta semana, véspera de Carnaval, com as mentes já distraídas e descontraídas pela folia, ocorreram três fatos significativos em relação a uma ação prenunciada e que mais tarde agredirão mortal e moralmente o grau de sustentabilidade ambiental da Cidade do Rio de Janeiro: a demolição e a morte da Floresta de Camboatá, com suas 180 mil árvores de Mata Atlântica, encravadas em um dos bairros mais quentes e pobres do Rio de Janeiro. E para quê? Para construir um hipotético autódromo de corridas de carros estrangeiros de Fórmula 1 (e um enorme negócio imobiliário que o justifica).
O assunto não morreu, apenas desapareceu, por algumas semanas das manchetes. Mas está de volta, com os fatos abaixo narrados:
1º fato: Foi pautado na reunião do dia 18/03/2020 da CECA – Conselho de Meio Ambiente do Estado do RJ – o Relatório de Impacto Ambiental, apresentado pela empresa RioMotor, conforme exigência da decisão judicial que mencionamos anteriormente neste blog. Não sabemos o que se passou na reunião, pois nada ainda foi noticiado no site do INEA (Instituto Estadual de Meio Ambiente). Ou seja, ainda insistem em dar continuidade ao projeto de extermínio da floresta.
2º fato: A Comissão de Meio Ambiente da Câmara do Rio pede “informações” ao Executivo sobre o “projeto do Autódromo”. Com o pedido de informações, enquanto não for respondido, o projeto de lei que visa autorizar a doação de parte do terreno público ao investidor imobiliário (RioMotor) do autódromo não pode ter prosseguimento. Talvez, sem quorum para não aprovar o projeto, o jeito é atrasá-lo o quanto possível. A preocupação está na pauta parlamentar.
3º fato: A OCDE (Organização para Cooperação para o Desenvolvimento Econômico) – prestigiada organização internacional para “boas práticas”, da qual o Brasil está implorando para fazer parte, acaba de publicar um Report, exatamente sobre “Sustainable Land Use” (Uso Sustentável do Solo)*, tudo visando as mudanças climáticas. Clicando no link, lá estarão as principais recomendações (POLICY HIGHLIGHTS), nas quais os planos de extinção da floresta urbana de Camboatá sob o pretexto de “desenvolvimento econômico” local causaria um verdadeiro choque de horror àquela instituição. Tudo contrariando ao que ali está recomendado para “boas práticas” de desenvolvimento.
Esquizofrenia política
Esquizofrenia política seria receber na OECD um país como o Brasil, sabendo que na sua prática, tanto o governo federal, como o do Estado do Rio de Janeiro e da Cidade do Rio, alimentam e festejam o prenúncio de uma destruição florestal urbana! Seria executar uma ação completamente contra as boas práticas de desenvolvimento econômico preconizadas pela Organização!
Claro, a OECD precisa saber disso imediatamente…
Para quem tem dúvida se a floresta urbana de Camboatá existe ou não, vale a pena ver o vídeo abaixo (Crédito: SOS Floresta do Camboatá) que deverá ser divulgado internacionalmente, não só junto à OCDE, mas também junto aos patrocinadores e pilotos da Fórmula 1, para todos saberem sobre crime ambiental que podem estar coonestando, com inocência ou não. Só para servir a desejos econômicos e políticos inconfessáveis de alguns poucos “brasileiros”.
(Crédito: SOS Floresta do Camboatá)
Abaixo-assinado
“Pela preservação da Floresta do Camboatá! Que o autódromo seja em outro lugar”
* Relatório da OECD:
Este relatório examina os desafios em andamento para alinhar a política de uso da terra com os objetivos climáticos, de biodiversidade e de alimentos, e as oportunidades para melhorar a sustentabilidade dos sistemas de uso da terra. Ele analisa seis países - Brasil, França, Indonésia, Irlanda, México e Nova Zelândia - com setores agrícolas e florestais relativamente grandes e emissões associadas de gases de efeito estufa, muitos dos quais também abrigam biodiversidade de importância global. Com base nas estratégias e planos nacionais relevantes desses países, coordenação institucional e instrumentos de políticas, o relatório fornece insights de boas práticas sobre como alinhar melhor os processos de tomada de decisão sobre o uso da terra e alcançar uma coerência mais forte entre uso da terra, clima, ecossistemas e alimentos.
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