A imagem de projeto para a construção de um “novo museu” na cidade do Rio de Janeiro, onde funciona o Espaço Cultural da Marinha, publicada ontem (OG, coluna Ancelmo Gois) já causa polêmica nas redes sociais, em especial observações do grupo S.O.S. Patrimônio.
A proposta cria um volume inteiriço de linhas simples e elegantes, que parece “embrulhar” o prédio existente e a base que o sustenta. Mas, a nota sugere tratar-se de construção nova, projeto arquitetônico que visa criar o Museu Marítimo do Brasil.
O prédio atual resultou de uma reforma nas antigas Docas da Alfândega do Porto do Rio, em 1996, cujo projeto poderia até ser questionado. Entretanto, o molhe de pedra – base onde está apoiado – parece ser o mesmo cuja construção teve início em 1853 (v. Cronologia em Um Porto para o Rio, org. Maria Inez Turazzi) e que pode ser visto na foto de Marc Ferrez* de 1885. Retirá-lo da paisagem é objeto de absoluto questionamento.
O Cais dos Mineiros está no Mapa arquitetural da cidade (1874) de Rocha Fragoso, consultado em Dos Trapiches ao Porto, de Sérgio Tadeu de Niemeyer Lamarão e em diversas fotografias e desenhos antigos.
Independentemente de qualquer outra questão, a tratar-se de um molhe de pedra com mais de 150 anos, a tentativa de escondê-lo deve ser, no mínimo, debatida, se não descartada de vez. Ou o patrimônio cultural da cidade ficará restrito a fotografias em livros.
E você, leitor, o que pensa a respeito?
Urbe CaRioca
NOTA:
Está na Ordem do Dia de amanhã – quarta-feira, dia 22 de março, às 15h -, em primeira discussão o Projeto de Lei nº 1883/2016 que DISPÕE SOBRE O SISTEMA DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
Este Projeto de Lei foi escrito com a participação da Sociedade Civil, em especial do grupo S.O.S. Patrimônio, articulado no Grupo de Trabalho Situação do Patrimônio, desta Comissão.
A Sessão Plenária é aberta a todos os interessados, militantes e ativistas do tema. (https://www.facebook.com/events/242892272785068/)
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A mesma fotografia de Marc Ferrez foi colorida e faz parte do livro Rio, Pena e Pincel, de Leonel Brayner, Heloisa Seixas e Ruy Castro.
Eu restaurava o trapiche e colocava o material histórico dentro. O projeto, se é este é horroroso. Tiraram o monstro da perimetral e querem colocar uma assombração.
Muito boas colocações! Eu acrescentaria: o projeto feito foi gratuito, ou pago? Se pago, quanto foi pago? Por quem?
Boa!!!!!
Prezado André Alvarenga, sugiro mandar sua ótima mensagem para a coluna Ancelmo Gois, no O Globo. Acredito que seja nota "plantada" justamente para conhecerem a reação das pessoas. Atenciosamente
Pelo bem da Cidade e para que o leitor possa avaliar melhor a questão peço ao jornalista que apure e nos informe:
1. Quem pagará pela obra;
2. Qual o sócio privado da Marinha nesse projeto;
3. Qual o programa completo do empreendimento (envolve lojas, restaurantes, auditórios, salas de eventos?);
4. Qual foi o processo de escolha do arquiteto, pois obra pública requer licitação ou concurso;
5. Se o projeto conta com a anuência dos órgãos de patrimônio;
6. Qual o impacto de um edifício dessa altura no entorno, que conta com inúmeros bens tombados ou preservados (Candelária, Casa França-Brasil, CCBB, Ministério da Marinha, Igreja e Mosteiro de São Bento, Corredor Cultural, etc.);
7. Qual a extensão do projeto (envolve os edifícios do Tribunal Marítimo, 1º Distrito Naval, antiga maternidade, cais do mercado?).
Pois é muito feio o papel de divulgador de teasers publicitários de empreendimentos privados ocultos …