Ai de Ti, Copacabana

Por Claudia Madureira, arquiteta e urbanista, aposentada da PCRJ

 

Foto: Márcio Alves / Agência O Globo

Copacabana parece ter saído de uma zona de guerra, onde dormem e erram famintos zumbis que reviram montes de lixo, sempre esparramado pelas calçadas. Estas parecem ter sofrido bombardeios, de tantos buracos e remendos. Entre tudo e todos, camelôs.

Neste cenário pós- apocalíptico, lojas se transformam em tendas pobres, ou são fechadas. Agências Bancárias abandonam suas instalações com a expansão dos serviços digitais e se oferecem como novos pontos comerciais, inutilmente. Farmácias surgem a cada dia, quatro, cinco por quarteirões, e se mantêm vazias, sugerindo estranhas atividades.

Junto ao mar, na calçada, quiosques se fecham com muros de plantas sobre vasos altos e privatizam a visão da praia, em meio a sons tão altos que escondem os ruídos do mar. Entre os quiosques das calçadas, nas areias, barracas informais de aspecto confuso, se multiplicam e formam um paredão que impede a visão do mar aos pedestres no calçadão, vendendo bebidas, alugando cadeiras e guarda-sóis em péssimo estado.

Ai de ti, Copacabana.

Obrigada, Eduardo Paes, por ajudar a transformar a princesinha do mar num favelão, por permitir que a PM estacione irregularmente e afunile uma das vias de ligação mais importantes, por seu total desinteresse pelo bairro que tem a maior concentração de hotéis da cidade.

Obrigada, Eduardo Paes pela ausência de carinho pela cidade, por usar Copacabana à revelia de seus moradores, trazendo milhões de visitantes como bem entende, atraídos por shows de Madona, Lady Gaga, réveillons servidos cada vez mais por um número maior e de duração mais extensa de shows nas areias da praia. No bairro que concentra mais idosos na cidade, com 3 hospitais que ficam com acesso quase impossível, arrisca-se sem piedade a vida e a paz de seus moradores. Por que em Copacabana, sempre? Por que tamanho desprezo?

Uma cidade bem tratada produz seres polidos. O Rio de Janeiro foi abandonado. A população de indigentes, somada à falta de regularidade no horário do recolhimento do lixo, e os roubos e quebras destas caçambas faz de Copacabana um depósito horroroso de dejetos sobre calçadas que a cada obra de infraestrutura se consolidam como colcha de retalhos esburacada.

Ai de ti, Copacabana.

Praças desaparecem sob construções de metrô, escolas, teatros, suas árvores desabam sem as podas apropriadas. Seus jardins se enchem de lixo.

Ai de ti, princesinha do mar, que um dia foi dos pescadores, transformada em balneário chique, que hoje serve a multidões que sugam suas belezas, que não lhe ouvem a súplica por sossego e simplicidade, nem o ronco surdo das ondas que batem sobre a areia branca da praia.

Ai de ti, Copacabana.

Rio de Janeiro, 26 de abril de 2025.

Comentários:

  1. Poderia ser pior!!

    Existe uma cidade orgânica, que nada pode se opor. História, Planejamento urbano, economia, turismo, segurança, emprego e renda, e VOCAÇÃO.
    Não existe político ideal e perfeito. A sociedade não é.
    Mitigar seria o caminho, e isso se faz.
    E as propostas, como ficam, onde estão?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *