Por Atilio Flegner
Um anúncio de obras por parte da Prefeitura, sempre me causa preocupação. Possuo um dos, se não o maior, acervo de mobilidade urbana particular aqui da Cidade e vi muitos absurdos no setor. Nos últimos anos aconteceram intervenções bastante prejudiciais ao Rio. Tivemos a implantação de um modal inadequado,que, logo no início, já apresentava sinais de saturação por falta de capacidade e problemas na execução da obra. O BRT, modal que já consumiu R$12 bilhões, não resolveu o problema dos gigantescos congestionamentos e superlotação.
Tivemos também uma ciclovia que caiu. No mundo todo, ciclovia é sinônimo de sustentabilidade, bem estar e mobilidade inteligente, mas no Rio foi sinônimo de morte. A ciclovia da Avenida Niemeyer, até hoje com diversos problemas no traçado e no piso.
A derrubada da Perimetral, apontada pelo prefeito como “sucesso”, pode ser atribuída apenas como um parcial resultado. Reconheçamos que o boulevard criado é uma área importante para o lazer e convívio. Mas no aspecto da mobilidade, toda a região ficou problemática. Talvez, o maldito “orgulho” não deixa que reconheçam os erros que persistem até hoje e as pontas mal resolvidas da intervenção.
A chegada na rodoviária é deveras complicada, a ponto de um percurso de dois quilômetros entre a Roda Gigante e a rodoviária levar absurdos 20 minutos. O túnel Marcelo Allencar está quase sempre congestionado na parte da tarde, bem como todo o entorno da rodoviária. A rampa do túnel sentido Zona Norte é demasiadamente íngreme, reduzindo a velocidade dos ônibus, o que mesmo em dias sem muito trânsito causa retenção do fluxo. Além disso, o semáforo no entroncamento da rodoviária com a Bicalho é um gargalo, que se agravou com a derrubada da Perimetral. Pois o elevado promovia a conexão da Zona Sul com a Ponte e Avenida Brasil sem semáforos.
Além dos problemas citados, que são provenientes da mal resolvida derrubada da Perimetral, ainda tivemos a construção do Terminal Gentileza e o abrupto encerramento do BRT TransBrasil naquele ponto. Lembrando que o projeto anterior previa que o BRT chegasse na Central. O VLT ainda corta, em nível, a Rua Equador, travando toda a região. E se já não bastasse a região ter uma lista de problemas e sofrer engarrafamentos diários, ainda querem colocar um estádio de futebol ali.
Esta semana surgiu mais uma dessas “ideias mirabolantes”, a derrubada do Elevado 31 de Março, importante conexão do Túnel Santa Bárbara com, justamente, a região da rodoviária, já tão prejudicada pelas intervenções citadas acima. O eixo, desde a Rua Pinheiro Machado, até a descida para a Avenida Presidente Vargas, no monumento ao Zumbi dos Palmares, fica extremamente congestionado, a ponto de uma viagem entre Botafogo e a Rodoviária (7,5km), que é feita em 12 minutos, sem trânsito, levar mais de 40 minutos no pico da tarde. Derrubar o Elevado e adicionar mais cinco interseções semafóricas, no já engarrafado Catumbi é, no mínimo, uma decisão inconsequente.
Todo mundo sabe, ou pelo menos todo mundo da área de mobilidade urbana deveria saber, que a solução para a região do Sambódromo é a conclusão da Linha 2 do Metrô, que, após o Estácio, teria estação no Catumbi, estação Cruz Vermelha, conectaria com a Linha 1 na Carioca – estação já pronta desde 1981 – e ligaria também a Praça XV.
Esse trecho do Metrô se faz importante não apenas para eliminar o gargalo do próprio sistema, que hoje opera com somente 30% de sua capacidade, mas também, conectaria o Sambódromo ao sistema metroviário, promovendo ainda a ligação com as barcas, na Praça XV. Esse é o projeto de mobilidade urbana mais urgente e que melhor atenderia a população, mas, infelizmente, um projeto propositalmente “esquecido”.
PS. Antes que apareça alguém dizendo “ah, mas o Metrô é do Governo do Estado”, ora, o próprio Sambódromo foi construído pelo Governo do Estado e hoje é administrado pela Prefeitura, bem como a Linha Vermelha. A Prefeitura essa semana mesmo assumiu dois hospitais federais. Essa troca de entes e parceria entre as esferas existe. No próprio Carnaval, prefeito e governador se unem para cantar juntos ao microfone, então por que não se unem em prol do metrô?
Atilio Flegner, Coordenador do movimento “Metrô que o Rio precisa”, Ex-Membro do Conselho de Transportes da Prefeitura do Rio de Janeiro e Ex – Coordenador de Gestão de Rede de Ônibus da Prefeitura do Rio de Janeiro